Mais de 80% dos acionistas da química Dupont votaram a favor de uma proposta que pede por mais transparência sobre seu papel na poluição plástica, batendo de frente com a direção da companhia na assembleia anual.
Foi o maior nível de adesão dos acionistas a uma proposta ambiental que contava com a oposição da administração da empresa — num dos sinais mais contundentes de apoio de investidores às pautas ESG.
Os acionistas votaram a favor da divulgação de relatórios periódicos mensurando o quanto de plástico a companhia joga no ambiente, e avaliando a efetividade das políticas para evitar que esse tipo de poluição aconteça.
A proposta foi feita pela ONG As You Sow.
A Dupont é uma das maiores produtoras do mundo de pellets, pequenos grânulos de resinas que servem de matéria-prima de diferentes tipos de plástico.
Estima-se que os pellets sejam a segunda maior fonte direta de poluição por microplásticos no oceano, principalmente por conta dos produtos que acabam se perdendo durante o processo de transporte ao longo de toda a cadeia de suprimentos.
“O voto confirma a onda de apoio dos investidores para confrontar a crise global da poluição plástica”, disse Conrad MacKerron, vice-presidente da As You Sow, em nota.
Os investidores da companhia votaram por uma margem ainda maior, de cerca de 84%, a favor de que a Dupont publique dados sobre diversidade de seus empregados.
Até agora, a temporada de assembleia dos Estados Unidos vem mostrando resultados mistos quando o assunto são as pautas ESG.
Numa das batalhas mais blockbusters do mercado, a Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, conseguiu bloquear a proposta para que a companhia desse mais transparência aos riscos climáticos do seu amplo — e descentralizado — portfólio.
Mas, desta vez, 25% dos acionistas foram contra a recomendação de Buffett e votaram a favor da proposta. À primeira vista, o número pode parecer pequeno, mas no contexto da Berkshire, é relevante.
Com uma estrutura de super voting shares, Buffett controla um terço da holding e tem uma grande ascensão sobre a ampla base de acionistas de varejo que seguem o ‘oráculo de Omaha’.
A título de exemplo, em 2014, uma proposta que pedia a distribuição de dividendos, e à qual a Berkshire se opôs, contou com o apoio de apenas 3% da base acionária.
A companhia já recebeu várias propostas pedindo por transparência climática nos últimos anos, mas todas vieram de investidores individuais — cujo apoio nunca chegou à casa dos dois dígitos.
Neste ano, o pleito veio de grandes investidores institucionais, liderados pelo Calpers, o poderoso fundo de pensão dos funcionários públicos da Califórnia.
Ainda na frente climática, todos as atenções estão voltadas para a assembleia anual da Exxon, marcada para 27 maio. O Engine 1, um hedge fund de US$ 250 milhões, lançou uma campanha ativista propondo mudanças drásticas, como um compromisso de neutralização de emissões de carbono, diversificação de fontes de energia e um novo conselho.
Na ocasião, será votada a reeleição (ou não) do atual conselho.
O Engine 1 já tem apoio de investidores de peso, como o Calpers e o Calstrs, que administra os fundos de pensão dos professores californianos.