Sabesp é a primeira ‘ação verde’ da B3

Empresa de saneamento paulista recebe selo que indica modelo de negócios comprometido com a economia de baixo carbono; B3 é a terceira do mundo a adotar designação

Reservatórios da Sabesp
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A empresa de saneamento paulista Sabesp é a primeira empresa cujos papeis recebem a designação de “ação verde”, um carimbo concedido pela B3 para companhias que contribuem para uma economia de baixo carbono.

O selo, recém-criado, é concedido para companhias que têm mais de 50% da receita bruta anual provenientes de negócios verdes, bem como mais de 50% dos investimentos e despesas operacionais com a mesma classificação. Um terceiro requisito é que menos de 5% do faturamento bruto venha de combustíveis fósseis.

A designação é voluntária e depende de uma avaliação anual por uma consultoria independente credenciada pela B3. No caso da Sabesp, ela foi realizada pela S&P Global Ratings.

Os critérios são os mesmos aplicados por duas bolsas que aplicam selos similares, a London Stock Exchange e a Nasdaq Nordic, que inclui os mercados de Suécia, Dinamarca, Finlândia e Islândia.  

A ideia é análoga aos instrumentos de dívidas sustentáveis, como green bons ou sustainability bonds, segundo Cesar Sanches, superintendende de sustentabilidade da B3.

“Mas um green bond se baseia em projetos e tem use of proceeds [os recursos são carimbados para um uso específico]. No caso das ações verdes, olhamos para a empresa em si, para o modelo de negócios”, afirma Sanches.

As regras da B3 seguem os princípios da World Federation of Exchanges. A associação, que reúne as principais bolsas do mundo, divulgou no ano passado uma lista de diretrizes para a designação de ações verdes.

A Sabesp está às vésperas venda de ações do governo do paulista que vai efetivar o fim do controle estatal, mas o novo selo não está relacionada diretamente com a privatização, diz Virgínia Ribeiro, superintendente de sustentabilidade e governança corporativa da empresa.

Na operação de privatização não haverá venda de novas ações, já que a companhia optou por não fazer um aumento de capital agora, o que poderia reduzir o apetite pelos papéis do governo.

“Acreditamos que [o selo] possa agregar valor independentemente da configuração jurídica que a empresa venha a ter”, afirma Ribeiro. “Ele vai demonstrar confiabilidade e demonstrar transparência.”

Ela aponta também a criação da área de sustentabilidade com reporte direto ao CEO, André Salcedo, e o novo relatório de sustentabilidade em linha com a TCFD – considerada o padrão-ouro para esse tipo de divulgação – como sinais do compromisso da companhia.

Visibilidade

Por causa de sua área de atuação, a Sabesp não teve dificuldades para atender aos requisitos do selo ação verde.

De acordo com a avaliação da S&P Global Ratings, 100% das receitas e dos investimentos de capital da empresa são voltados a ações que promovem a economia verde. Já nas despesas operacionais, 96% foram enquadradas na mesma classificação.

Inversamente, uma companhia como a Petrobras não conseguiria a designação. Sanches, da B3, afirma que o objetivo do programa é que as empresas elegíveis possam ficar mais visíveis para os investidores que têm a sustentabilidade entre suas teses.

“Queremos ajudar a ampliar a base de investidores para as companhias que têm esse modelo de negócio, e ao mesmo tempo reduzir o risco de greenwashing”, afirma o executivo.

“O investidor já consegue determinar as dívidas verdes que tem no seu portfólio. Agora isso também vai estar disponível para ações”, diz Ribeiro, da Sabesp.

A designação da B3 será mais um instrumento entre as várias avaliações de companhias abertas, especialmente do ponto de vista climático.

Iniciativas que avaliam em detalhe os compromissos net zero das maiores corporações globais, e outros que focam em setores específicos, como o de proteínas animais.

Ainda é cedo para saber se o selo verde da B3 vai cair no gosto das companhias e dos investidores e causar o tipo de efeito esperado pela bolsa brasileira. 

A primeira bolsa a criar um rótulo semelhante ao adotado pela B3 foi a de Londres, em 2019. Hoje, mais de 110 companhias e fundos, com um valor de mercado combinado de cerca de US$ 220 bilhões têm o “green economy mark”, nome dado ao selo. A London Stock Exchange tem cerca de 1.900 empresas listadas, com um valor de mercado que supera os US$ 4 trilhões.