A 3M chegou a um acordo prévio de pelo menos US$ 10 bilhões para evitar ir a julgamento por contaminação de água causada pelos chamados “químicos eternos”, segundo noticiou a Bloomberg.
Mas os problemas jurídicos da empresa e de outras gigantes químicas com essas substâncias, conhecidas pela sigla PFAS e muito usadas em produtos como panelas antiaderentes e lubrificantes, estão só começando.
A 3M enfrenta uma série de ações na Justiça relacionadas à contaminação com per e polifluoroalquil, um tipo de composto que não se decompõe naturalmente e pode se acumular no solo, na água e no corpo humano.
Só os custos de limpeza dos locais atingidos chegariam a US$ 143 bilhões, de acordo com uma estimativa da empresa de pesquisas CreditSights.
O valor é quase três vezes superior ao valor de mercado da 3M e não inclui eventuais compensações decorrentes de ações coletivas. Os PFAS são associados a diversos tipos de câncer.
A exposição a indenizações bilionárias é uma das explicações para a queda das ações da 3M nos últimos anos. As ações da empresa caíram 60% desde o pico de janeiro de 2018, perdendo mais de US$ 100 bilhões de valor de mercado.
“Me perguntam: ‘estamos em quantos minutos de jogo?’”, disse à Bloomberg a analista Deane Dray, da RBC Capital Markets, falando sobre os riscos jurídicos. “Ainda nem saímos da pré-temporada. A ação pode ficar ininvestível.”
O acordo assinado pela 3M diz respeito a um caso que consolida cerca de 4000 queixas contra a companhia. O pagamento dos US$ 10 bilhões, que depende de aprovação do conselho, diz respeito a processos de empresas municipais de tratamento de água.
Não estão cobertas ações movidas por governos estaduais relacionadas a contaminação de rios e danos a propriedades privadas.
PFAS por toda parte
A 3M nega que os PFAS representem ameaça ao ambiente e à saúde. A companhia anunciou em dezembro passado que vai deixar de produzir os “químicos eternos” em 2025 por causa da “aceleração das tendências regulatórias”.
O negócio gera receitas anuais de US$ 1,3 bilhão para a empresa, de um faturamento total de US$ 34,2 bi. A 3M utiliza PFAS há mais de 70 anos.
Além de matéria-prima de produtos como graxas e lubrificantes, os PFAS fazem parte da vida diária de bilhões de pessoas ao redor do mundo.
Um uso típico é no revestimento de embalagens para evitar absorção de gordura ou como agente impermeabilizante.
Essas substâncias resistem a altas temperaturas e não são biodegradáveis, o que significa que elas permanecem no meio ambiente por décadas.
PFAS já foram identificados inclusive em alimentos plantados em solos contaminados.