Fleury cria 'Netflix da saúde' para usuário do SUS e busca protagonismo em ESG

Rede de laboratórios cria serviço por assinatura e atrela remuneração de executivos a metas sociais, ambientais e de governança

Fleury cria 'Netflix da saúde' para usuário do SUS e busca protagonismo em ESG
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Depois de fazer alguns ensaios, o Fleury dá agora um passo mais ousado na direção de se tornar cada vez menos o laboratório exclusivamente da elite. A partir de janeiro, a rede colocará no mercado um serviço de saúde por assinatura.

O preço só será revelado no lançamento, mas o conceito é o seguinte: por um valor fixo mensal, o cliente tem acesso a uma quantidade limitada de consultas por telemedicina, uma quantidade limitada de atendimentos de atenção primária, alguns poucos exames e desconto em outros que não estão incluídos no pacote.

“O Fleury ainda atinge uma parcela muito pequena da população em termos de base de clientes e temos um potencial imenso, principalmente com tecnologia, para poder impactar cada vez mais pessoas em todas as regiões do Brasil com saúde e excelência”, disse Márcio Mendes, presidente do conselho de administração do Fleury, em conversa com o Reset.

A novidade foi anunciada na manhã desta segunda no Fleury Investor Day e veio acompanhada de um ‘pacote ESG’. “Cada vez mais queremos nos posicionar como um dos líderes em ESG no Brasil”, diz Mendes.

Segundo Carlos Marinelli, CEO do Fleury, o produto por assinatura é uma parte dos negócios B2C – diretamente para o consumidor – que o grupo planeja e que integram a nova empresa criada com o nome de Saúde iD.

“Muitas vezes, os 160 milhões de brasileiros que estão no SUS têm uma parcela de renda que lhes permitiria acessar a saúde privada se existisse um produto que tornasse isso acessível”, diz Marinelli.

Para dar uma ideia do conceito e da diferença de preço pretendida em relação aos planos de saúde, ele faz um paralelo entre a TV por assinatura e os serviços de streaming.

“Tem muita gente que não tem condições de ter a NET, mas paga o Netflix. Da mesma forma que no entretenimento essas mídias digitais tornaram o conteúdo mais acessível, queremos tornar a saúde mais acessível, para quem queira complementar o que já tem ou para quem não pode pagar o plano de saúde.”

A intenção é que o assinante utilize o Fleury para resolver 99% das questões de saúde, que são menos complexas, e recorra ao SUS em situações mais graves.

Marinelli acredita que um serviço desses pode ser transformacional. “Em vez de perder um dia de trabalho ou ficar agoniada porque está esperando uma consulta agendada, a pessoa pode resolver isso pelo digital, pelo celular, no wi-fi de casa.”

Ao mesmo tempo que o novo posicionamento diz respeito à democratização do acesso à saúde e de gerar impacto social positivo, se der certo, abre uma nova frente de crescimento para uma empresa que, sem a tecnologia, estava restrita a atender um público muito menor e com receita bastante dependente dos planos de saúde.

O grupo já vinha sinalizando ao mercado nos últimos meses que, com a covid acelerando exponencialmente a tendência de digitalização dos serviços de saúde, aceleraria seu posicionamento como um provedor de soluções de saúde para além da medicina diagnóstica, entre os convênios médicos e os hospitais. Hoje também foram anunciados um centro de medicina reprodutiva e uma plataforma de cursos on-line.

ESG da porta para dentro

O novo posicionamento no mercado chega acompanhado de um trabalho feito da porta para dentro nas frentes socioambiental e de governança.

“Queremos alinhar as três frentes de ESG à construção das diretrizes estratégicas de longo prazo e incorporar a mentalidade não só na relação com os médicos, mas com os nossos fornecedores”, diz Marcio Mendes.

Em janeiro, será criado um comitê ESG de assessoramento ao conselho de administração. O escopo preciso e a composição desse comitê estão sendo desenhados com ajuda de uma consultoria externa, mas a tendência é que seja coordenado por uma pessoa de fora do grupo. 

“O comitê executivo será um passo muito concreto. São poucas as empresas no Brasil que têm esse fórum exclusivo.”

Para alinhar os executivos e envolver as pessoas, a partir de 2021 parte da remuneração variável do grupo será atrelada a metas socioambientais e de governança. Os indicadores de desempenho que serão usados ainda estão sendo definidos, assim como o tamanho da fatia da remuneração que ficará condicionada aos fatores ESG, mas a tendência é que o peso seja de, no mínimo, 10%.

Um terceiro item do pacote é que o grupo acaba de assinar dois contratos para construção de usinas de energia solar. “Com isso, até o fim de 2021, dois terços de toda a energia que utilizamos em nossas 117 unidades virá de fonte renovável”, diz Mendes.

Agora, 43% da energia utilizada pelo grupo já vem de fonte renovável e é adquirida no chamado mercado livre. Com os dois contratos, firmados com as empresas GreenYellow, do Rio, e Voltxs, de São Paulo, outros 25% do fornecimento serão adicionados a essa conta.

“Além de todo o benefício ambiental, nosso custo final será inferior ao que gastamos hoje”, diz Carlos Marinelli. A estimativa, que pode variar de acordo com a base tarifária, é de economia de R$ 30 milhões em dez anos.