A Eneva anunciou nesta terça-feira a compra de seis usinas geradoras térmicas do BTG por R$ 2,9 bilhões – três a gás e uma a óleo diesel no Espírito Santo e outras duas a diesel no Maranhão – e um follow-on de R$ 4,2 bilhões.
Na prática, a operação faz com que a empresa se torne a única plataforma do banco para geração de energia e de gás natural. Ao combinar pagamento em dinheiro e em ações, também abre caminho para que o BTG eventualmente dobre seus atuais 23% de participação acionária na companhia.
A empresa vai incorporar integralmente os ativos capixabas Tevisa e Povoação, 50% do Gera Maranhão, que pertenciam ao BTG, e 100% de Linhares, até então controlado por um fundo de investimento da gestora do banco.
“Se esse portfólio tem alguma chance de ser convertido a gás, essa chance é muito maior dentro da plataforma Eneva do que jamais teria sido em qualquer outra plataforma”, disse o CEO da Eneva, Lino Cançado, em teleconferência com os acionistas no fim da manhã.
A troca da fonte energética seria um passo para a redução das emissões de gases de efeito estufa. A Eneva, maior produtora de gás natural em terra no Brasil, aposta nessa fonte como o “combustível da transição”, um passo intermediário até uma matriz inteiramente limpa.
O projeto Gera Maranhão, por exemplo, está perto de pontos de acesso ao gás, observa o executivo. “Seja através das nossas reservas proprietárias, na Bacia do Parnaíba, seja através do desenvolvimento do terminal GNL (gás natural liquefeito) de São Luís, no qual a Eneva já trabalha há algum tempo”.
As térmicas no Espírito Santo, por sua vez, estão próximas à malha de gasodutos da Transportadora Associada de Gás (TAG) – que lidera esse tipo de infraestrutura no país –, disse Cançado.
Com a integração dos ativos de geração de eletricidade, a empresa vai acrescentar 0,9 GW de capacidade instalada e chegar a 7,2 GW totais. Como comparação, a hidrelétrica de Itaipu tem capacidade de 14 GW.
No ano passado, 80% da eletricidade gerada pela empresa veio do gás natural e 10% do carvão, o que correspondeu a 66% e 5%, respectivamente, das suas emissões diretas de gases de efeito estufa. Os 10% restantes da eletricidade vêm de fontes renováveis.
O compromisso da Eneva é encerrar suas atividades nas térmicas a carvão que possui até 2040, localizadas em Pecém (CE) e Itaqui (MA).
A operação
O anúncio também veio acompanhado da divulgação de R$ 4,2 bi em oferta de ações da Eneva. Do montante, R$ 3,2 bi têm 100% de garantia do BTG e R$ 1 bi foi apresentado como lote adicional, caso haja demanda. O preço da ação será ancorado em R$ 14 – mais de 5% sobre o valor no fechamento ontem, de R$ 13,25.
As usinas Viana (a óleo) e Viana 1 (a gás), da unidade de Tevisa, e a Povoação (a gás) serão compradas com R$ 1,765 bilhão em ações da Eneva. Já as usinas de Linhares (gás) e as duas de Gera Maranhão (óleo) serão adquiridas com os recursos do follow-on.
Além do BTG, a operação será coordenada pelo Itaú BBA e Bradesco BBI.
A entrada dos ativos deve permitir a geração de caixa no curto prazo para a companhia, em paralelo a seu período mais intensivo em gastos de capital, de acordo com apresentação dos executivos. Vai permitir ainda que a empresa reduza sua alavancagem da dívida sobre EBITDA de 4,1x para 3x, disse Felippe Valverde, head de relações com investidores e M&A da Eneva.