BIS propõe 'rating verde' corporativo para ir além dos green bonds

Rótulo de intensidade de carbono para empresas, e não para os títulos de dívida, daria mais incentivo a metas de descarbonização, diz paper do 'banco central dos bancos centrais'

BIS propõe 'rating verde' corporativo para ir além dos green bonds
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Um paper publicado por analistas do Bank for International Settlements (BIS), o ‘banco central dos bancos centrais’, sugere a adoção de um rating verde a ser aplicado para as empresas, baseado na intensidade das suas emissões de carbono.

Segundo eles, essa seria uma forma de dar um sinal mais útil para os investidores e encorajar as empresas a reduzir sua pegada de carbono, contribuindo de forma mais concreta para os objetivos de descarbonização previstos pelo Acordo de Paris. 

Num paper publicado pela Quarterly Review, do próprio BIS, Torsen Ehlers, Benoit Moon e Frank Packer argumentam que até agora os projetos financiados por green bonds não se traduziram necessariamente em emissões de carbono menores por parte das firmas. 

Isso acontece pela própria natureza dos green bonds. Neles, por definição, o uso dos recursos é carimbado para projetos que gerem efeitos ambientais positivos. 

Em primeiro lugar, essa adicionalidade não necessariamente está ligada à redução da emissão de gases de efeito-estufa. Em segundo lugar, mesmo que esteja conectada a corte de emissões, ela se dá no nível do projeto — e nada garante que essa redução não possa ser compensada negativamente por outros negócios da companhia. 

Os autores não descartam a validade dos green bonds, mas propõem o ‘rating verde’ como um esquema adicional e complementar para dar mais transparência e simplicidade ao mercado e aos investidores.

“Ela poderia ser complementar a outros esforços para requerer que emissores de green bons publiquem relatórios de impacto padronizados, que podem incluir reduções de emissão de carbono já atingidas (ou esperadas).” 

Intensidade de emissões de CO2

Colocar o foco nas emissões de gases por parte das empresas hoje é possível graças à melhora na divulgação de dados ambientais, argumentam os autores. Eles dizem que os dados sobre a intensidade de carbono — nesse caso, o quanto uma empresa lança na atmosfera por unidade de receita — se tornaram disponíveis para a maioria das empresas listadas. 

Aqui mora um dos desafios. Há cada consenso sobre como medir os chamados escopo 1 e 2, que incluem as emissões produzidas na própria atividade da companhia e a energia utilizada por ela. Mas ainda há bastante debate sobre as medições de escopo 3, que inclui toda a cadeia de valor, do fornecedor ao consumidor. 

Apesar de não ter um sistema pronto, os autores afirmam que o  ‘rating verde’ deveria ter três grandes objetivos.  Primeiro, dar incentivos adicionais para que as companhias contribuam para o atingimento de metas climáticas como aquelas que estão no Acordo de Paris. 

Segundo, ajudar os investidores no processo de tomada de decisão, particularmente aqueles que não tem recursos para fazer suas próprias due diligence verdes em relação aos projetos que são financiados pelo títulos rotulados.

E terceiro permitir que investidores, reguladores e formuladores de políticas possam checar o progresso das empresas e verificar se os efeitos desejados de mitigação de mudança climática foram alcançados. 

Os analistas do BIS apontam que as organizações que hoje constroem, coletam e verificam dados de emissão de carbono “poderiam estar em posição privilegiada para prover um rating desse tipo a um custo potencial baixo”.

Os autores destacam ainda que a metodologia não leva em conta outros objetivos verdes, como biodiversidade, uso mais eficiente de água ou adaptação climática. Mas dizem que alguns dos princípios — em particular o foco em métricas simples e baseada em resultados — podem ser aplicados a outros objetivos ambientais. 

Os dois lados da moeda

O uso de intensidade de carbono como uma medida de eficiência é relativamente controverso — e dá uma foto com ângulo um tanto quanto restrito. 

Por um lado, a métrica permite a comparação entre empresas do mesmo setor e é bastante relevante para mercados desenvolvidos e setores maduros, nos quais não há grande expectativa de crescimento de volumes e demanda. 

Por outro lado, uma empresa pode reduzir a intensidade de carbono dos seus produtos e processos produtivos, mas aumentar muito a produção. Com isso, o efeito prático seria o aumento, ou uma redução muito menos sensível na suas emissões absolutas de carbono. 

Além dos green bonds

A ideia dos ratings verdes conversa, de certa forma, com a essência dos ‘sustainability-linked bonds’ (SLB), em que os juros da emissão estão ligados a objetivos corporativos gerais, em vez de atrelados a projetos como nos títulos verdes. 

A brasileira Suzano lançou um dos primeiros SLBs do mundo, com pagamento de juros atrelado a metas corporativas de redução da intensidade de emissões nos escopos 1 e 2, que envolvem os gases estufa emitidos durante o processo fabril. 

O título com vencimento em 2031 saiu com o menor juro da história da companhia.