Ninguém mais se surpreende. Você piscou e a Ambipar comprou mais uma empresa.
Mas uma aquisição em particular, anunciada há 15 dias, tem a pretensão de representar um marco na internacionalização da Response, a unidade de prevenção e resposta a acidentes industriais e ambientais — além de pavimentar sua listagem na New York Stock Exchange (Nyse).
O alvo foi a americana Witt O’Briens, ou WOB, uma líder global em gestão de crises e emergências, comprada por US$ 161,5 milhões (já considerando a assunção de dívidas), na maior aquisição feita até hoje pela Ambipar Response.
“Nos Estados Unidos estamos num novo ponto de inflexão com a Witt O’Briens, porque esse é um ‘cornerstone asset’”, disse Pedro Petersen, executivo de relações com investidores da Response em apresentação feita na Nyse.
Segundo ele, até aqui a corrida era para integrar vários ativos menores no mercado americano, mas com a WOB como pilar será possível plugar a ela todos os demais, acelerando a expansão.
A WOB atende mais de 1,2 mil clientes em 45 localidades de diversos países na América do Norte, Europa, Ásia e Oceania, mas sua fortaleza é mesmo o mercado americano. Seu centro de comando e gerenciamento de emergências localizado em Houston atendeu mais de 55 mil chamadas só em 2021.
A companhia faturou mais de R$ 1 bilhão em 2021 e sua incorporação vai mais que dobrar a receita total da Response, que foi de R$ 824 milhões no ano passado e está estimada em pouco mais de R$ 1 bi para este ano.
Mas não é só uma questão de tamanho. O pulo do gato está na complementaridade dos negócios, segundo analistas.
“O fit complementar é absurdo”, diz um analista do buy side. “Até agora nos EUA a Response não tinha uma grande capacidade de originação de contratos, mas isso muda com a WOB.”
O negócio de prevenção e resposta a acidentes ambientais é segmentado em estágios: o chamado L0 envolve consultoria e treinamento para prevenção de acidentes; o L1 é a atividade de primeiro atendimento e informação (call centers) em caso de ocorrências; o L2 é o gerenciamento de crises; e o L3 engloba os trabalhos em campo efetivamente, com contenção de danos, limpeza e disposição de resíduos tóxicos, por exemplo.
A WOB oferece o L1 e o L2, mas a maior parte do seu negócio está no L0, ou seja, em consultoria. Já a Response é forte justamente no L3.
“Isso deve propiciar várias sinergias e oportunidades de vendas cruzadas para a Ambipar”, escreveram os analistas do BTG Pactual.
Haverá ainda a intensificação do uso de todos os equipamentos da Response, como caminhões e escavadeiras, para as atividades de campo.
“Ao verticalizar todo o negócio, nós nos tornamos uma ‘one stop shop’ para resposta a emergências e para lidar com materiais perigosos. Nenhuma outra companhia tem esse grau de verticalização e esse controle sobre a qualidade dos serviços prestados do começo ao fim do processo”, disse Petersen na Nyse.
O timing do movimento, diz, não poderia ser melhor.
O mercado americano é enorme e, com o endurecimento da regulação e imposição de multas pesadas, as empresas têm buscado cada vez mais contratar o serviço de resposta a emergências ambientais, algo que antes estava dentro de casa.
Segundo a Ambipar, o mercado potencial para esses serviços nos Estados Unidos é de US$ 14,6 bilhões ao ano.
Tão importante quanto o tamanho, é a fragmentação do mercado. Enquanto no Brasil a Response tem fatia de cerca de 50% em alguns segmentos em que atua, nos EUA os dois maiores prestadores de serviços ambientais e industriais, a Clean Harbors e a US Ecology, têm juntas 5% de market share.
“É uma situação que lembra o Brasil de 10 anos atrás. Agora é o momento de atacar esse mercado”, diz Petersen.
Além de oferecer uma espinha dorsal para a Response, a aquisição traz para a mesa uma outra vantagem intangível, a reputação.
A WOB é resultado da fusão, em 2010, de duas companhias com histórico relevante. A O’Brien Response Management atendeu emergências históricas, como Exxon Valdez, Deepwater Horizon e furacões Katrina e Sandy.
Já a Witt Associates foi fundada por James Lee Witt, reconhecido por ter elevado o grau de profissionalismo e capacidade de resposta a desastres da Federal Emergency Management Agency (FEMA) no governo de Bill Clinton. (Hoje, no entanto, ele já não está mais à frente da empresa.)
Se no papel o plano parece bem amarrado, os riscos de execução estão longe de ser desprezíveis, principalmente considerando as complexas integrações de negócios diversos a serem feitas simultaneamente.
Listagem na Nyse
Nas contas de analistas, a Ambipar pagou barato por um ativo considerado transformacional. Segundo relatório do Santander publicado no dia da transação, a companhia pagou um múltiplo ‘atrativo’, de 4,75 vezes EV/EBITDA, enquanto ela própria é avaliada a um múltiplo de 6,4 vezes.
Os analistas do banco ainda destacam que as aquisições anteriores vinham sendo fechadas a um múltiplo também superior, de 5 a 7 vezes EV/EBITDA.
O porte da aquisição da WOB — e também da canadense Ridgeline, anunciada em agosto — colocam a tese de expansão da Response mais dentro do que foi prometido quando a companhia anunciou a fusão com o SPAC HPX, em julho, na operação que vai culminar com a listagem da unidade na Nyse.
Prevista inicialmente para setembro, a listagem agora é esperada para novembro. Segundo Petersen, os documentos da fusão com o SPAC tiveram que ser reapresentados para incluir as informações da compra da WOB, zerando o prazo que a Securities and Exchange Commission (SEC) tem para avaliá-los.
A fusão e a listagem podem trazer um aporte de capital de até US$ 220 milhões para a Response.
Inicialmente, falava-se num aporte de até US$ 415 milhões, mas a maior parte dos investidores do SPAC não renovou o comprometimento de capital de US$ 253 milhões que haviam feito em julho de 2020 quando venceu o prazo de um ano para que a HPX fizesse investimentos.
Do total, ficaram US$ 58 milhões, que serão chamados a chancelar o investimento na Response em assembleia assim que a SEC der o sinal verde.
O que está garantido são US$ 117,5 milhões aportados na transação por um grupo de gestores liderado pelo Opportunity e que inclui XP Asset e Constellation; além de US$ 50 milhões da própria Ambipar Participações, que hoje controla a Response e é listada na B3.