O Banco do Brasil anunciou dois fundos de venture capital corporativos, ou CVCs, que vão dividir R$ 200 milhões para investir em startups estrategicamente interessantes para o banco.
Até aí, sem grandes novidades: cada vez mais empresas brasileiras usam esse instrumento para se aproximar dos inovadores.
Mas um dos fundos do BB será orientado a gerar impacto socioambiental positivo. Gerido pela Vox Capital, casa pioneira nesse tipo de investimento, o fundo vai representar uma mistura pouco usual do capital de risco corporativo com o impacto.
“Diria que esse termo ‘CVC de impacto’ nem existe”, diz Marcos Olmos, que será responsável pelo fundo na Vox. “Mas é muito claro que o Banco do Brasil tem um mandato que vai além da remuneração do acionista.”
Ou, como diz Pedro Bramont, diretor de negócios digitais do BB, “o banco é de mercado e do Brasil”.
Startups que aumentem a bancarização, melhorem a experiência digital do cliente ou tenham algoritmos mais avançados de oferta de crédito podem se encaixar sob o guarda-chuva do impacto.
Mas esse perfil de fintech também poderia receber investimentos do outro fundo, que será administrado pela MSW Capital. Não existe o risco de bola dividida?
“A ideia é que as duas casas trabalhem próximas. Enxergo muito mais a possibilidade de uma colaboração. Eles podem entrar numa rodada seed, a gente numa série A, ou vice-versa”, afirma Olmos. “Essa foi a intenção do banco quando decidiu ter dois gestores.”
Bramont afirma que grande distinção será o DNA das startups. “Negócios que nasceram com foco em impacto ficarão com a Vox.” Ele dá o exemplo das tecnologias ligadas à agricultura, um setor em que o BB é líder. “Temos relacionamentos com agritechs que desenvolvem sistemas que ajudam o produtor a usar menos água ou menos defensivos.”
Esses seriam dois investimentos de impacto, na visão de Bramont. Já de uma startup de blockchains, uma tecnologia no radar do banco por suas aplicações ligadas à segurança, não daria para dizer a mesma coisa.
Portas abertas
O interesse pelo CVC explodiu nos últimos anos. Segundo um levantamento da Distrito, uma empresa que aproxima startups de grandes companhias, os aportes de fundos corporativos no Brasil totalizaram US$ 622 milhões em 2021, mais de três vezes o total do ano anterior.
Existem mais semelhanças que diferenças entre um CVC e um fundo de capital de risco tradicional.
Em ambos os casos, o objetivo é acelerar o crescimento das companhias iniciantes, com recursos financeiros, mas também com a experiência e a rede de contatos dos investidores.
No caso dos fundos corporativos, esse apoio vai além.
Bramont afirma que a ideia é abrir as portas para que os empreendedores tenham contato com as áreas relevantes do banco – crédito, agro, tecnologia e assim por diante – e haja troca de informações nos dois sentidos.
Estes serão os dois primeiros fundos em que o BB será o único cotista. No ano passado, o banco entrou em três fundos com outros sócios: o Journey IV (gerido pela Astella Investimentos), o AG Ventures II (SP Ventures) e Indicator 2 IoT (Indicator Capital).
Com exceção da “vocação pelo impacto”, no caso do fundo gerido pela Vox, as regras básicas também seguem o padrão do mercado. As companhias precisam estar estruturadas, com produtos ou serviços testados e gerando receitas.
O ciclo dura tipicamente dez anos: nos primeiros são feitos os investimentos, e nos cinco seguintes, os desinvestimentos.
Olmos, da Vox, afirma que não há uma definição muito precisa do tamanho dos cheques, nem do número de empresas investidas.
Este é o segundo corporate venture capital sob responsabilidade da Vox. A gestora opera o CVC do Hospital Albert Einstein, um fundo de R$ 100 milhões. Mas, apesar da importância do impacto, o objetivo principal do veículo é estimular as startups do setor de saúde.