A Suzano acaba de fechar uma nova captação externa com apelo ESG, no valor de US$ 1 bilhão, desta vez também com um compromisso social: as metas estão atreladas a diversidade de gênero na liderança e economia de água.
No segundo semestre do ano passado, a companhia foi pioneira no país na emissão de títulos de dívida atrelados a metas de sustentabilidade, ou sustainability-linked bonds (SLB).
Com essa nova operação, 37% da dívida total da fabricante de celulose e papel passa a ser em instrumentos ESG. O indicador estava em 30% antes da captação e era de apenas 9% ao fim de 2019.
O SLB emitido hoje pela fabricante de celulose tem prazo de dez anos, yield de 3,28% ao ano, e cupom de 3,125% ao ano, a ser pago semestralmente.
“Pagamos um spread de apenas 180 pontos básicos sobre a Treasury americana de mesmo prazo, o mais baixo da história da Suzano e um dos mais baixos entre empresas brasileiras”, disse Julio Ramundo, diretor de finanças corporativas da Suzano.
A ideia inicial era levantar US$ 750 milhões com os títulos emitidos hoje. “Aumentamos o tamanho da oferta dado o interesse e a qualidade do livro de ofertas”, disse Ramundo ao Reset.
A demanda total foi de US$ 3,5 bilhões e, segundo o executivo, 62% dos papeis foram vendidos a investidores com foco em ESG (na emissão de SLB do ano passado o percentual ficou em 53%).
A companhia calcula que obteve um prêmio de sustentabilidade, ou ‘greenium’, de 13 pontos base ao ano quando comparado à divida de prazo semelhante não-ESG da própria empresa, o que vai gerar uma economia de US$ 13 milhões durante os 10 anos de prazo do papel.
Em termos absolutos, a taxa foi um pouco mais alta do que em operação semelhante fechada pela empresa em novembro, mas de lá para cá o cenário global de juros mudou, com as taxas subindo. Na captação de novembro, o spread sobre os títulos do Tesouro americano havia sido de 220 pontos.
O mecanismo
O papel embute um mecanismo conhecido como step up de taxa, que na prática é uma penalidade na forma de juros mais altos caso a empresa falhe em cumprir as metas definidas.
Se no primeiro SLB, emitido no segundo semestre do ano passado, a meta era de redução de suas emissões de CO2, desta vez a companhia se comprometeu a 1) reduzir em 15% a intensidade da captação de água em todas as suas operações até 2030, sendo que até 2026 o compromisso é de corte de 12,4%; e 2) atingir ao menos 30% de mulheres em cargos de liderança até 2025.
Ambas as metas não são novas e fazem parte dos compromissos para 2030 anunciados pela Suzano em fevereiro do ano passado.
Se falhar em cumprir a meta de diversidade, a empresa terá que pagar 12,5 pontos básicos a mais de juro ao ano a partir de 2026. Se não cumprir o compromisso intermediário de economia de água em 2026, também haverá aumento de 12,5 pontos a partir de 2027 e até o vencimento do papel, em 2032.
Menos água
A produção de celulose e papel é um dos segmentos industriais mais intensivos em uso de água no mundo, tema que se torna ainda mais crítico diante do risco de escassez hídrica que o Brasil pode enfrentar nas próximas décadas.
Quase toda a água (99,7%) que a Suzano usa em sua produção é captada em rios. O compromisso da empresa é reduzir o volume captado para cada tonelada de produto que sai das suas fábricas. A meta intermediária atrelada ao bônus é de um corte de 12,4% até o fim de 2026 em relação à intensidade de captação de 2018, que foi de 29,8 metros cúbicos de água por tonelada de produto. A meta para 2030 é de redução de 14,8%.
Segundo a consultoria ISS, que atestou que o bônus da Suzano se enquadra como um sustainability-linked bond, o indicador da empresa cobre 100% da água utilizada na atividade industrial e 99% do total de água usada pela empresa — só fica de fora a água usada na irrigação das florestas de eucalipto, que provém principalmente de chuvas.
Para reduzir a intensidade de captação, a empresa tem investido em equipamentos mais eficientes para produzir mais celulose com menos água e também em projetos de reúso do recurso. Hoje as plantas da empresa recirculam 85% de toda a água e não existe ainda tecnologia disponível que permita chegar aos 100%.
Mais mulheres
A segunda meta atrelada ao SLB prevê atingir 30% de mulheres na liderança da empresa até 2025, o que inclui gerência, gerência executiva, diretoria, diretoria executiva e o cargo de CEO.
Ao comentar os avanços obtidos em 2020 na agenda ESG de longo prazo, na última sexta, a Suzano mostrou que no quesito diversidade, a inclusão de mulheres na liderança tem avançado — de 16% em 2019 para 19% no ano passado — e reconheceu que a dificuldade maior está na inclusão de negros na liderança. O percentual caiu de 22% para 20% de um ano para o outro.
Em setembro de 2020, a empresa emitiu seu primeiro de SLB, no valor de US$ 750 milhões. Dois meses depois, reabriu a emissão e levantou outros US$ 500 milhões, com a menor taxa para uma empresa brasileira numa emissão internacional de 10 anos.