Diário da COP: A espera por Lula, confusão oficial e turistando pelo Egito

Notícias e bastidores direto da cúpula do clima da ONU, em Sharm el-Sheikh

Silhueta de uma mulher diante do logotipo oficial da COP27
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Sobre o Apoio

Esperando Lula

Os jornalistas brasileiros – e basicamente todo o resto da COP27 – aguarda detalhes sobre a passagem do presidente eleito pela conferência.

As informações seguem sem confirmação. Oficialmente, só está divulgada uma aparição dele no espaço mantido pelos governos da Amazônia, na próxima quarta-feira.

Na manhã desta sexta, especulou-se que ele pode conceder uma entrevista coletiva, desde que se encontre um espaço adequado, pois a expectativa é que Lula seja uma das grandes atrações da conferência.

Onde está 

Ainda não foi divulgada nenhuma versão parcial e nem sequer se sabe do que vai tratar o chamado texto-capa, um dos principais documentos produzidos pela COP.

Segundo Simon Evans, um especialista em negociações do clima do site Carbon Brief, a presidência da conferência passada, a cargo dos britânicos, passou meses antes do encontro discutindo o que seria colocado no papel.

Foram essas conversas que levaram ao Pacto Climático de Glasgow, que incluiu, entre outros tópicos, a primeira menção da história à necessidade de reduzir o uso de combustíveis fósseis – especificamente o carvão.

Este ano, “ninguém parece saber o que a presidência egípcia quer colocar no texto”, escreveu Evans no Twitter. Oficialmente, as consultas começam neste sábado.

Escorregão oficial

Um especialista alemão notou um erro num comunicado da ONU sobre as recomendações para atingir o net zero. Há uma confusão entre CO2 e gases do efeito estufa, também chamados de GHG, da sigla em inglês.

Quando se fala dos caminhos para limitar o aquecimento global a 1,5°C até o fim do século, a meta é atingir a neutralidade de CO2 até 2050. O balanço zero de todos os gases de efeito estufa só seria alcançado no fim do século.

O carbono é o principal causador da mudança do clima, mas existem outros gases que contribuem para o problema, como metano e óxido nitroso.

Em geral, quando se fala de milhões ou bilhões de toneladas, o número se refere a CO2 equivalente (geralmente indicado como CO2e). Isso significa que os outros gases tiveram seu impacto “convertido” para uma unidade comum, a fim de facilitar a conta e a compreensão.

Glossário

O Reset tem um glossário sobre os termos que costumam pipocar em época de COPs e que cada vez mais aparecem no vocabulário dos negócios.

Preparamos também um guia para entender o que são as conferências do clima e por que elas são tão importantes.

Ignorando a moratória da soja

Os resultados parciais de um estudo sobre a relação entre a produção de soja e o desmatamento no Brasil apontam 133 mil hectares de lavouras potencialmente violando a moratória da soja na Amazônia.

Dados preliminares do levantamento, que será lançado oficialmente em dezembro, foram apresentados ontem na COP27.

A soja produzida no Brasil em áreas recém-desmatadas foi responsável por 11% das emissões de gases do efeito estufa emitidos no país, afirma Tiago Reis, da Trase, uma plataforma de dados que acompanha o desmatamento associado a commodities agrícolas.

O problema pode ser resolvido com ações focalizadas, afirma Reis. Apenas 309 dos 2388 municípios em que o problema foi identificado concentram 95% das emissões associadas à derrubada da vegetação para o plantio de soja.

Marina Silva na COP27

A deputada federal eleita e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva foi vista circulando ontem pelos corredores da conferência do clima, em Sharm el-Sheikh.

Pela manhã ela teve uma reunião com John Kerry, que ocupa a função de enviado especial para o clima do governo Joe Biden. Especula-se que uma função semelhante vá ser instituída no próximo governo, e Silva é uma das candidatas a ocupá-la.

Por volta de 13h30, a ex-ministra foi vista na área que concentra os três estandes brasileiros, mas ela não entrou no espaço do governo federal.

Mais tarde, Silva se reuniu com a vice-presidente da Colômbia, Francia Márquez, no Brazil Climate Hub, o espaço montado pela sociedade civil. Nesta sexta-feira ela tem uma agenda cheia, com quatro compromissos programados.

Unindo três Brasis

O tema do evento era a aliança BIC, que pretende reunir os três países que abrigam as maiores florestas tropicais do mundo: Brasil, Indonésia e República Democrática do Congo. Mas o comentário que mais arrancou aplausos da plateia não tinha relação nenhuma com o assunto.

Izabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente e uma das assessoras da presidência da COP27, disse que no ano que vem os três espaços brasileiros voltarão a ser um só.

Desde o início do governo Bolsonaro, organizações da sociedade civil se reuniram para montar uma presença à parte do estande do governo federal, o chamado Brazil Climate Action Hub. Este ano, os governos estaduais da Amazônia também decidiram mostrar seu distanciamento, montando um palco próprio, batizado de Hub Amazônia Legal.

No novo governo, disse Teixeira, o país voltará a se apresentar ao mundo de forma unificada.

Tour egípcio

Depois da delegação dos Emirados Árabes Unidos, a brasileira é a segunda mais numerosa, com 574 integrantes. A lista oficial, disponível no site da UNFCCC, mostra alguns cadastros curiosos.

Uma busca pela palavra spouse retorna 13 resultados entre todas as delegações, incluindo a primeira-dama da Bulgária e a mulher do ministro do Exterior do Paquistão. A lista também inclui três esposas de parlamentares brasileiros.

Já a pesquisa pelo termo wife encontra 16 resultados, e entre eles as mulheres de dois assessores especiais do governo do Mato Grosso. 

(A inclusão na lista, é claro, não quer dizer que elas tenham vindo a Sharm el-Sheikh.)
O termo husband não aparece.

* O jornalista viaja a convite da International Chamber of Commerce