O CSN Inova Ventures, fundo de capital de risco da CSN, fez um investimento semente na 1S1, startup do Vale do Silício que desenvolve uma nova tecnologia para a produção de hidrogênio verde.
A aposta da empresa é que essa nova fonte de energia seja parte importante da estratégia para chegar à produção de um aço verde, com baixa emissão de carbono.
A indústria siderúrgica é uma das mais poluentes do mundo, respondendo por cerca de 8% do CO2 jogado na atmosfera, e também uma das mais críticas para descarbonizar, justamente pela inexistência de tecnologias disponíveis em escala comercial para substituir o coque, um derivado do carvão mineral, no processo.
Uma das principais apostas de siderúrgicas no mundo todo é que o hidrogênio verde seja parte integral dessa transição.
O horizonte da startup é de longo prazo. A 1S1, cuja sede fica em San Francisco, foi fundada em dezembro de 2019 e está dando os passos iniciais. A expectativa é que os primeiros protótipos sejam testados em dois anos.
A 1S1 quer fabricar eletrolisadores, como são conhecidos os equipamentos que separam as moléculas de hidrogênio e oxigênio da água.
O único outro insumo necessário – e o mais importante — é energia elétrica. Se ela vier de fontes renováveis, o resultado é hidrogênio verde, ou H2V.
Para uma empresa como a CSN, o hidrogênio verde pode substituir parte dos combustíveis fósseis cruciais para o processo de produção de aço e cimento, por exemplo. Outra aplicação possível é em frotas movidas a células de combustível.
As metas de descarbonização anunciadas pela CSN incluem redução de 10% da intensidade de emissão de CO2 por tonelada produzida até 2030, nos escopos 1 e 2.
“O potencial é enorme”, diz Gabriela Toribio, gestora da CSN Inova Ventures. “Mapeamos as startups de hidrogênio verde e identificamos que com a 1S1 temos a oportunidade de criar e aprender juntos.”
Tecnologia modular
Os princípios básicos da eletrólise são conhecidos desde o começo do século 19, mas a ideia de realizá-la em escala industrial é recente. Foi a combinação da emergência climática com a capacidade crescente de geração de renováveis que deu origem à corrida pelo hidrogênio verde.
No mundo inteiro, e também no Brasil, há planos ambiciosos para erguer grandes plantas de produção de H2V a partir da eletrólise da água. O problema, por enquanto, é o custo.
Hoje, produzir um quilo de H2V usando eletrólise custa cerca de US$ 5. O número mágico está entre US$ 1 ou US$ 2, diz o brasileiro Thiago Figueiredo, diretor de negócios da 1S1.
A expectativa é que os preços caiam com o aumento da produção. Mas a aposta da 1S1 começa numa etapa anterior, diz Daniel Sobek, cofundador e CEO da startup. “Primeiro, estamos olhando para o problema do ponto de vista da ciência dos materiais.”
Grosso modo, um eletrolisador é um tanque de água dividido ao meio por uma membrana sintética, essencial para a separação dos subprodutos da reação: oxigênio e hidrogênio.
A 1S1 quer produzir membranas mais eficientes – ou seja, que produzam mais hidrogênio com menor consumo de energia – e também mais duradouras.
O passo seguinte será construir os próprios eletrolisadores. “Ficar só nas membranas não seria interessante, queremos subir na cadeia de valor”, diz Sobek.
A 1S1 quer produzir um sistema modular, que seja customizável e fique próximo do cliente final. Este foi um ponto em particular que interessou à CSN.
A maioria dos projetos de H2V em estudos são plantas enormes, normalmente localizadas perto de portos, para facilitar a exportação.
“Armazenar e transportar por longa distância o hidrogênio ainda é desafiador em termos técnicos, de custo e de infra-estrutura disponível”, diz José Noldin, responsável por estratégia tecnológica e descarbonização da CSN. “Uma tecnologia modular e compacta pode ser disruptiva.”
Tudo isso ainda deve demorar. Depois de testados os protótipos, o plano é montar uma unidade piloto em mais ou menos cinco anos.
O hidrogênio verde não é a “bala de prata” do problema de carbono da indústria pesada, afirma Noldin, mas a contribuição pode ser significativa.
Sem grandes mudanças nos alto-fornos atuais – responsáveis por cerca de 75% das emissões da siderurgia – só seria possível no máximo 15% do carvão consumido.
Noldin diz que essa é uma “conta de guardanapo”, mas indicativa da importância do H2V. Existem aplicações em outras etapas da produção, como o uso do hidrogênio como fonte de energia para fornos elétricos, por exemplo.
O aporte total na 1S1, que incluiu os investidores originais da companhia, foi de US$ 1 milhão. A participação da CSN não foi revelada.
Capital paciente
Uma das teses do fundo são as tecnologias que possam ajudar a descarbonização das atividades da empresa.
O CSN Inova Ventures foi estabelecido no ano passado com R$ 100 milhões, dos quais cerca de R$ 30 milhões já foram investidos, em quatro empresas.
Segundo a gestora, o CVC da companhia é mais paciente que os fundos de risco tradicionais, o que explica o aporte em uma companhia em estágio pré-operacional como a 1S1. O período de desinvestimento do Inova Ventures pode ser mais longo, em torno de seis anos, ante os tradicionais quatro de um fundo do tipo.
Toribio afirma que outras três ou quatro startups devem ser acrescentadas ao portfólio até o final deste ano – e uma delas também é de hidrogênio verde.