O ano de 2025 deve ser fundamental para o mercado de carbono. Nos dois últimos meses, houve grandes avanços na regulamentação de trocas e compensações de gases de efeito estufa – e isso deve afetar não apenas a agenda climática, mas também a economia.
“Foi um longo período de idas e vindas, mas enfim atingimos algumas definições importantes”, avalia Marcella Ungaretti, head de research ESG da XP. No Brasil, na semana passada foi sancionada a lei nº 15.042, que cria o mercado regulado de carbono.
O aguardado Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE) vai impor limites de emissões de gases causadores do aquecimento global a diferentes setores da economia e estabelecer parâmetros para trocas e compensações entre os entes regulados. Segundo o Ministério da Fazenda, a expectativa é que o sistema esteja funcionando plenamente em 2030 e que, nos dez anos seguintes, impulsione o PIB brasileiro em 5,8%.
Para a especialista da XP, apesar dos avanços a serem celebrados, é fundamental acompanhar de perto os próximos passos, especialmente no Brasil. “Há dois pontos importantes que ainda precisam ser definidos, logo na primeira fase. Um deles é de governança, com decisões pendentes sobre liderança e composição dos órgãos consultivos e de supervisão”, diz ela. “Garantir transparência deve diminuir os riscos de execução e reforçar a confiança do mercado.”
Outro ponto é entender como será feito o cálculo dos limites de emissões, esclarecendo se as demarcações estipuladas (10.000 e 25.000 toneladas de dióxido de carbono equivalente anualmente) serão aplicados a grupos econômicos (empresas) ou instalações individuais (por exemplo, fábricas).
“As coisas não são tão simples no que diz respeito à certificação de projetos e metodologias. Por isso existe um sentimento de cautela, aguardando definições e regras mais específicas”, concorda Luiza Aguiar, analista de research ESG da XP. “Acompanhar esse processo é fundamental para elevar padrões e conquistar a confiança dos investidores neste mercado.”
Protagonismo brasileiro
No ano que vem acontece também a aguardada Conferência do Clima da ONU no Brasil, a COP30, em Belém. Isso deve reforçar a posição do país de protagonista na transição climática.
“Como país sede, teremos oportunidade de guiar a agenda da conferência”, diz Aguiar. “Além disso, temos bons laços diplomáticos com os estados-membros da ONU, o que nos coloca num lugar conciliador, o que pode colaborar para destravar negociações e incentivar compromissos ambiciosos.”
Ungaretti enxerga o protagonismo do Brasil também por sua matriz energética majoritariamente limpa. “Isso pode abrir oportunidades interessantes na economia”, diz ela, que vê também alguns desafios. “Ainda existe um certo ceticismo do investidor estrangeiro quanto a algumas questões, como as fiscais. E isso precisa ser superado.”
Mais análises sobre o clima e o mercado de carbono feitas pelo time de research ESG da XP estão disponíveis no site da empresa.