
Resultado de 18 meses de trabalho e articulação da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), a Casa do Seguro na COP30 consolidou o papel do setor segurador como um ator central na agenda climática global. Foram 11 dias, cerca de 55 painéis, mais de 200 painelistas de diferentes setores da economia, governo, empresas, cientistas, lideranças internacionais e 2 mil visitantes de 22 países do mundo.
Montado em local estratégico, próximo à Blue Zone da ONU, o evento mostrou que o setor está preparado para a ação, com soluções concretas e planos de implementação robustos. “Esta foi uma COP mais objetiva, focada na implementação e mais madura em relação à importância da adaptação”, disse Dyogo Oliveira, presidente da CNseg.
Para Oliveira, houve avanços concretos tanto nos setores público e privado, no Brasil e no mundo, demonstrando que o setor privado está consciente e ativo no que precisa ser feito para garantir uma transição justa e resiliente.
No contexto do setor segurador, foi possível estabelecer um conjunto amplo de parcerias e consolidar uma visão mais transversal do papel do seguro nas diversas atividades da economia e da sociedade. Essa atuação estratégica e alinhada ao futuro permitiu que o setor saísse de Belém com um “enorme dever de casa”.
Como parte desse planejamento estratégico e em vista da COP31, na Turquia, Oliveira lançou uma provocação e uma proposta ambiciosa: a criação de uma força-tarefa internacional do setor segurador sobre resiliência climática e segurança na transição.
A iniciativa une seguradoras, cientistas, governos e a sociedade civil, garantindo que o setor não apenas participe, mas lidere as discussões climáticas. “Saímos de Belém com uma agenda de trabalho definida”, disse o presidente da confederação, que acredita que a solução virá por meio do engajamento do setor privado, da ciência e da tecnologia.
Ferramentas fundamentais
Para transformar o conhecimento em ação, a CNseg apresentou três produtos concretos durante a COP30: o Radar (mapeando indenizações por eventos climáticos), uma ferramenta de risco de alagamento, e outra ferramenta para conformidade socioambiental no seguro rural.
Estas soluções efetivas qualificam o fornecimento de seguros e ajudam na gestão da agenda climática e de adaptação. Empresas do setor também lançaram novos produtos e dados durante o evento, focados em reflorestamento, em produtos inclusivos para populações vulneráveis e em saúde.
Para a diretora de sustentabilidade da CNseg, Claudia Prates, os avanços da Casa são resultado de um trabalho consistente realizado no último ano, com diversos atores. A “jornada COP” contou com vários webinars e eventos pré-conferência. “Participaram governo, setor segurador, empresas, com cerca de 500 pessoas em cada encontro”, disse Prates.
A executiva reforçou o papel crucial do setor financeiro na expansão da resiliência climática e a importância da educação financeira neste caminho, trilhado pela CNseg em parceria com a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) e a Febraban (Federação Brasileira de Bancos).
Prates ressaltou que, historicamente, o financiamento para projetos climáticos era restrito a recursos públicos, mas o cenário mudou. E o seguro atua como proteção e como mecanismo capaz de trazer novos recursos para a economia, evitando que catástrofes aumentem o endividamento do cidadão ou sobrecarreguem o caixa do governo com reconstruções.
O setor segurador pode, inclusive, auxiliar o desenvolvimento de novos mecanismos de financiamento, como o blended finance. “Trata-se de um novo mercado que precisa ganhar escala, e o seguro está bem posicionado para viabilizar essa expansão, ao mesmo tempo em que mitiga riscos e amplia a resiliência das mais diversas atividades econômicas”, disse Prates.
Butch Bacani, head de seguros do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP FI), promoveu diversos debates da Casa do Seguro e advertiu que “finanças e seguros sustentáveis, sozinhos, não garantem uma economia resiliente”. A transição para uma economia resiliente e sustentável, para ele, é um “jogo de equipes”, e “uma mudança real depende da ação conjunta entre governos, empresas e sociedade”.
Títulos verdes e TFFF
Este jogo de equipes, segundo Dyogo Oliveira, já começou. E um dos maiores desafios pós-COP30 é a mobilização de capital para a agenda climática. O presidente da CNseg destacou a expectativa global de que seguradoras tenham uma participação mais ativa no investimento sustentável. Isso ainda exige a criação de mecanismos financeiros mais detalhados, como títulos verdes ou o próprio Fundo Tropical Florestas para Sempre (TFFF), para que as reservas das seguradoras cheguem ao financiamento de projetos.
“Há um grande potencial de as seguradoras participarem do TFFF, para isso precisamos antes entender como ele vai funcionar, como será a gestão dos recursos”, disse Oliveira. “Já combinamos com o governo brasileiro, com o Ministério da Fazenda, o Ministério do Meio-Ambiente e o Ministério das Relações Exteriores, que faremos várias rodadas de apresentação, discussão e detalhamento operacional do fundo.”
Segundo Oliveira, os dois principais focos de trabalho na rota rumo à Turquia serão o seguro rural e o seguro contra desastres naturais, ambos considerados prioridades objetivas pelo presidente da CNseg. A entidade sai da COP com uma agenda grande para desenvolver mais produtos que ajudem municípios a identificar e mitigar riscos, inclusive no contexto de concessões e PPPs (Parcerias Público-Privadas), hoje feitas majoritariamente sem seguro.
Assista aos vídeos completos da Casa do Seguro no canal da CNseg
O que aconteceu na Casa do Seguro
- Dias 10 e 11: Agro ganha resiliência com novas soluções aliadas à ciência; seguros rumo à COP31
- Dia 9: Nova ferramenta antecipa risco de enchente a partir do CEP
- Dia 8: Seguradoras ganham força no mercado de carbono
- Dia 7: Cooperativismo, seguros e o futuro da alimentação
- Dia 6: Estudo aponta que clima pode aumentar casos de câncer em 200% até 2050
- Dia 5: CNseg apresenta seu Hub de Inteligência Climática
- Dia 4: Como a indústria automotiva e os seguros podem colaborar para descarbonização da frota
- Dia 3: CNseg, Febraban e Anbima discutem finanças sustentáveis
- Dia 2: Finanças climáticas, tecnologia verde e longevidade
- Dia 1: Seguro como oportunidade, e não apenas risco