Natura gera benefícios à sociedade de R$ 1,5 para cada R$ 1 de receita. Entenda

Fabricante de cosméticos divulgou pela primeira vez o seu Integrated Profit and Loss, o IP&L, para 2021

Um conteúdo


Natura

Natura gera benefícios à sociedade de R$ 1,5 para cada R$ 1 de receita. Entenda
A A
A A

Conteúdo Especial

Pela primeira vez, a Natura calculou em valores econômicos o impacto social e ambiental de suas atividades. O resultado mostra que, para cada R$ 1 real em receita com vendas de produtos da marca Natura, a empresa gerou R$ 1,5 em benefícios socioambientais em 2021.

Foram R$ 12 bilhões de faturamento no ano para R$ 18 bilhões em impactos positivos líquidos (já descontados os impactos negativos). Por enquanto, neste primeiro relatório os dados contemplam apenas a marca Natura na América Latina.

Algumas atividades se destacam por um retorno socioambiental muito acima da média. É o caso, por exemplo, das compras de créditos de carbono da empresa para neutralizar suas emissões de gases de efeito-estufa: o retorno obtido foi de R$ 40 reais em benefícios para cada R$ 1 investido.

A contabilidade inédita foi possível graças ao desenvolvimento do Integrated Profit and Loss (IP&L), uma ferramenta relativamente nova, que parte do tradicional relatório de “lucros e perdas” para medir e reportar os impactos ambientais e sociais dos negócios de forma integrada aos resultados financeiros.

O diferencial do IP&L é permitir que esses impactos sejam traduzidos em valores econômicos, falando a língua de investidores e analistas. Internamente, torna-se uma poderosa ferramenta de gestão estratégica ao trazer dados para embasar a tomada de decisão para alocação de capital em atividades que maximizem os benefícios gerados pelo negócio.

“Não é porque você tem boas práticas de sustentabilidade que você tem bons impactos”, diz o especialista em sustentabilidade Samuel Vionnet, fundador da consultoria Valuing Impact, que assessorou a Natura na construção do seu IP&L.

Segundo ele, ao traduzir os impactos em valores econômicos, é possível comparar os resultados alcançados em diversas frentes e decidir como agir adiante.

A construção de uma ferramenta que mensurasse a proposta de valor de um negócio para além dos resultados financeiros também foi inspirada em movimento recente liderado pelo Capitals Coalition, World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) e Value Balancing Alliance (VBA), que mostrou novos caminhos para transformar a mensuração dos resultados das empresas.

O IP&L é uma metodologia nova, diz Samuel, que ainda vai demandar muita harmonização e padronização. A aposta da Natura é que deverá ser amplamente adotada no futuro, levando mais transparência às ações de sustentabilidade corporativas.

Ao compartilhar sua experiência com o mercado em webinar realizado nesta terça-feira (31), a ideia da companhia é ajudar a difundir o conceito entre outras empresas e investidores e contribuir para o refinamento da metodologia.

“Estamos compartilhando o melhor do nosso conhecimento em termos de como quantificar o impacto que nosso negócio causa à sociedade, o que considero um grande avanço. Outros poderão fazer críticas e melhorá-lo ao longo do tempo. Mas, no final, a indústria toda e agentes econômicos começarão a entender como avaliar o impacto das várias empresas existentes”, disse João Paulo Ferreira, presidente da Natura e CEO do grupo Natura &Co para a América Latina durante o evento.

Por trás da ferramenta inovadora, uma metodologia de cálculo bastante complexa foi utilizada. Explicamos isso mais adiante.

Positivos e negativos

O IP&L da Natura permite entender quais atividades geraram impactos positivos e quais geraram impactos negativos – e de que magnitude.

Em termos absolutos, os maiores impactos positivos da empresa foram gerados no relacionamento com as consultoras Natura mais sêniores, como geração de empregos, renda e impostos na cadeia de fornecedores.

Na outra mão, o maior impacto negativo dos negócios (também em termos absolutos) foi no relacionamento com as consultoras em estágios mais iniciais de envolvimento com a empresa (conforme abaixo) e o uso e descarte dos produtos da Natura – levando em conta o uso de água e energia pelos consumidores e o descarte de resíduos de produtos e embalagens.

O case das consultoras Natura

Como se sabe, as consultoras são cruciais para o modelo de negócios da marca, que tem em seu centro a venda por relações. O modelo se baseia na progressão das consultoras na carreira em direção a volumes e desempenho mais altos, o que aumenta a renda progressivamente.

Isso explica como o relacionamento com as consultoras entregou ao mesmo tempo o maior resultado positivo e também o maior resultado negativo, em termos absolutos.

A empresa calculou o ganho de renda para todas as consultoras e depois o comparou com a distância para o que é considerado uma “renda digna”, ou seja, suficiente para que uma pessoa possa pagar todos os seus gastos de moradia, saúde, educação e outros e viver dignamente. Para 2021, esse valor no Brasil foi calculado em R$ 16,13 por hora, o que corresponde a mais de duas vezes o valor do salário-mínimo no Brasil. No caso das consultoras sênior, a renda obtida com a venda dos produtos da marca ultrapassa a marca da renda digna, gerando um impacto positivo.

Em seu IP&L, a companhia diz que será crítico endereçar a diferença entre consultoras sênior e consultoras em estágios iniciais na estratégia futura, incluindo um entendimento mais profundo do tempo dedicado às atividades da Natura, além do propósito do relacionamento, geração de renda, network, compra dos produtos para a família e conexão com a marca.

“Ao analisar os números ainda negativos das consultoras de beleza que têm a atividade de consultoria como coadjuvante na sua geração de renda, por exemplo, imaginamos o poder de combinar Avon e Natura para tentar impulsionar esses impactos. Não apenas em termos de geração de renda, mas também em termos de educação, violência doméstica e prevenção ao câncer de mama”, disse João Paulo Ferreira.

Um cálculo complexo

Expressar as externalidades positivas e negativas em unidades monetárias é um processo bastante complexo. A modelagem é composta de várias etapas.

Além disso, não existe hoje um padrão global de IP&L. Ou seja, há caminhos diferentes seguidos por consultorias e pesquisadores distintos, mas alguns consensos já começam a se formar.

O ponto de partida para o IP&L da Natura foi um levantamento de suas principais externalidades, como emissões de carbono, geração de renda e hectares de floresta preservada.

A seguir, a empresa definiu como indicador de impacto único a mudança na qualidade de vida das pessoas afetadas pelos seus negócios.

Para expressar esse ganho ou perda em qualidade de vida, tomou emprestada da área de políticas públicas de saúde as unidades de medida escolhidas para esse indicador: os anos de vida perdidos ajustados por incapacidade (DALY, na sigla em inglês) e os anos de vida ganhos ajustados por qualidade (QALY).

Originalmente, DALY e QALY foram criados nos anos 70 para avaliar e comparar as intervenções em saúde pública sob uma ótica de custo e efetividade, para medir o impacto tanto na duração quanto na qualidade de vida de cada política adotada.

QALYs são uma medida do ganho de anos vividos em perfeita saúde, enquanto DALYs são uma medida da perda de anos em perfeita saúde.

Da etapa seguinte era preciso traduzir os múltiplos resultados (outcomes) sociais e ambientais de suas atividades para esse indicador de impacto único. Em outras palavras, transpor toneladas de carbono compensadas ou renda gerada para as consultoras Natura para QALYs ou DALYs.

Isso foi feito usando modelos de cálculo existentes de instituições como Wage Indicator, OMS e OCDE. No caso dos créditos de carbono, por exemplo, foi usado o modelo amplamente aceito de “custo social do carbono”, que estima os custos econômicos das emissões de gases de efeito estufa sobre o meio ambiente e a saúde humana.

Por fim, os anos ganhos ou perdidos podem ser lidos em efeitos econômicos, o que facilita a comunicação, a integração e a interpretação, fazendo a ponte final com os relatórios financeiros.

Nessa última etapa do processo, mais uma vez, a Natura utilizou um modelo existente chamado de Valor Estatístico de uma Vida (VEV), que é uma medida que estima o valor integral de uma vida.

Veja a íntegra do relatório.

Sobre a marca:

A Natura é a maior multinacional brasileira do setor de cosméticos e uma empresa comprometida com a geração de impacto positivo nas áreas social, econômica e ambiental.