
Os dois últimos dias da Casa do Seguro na COP30 tiveram debates importantes. Na quinta-feira (20), os painéis focaram no agronegócio. Na sexta-feira (21), encerramento da embaixada do seguro na conferência da ONU em Belém, o Dia da Liderança Latino-Americana e da COP31 (foto), realizado pela CNseg e pela UNEP FI, reuniu setores para um fim comum: projetar o protagonismo latino-americano na transição climática e estabelecer compromissos convergentes rumo à COP31.
“Em Belém, comparado às COPs anteriores, nunca o tema seguros foi tão proeminente e reconhecido – tanto aqui na Casa do Seguro, quanto na Blue e na Green Zones”, disse Butch Bacani, head de seguros da UNEP FI, no painel final da Casa.
No dia anterior, quinta-feira, o agronegócio guiou os painéis. O setor, um dos pilares da economia brasileira, é também um dos mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas. Um aumento de apenas 1ºC na temperatura já é suficiente para reduzir a produtividade da soja em 6% e a do milho em 1,8%. Mesmo diante desse cenário, a proteção ainda é limitada: apenas 8% da área agrícola do país conta com seguro rural.
Pela manhã, na quinta-feira (20), foram apresentados os pilotos Zarc Níveis de Manejo, desenvolvido pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e pela Embrapa, e o Consórcio Reg.IA, da Produzindo Certo, além da visão da Brasilseg, uma empresa do empoderador BB Seguros. A ideia foi mostrar como esses aprendizados científicos e práticos podem ser transformados em produtos e modelos de subscrição mais precisos, acessíveis e ajustados à realidade do produtor.
À tarde, a CNseg lançou uma nova ferramenta socioambiental para ajudar na subscrição de seguros rurais. O sistema integra diversas bases públicas e privadas, como dados de desmatamento, queimadas, áreas embargadas, uso do solo e informações fundiárias, e já nasce alinhado à nova regulação da Susep. “Estamos lançando um hub de inteligência climática que vai além do regulatório e inclui boas práticas”, disse Claudia Trindade Prates, diretora de sustentabilidade da CNseg.
A ideia é uniformizar critérios, reduzir assimetrias de informação e permitir que seguradoras avaliem riscos de forma mais consistente, transparente e com embasamento técnico. A ferramenta será implementada em fases. A primeira reúne dados essenciais para verificação de conformidade socioambiental, como embargos e áreas desflorestadas. As fases seguintes, previstas até 2026, vão incorporar informações sobre queimadas, cadastros estaduais, assentamentos, biodiversidade e até mapas de uso da terra e mudanças no solo.
Do laboratório ao campo
Evolução: O Zarc Níveis de Manejo (ZarcNM) é uma evolução do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), ferramenta que orienta o plantio com base no risco climático. A nova versão incorpora níveis de manejo e práticas agronômicas, permitindo análises mais finas e recomendações mais assertivas. “O Zarc de manejo resolve questões históricas. Agora é possível precificar por produtor, e não por município”, explicou Guilherme Bastos, coordenador da FGV Agro.
Reg.IA: No piloto conduzido pela Produzindo Certo, no Paraná, práticas regenerativas resultaram em redução de 17% a 30% nas taxas de seguro e aumento de 13% a 35% na produtividade.
Lado a lado: A evolução dos pilotos depende de colaboração entre academia e empresas, e do uso de tecnologias como a inteligência artificial para desenvolver produtos mais inteligentes e adequados ao campo.
Sustentabilidade aumenta produtividade e resiliência
Solo como principal ativo: Práticas regenerativas aumentam fertilidade, carbono e matéria orgânica no solo. Estudos ligados ao Zarc mostram que o solo é a variável que mais explica a resiliência da produção – e, portanto, o potencial de redução do custo do seguro.
Vantagens econômicas: Além de atrair compradores dispostos a pagar prêmios por boas práticas, produtores participantes do Consórcio Régia alcançaram reduções de 17% a 30% nas taxas de seguro e aumentos de 13% a 35% na produtividade.
Pegada de carbono menor: As propriedades do Consórcio Reg.IA emitiram, em média, apenas um terço do carbono da produção nacional de soja.
Palavra de empoderador
O setor está se aproximando cada vez mais da ciência para construir produtos mais aderentes às diferentes cadeias produtivas. O seguro não pode ser apenas um instrumento de reparação pós-eventos extremos, mas também instrumento de monitoramento climático
Paulo Hora, superintendente executivo de resseguro e agronegócios da Brasilseg, empresa da BB Seguros
Tecnologia, dados e resultado na ponta
No período da tarde, CNseg, FGV Agro e Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG) realizaram o Fórum de Seguros e Agronegócio na COP30. O objetivo foi debater o papel dos seguros na proteção da produção agrícola nacional, diante dos riscos impostos pela crescente severidade e intensidade dos eventos climáticos extremos e novas soluções para o produtor.
Satélite diário muda o seguro rural: Eduardo Bastos (AlSat) lembrou que o monitoramento contínuo aumenta a precisão: “Desde 2016 nós conseguimos substituir a suposição por evidência”. Segundo ele, seguradoras que usam o recurso têm “menor incidência de sinistralidade”.
Políticas públicas: Sem políticas que incentivem tecnologias de precisão e integrem dados entre os elos da cadeia, pequenos produtores ficam fora da transformação digital. “Precisamos de mais políticas públicas para democratizar o acesso a tecnologias no campo”, disse Jairo Costa, gerente de seguros para a América Latina da Syngenta.
Sem dinheiro, sem produção
A combinação de crédito, seguro e práticas sustentáveis – como agricultura regenerativa – é considerada fundamental para garantir a viabilidade econômica do produtor. Esse tripé permite ao sistema financeiro migrar de um modelo reativo para uma abordagem proativa na gestão de riscos. “Sem financiamento e sem seguro, o país não consegue avançar. É o seguro de renda que dá estabilidade para que o Brasil continue crescendo”, disse Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura e ex-coordenador do centro de agronegócio da FGV.
Seguro rural como pilar: Ao garantir as operações, o seguro pode complementar o crédito e oferecer condições mais adequadas aos produtores. “Ao lado do crédito, o seguro é essencial para viabilizar a produção e garantir as operações financeiras”, afirmou Paulo Hora, superintendente executivo de resseguro e agronegócios da Brasilseg.
Seguro mais barato com dados melhores: Tecnologia, inteligência e informações de manejo mais granulares tendem a reduzir o custo do seguro no médio e curto prazos, graças a uma precificação mais justa e personalizada.
Taxonomia Sustentável Brasileira: A taxonomia brasileira, que define critérios para empreendimentos e investimentos serem considerados sustentáveis, é vista como inovadora por abordar a agricultura – o que vai ajudar na tomada de crédito a custos mais baixos e influenciar o seguro.
Imagens do dia








Acompanhe a transmissão ao vivo dos painéis no canal da CNseg
O que já aconteceu na Casa do Seguro
- Dia 9: Nova ferramenta antecipa risco de enchente a partir do CEP
- Dia 8: Seguradoras ganham força no mercado de carbono
- Dia 7: Cooperativismo, seguros e o futuro da alimentação
- Dia 6: Estudo aponta que clima pode aumentar casos de câncer em 200% até 2050
- Dia 5: CNseg apresenta seu Hub de Inteligência Climática
- Dia 4: Como a indústria automotiva e os seguros podem colaborar para descarbonização da frota
- Dia 3: CNseg, Febraban e Anbima discutem finanças sustentáveis
- Dia 2: Finanças climáticas, tecnologia verde e longevidade
- Dia 1: Seguro como oportunidade, e não apenas risco