Dia 5: CNseg apresenta seu Hub de Inteligência Climática

Entre 2022 e 2024, foram identificados 67 eventos climáticos significativos, que geraram R$ 184 bilhões em perdas – das quais apenas 9% estavam seguradas. Ou seja, 91% das perdas não tinham cobertura. Os números fazem parte do Radar de Eventos Climáticos e de Seguros no Brasil, primeiro módulo do Hub de Inteligência Climática da CNseg.

O Radar, realizado em parceria com a consultoria Ernst & Young (EY), aponta os impactos dos desastres climáticos na economia, na sociedade e nas operações das seguradoras brasileiras. O documento foi lançado por Dyogo Oliveira (foto), presidente da CNseg, na sexta-feira (14) na Casa do Seguro na COP30. Outros dois módulos do hub serão lançados na semana que vem, um sobre riscos de inundação e outro que indica terras em conformidade socioambiental, para o seguro rural.

Compromisso com o clima

Adesão firmada: O empoderador do dia, a Caixa Seguridade, anunciou oficialmente sua adesão institucional aos Principles for Sustainable Insurance (PSI) do United Nations Environment Programme Finance Initiative (UNEP FI) e ao Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CBEDS).

Butch Bacani, head de seguros da UNEP FI, e Viviane Romeiro, diretora de clima, energia e finanças sustentáveis do CBEDS, estavam presentes e abordaram a urgência da ação climática no contexto da COP30. Bacani apontou a evolução dos Princípios para Seguros Sustentáveis (PSI) e a necessidade de colaboração multissetorial para a mitigação e adaptação às mudanças do clima.

O papel do seguro: O diálogo reforçou a importância de transformar o seguro de uma ferramenta de reparo para uma ferramenta de prevenção e de colocar as pessoas no centro da discussão sobre sustentabilidade.

Para a Caixa Seguridade, a adesão às iniciativas reforça o triplo papel que desempenha como grupo segurador no contexto da mudança climática: como gestor de riscos, como tomadores destes riscos e como investidor, gerando recursos por meio de suas reservas técnicas.

Palavra de empoderador

O nosso portfólio de produtos vem sendo permanentemente inovado para incorporar a agenda de sustentabilidade ao que falamos e como procuramos agir

Gustavo Portela, diretor-presidente da Caixa Seguridade

Ciência, dados e resultado

Calcular risco: A criação de metodologias padronizadas é uma das condições básicas para o mercado funcionar. O tema foi abordado no painel “Reflexo do clima no setor de seguros” Se cada agente (seguradora, banco, empresa ou produtor) calcula risco físico de forma diferente, os preços não convergem; por isso, é necessário um consenso técnico baseado em ciência e dados e reconhecido como política de Estado.

Da ciência ao mercado: Tecnologia ajuda a medir vulnerabilidade e danos futuros. Ferramentas de instituições como o INPE, representado pelo pesquisador Jean Pierre Ometto no papo, aliadas a modelos probabilísticos e a inteligência artificial, já permitem integrar incerteza climática e vulnerabilidade social na análise de risco, com capacidade de estimar danos futuros até no nível de endereço.

Valorizar a natureza exige métricas: A dificuldade de mensurar risco e valor dos ecossistemas trava investimentos em bioeconomia. O seguro pode funcionar como “viabilidade financeira” para créditos de carbono e ativos naturais.

Sem dados, não há seguro: A falta de séries históricas e de modelagem limita produtos em novos territórios. “Os seguros são bastante conservadores, eles querem olhar para o fundo de dados”, disse Rachel Delhaise, do Insurance Development Forum (IDF) e diretora de Sustentabilidade da Convex Insurance. Para ela, à medida que o setor obtém melhores dados sobre biodiversidade, isso ajudará na valoração e, consequentemente, na responsabilização e no seguro.

Modelagem para o futuro: A ONU tem incentivado a substituição de análises baseadas apenas em dados históricos por modelos probabilísticos, disse Adriana Campelo, coordenadora regional da United Nations Office for Disaster Risk Reduction (UNDRR). Ferramentas públicas como o Adapta Brasil e a plataforma Delta também projetam perdas e danos futuros no Brasil. Segundo ela, “a desigualdade social é um perigo para os riscos”.

Natureza: too big to fail

Risco climático pesa no caixa: Os eventos climáticos extremos já pesam diretamente nos balanços das empresas, e a degradação ambiental também deixa marcas profundas na economia. “Antes tratávamos o ambiental, o social e o econômico de forma separada; hoje sabemos que as matrizes de risco precisam ser integradas”, afirmou Eduarda La Rocque, diretora de controles internos, riscos e conformidade da IRB(Re). “Não existe produtividade sem resiliência. A Amazônia, por exemplo, é parte da infraestrutura econômica do país.”

Para fechar o gap: Para ampliar a cobertura no país, seguradoras avançam em produtos inovadores: seguros paramétricos com pagamento rápido, apólices que valorizam práticas agrícolas regenerativas e soluções baseadas na natureza (SbN). Já existem seguros que podem ser adaptados para SbN, mas a oferta ainda é muito sob medida. O desafio é dar escala a esses produtos, segundo Pedro Farme D’Amoed, CEO da Guy Carpenter Brasil. 

Evidências de resiliência no agro: Práticas sustentáveis no campo, como manejo regenerativo e intensificação de pastagens, têm mostrado maior resiliência à seca, o que melhora produtividade e reduz riscos. Bancos e seguradoras já testam pilotos com produtores para criar ofertas diferenciadas baseadas nessas evidências.

Mercado de capitais: Instrumentos como a Letra de Risco de Seguro (LRS) podem ampliar a capacidade de proteção ao utilizar o mercado de capitais para alocar parte do risco climático, fortalecendo a resiliência do sistema. A LRS é relevante porque o risco climático que ela absorve não é correlacionado com nada do mercado de capitais. Isso significa que a performance desse investimento não está ligada aos movimentos tradicionais do mercado de ações ou títulos. 

Exemplos já existem: Países do Caribe seguraram recifes de coral; manguezais podem ser segurados porque capturam mais carbono e reduzem danos costeiros. A lógica é tratar ecossistemas como infraestrutura crítica, disse Delhaise, do IDF. 

Compensação com RPPN

Ainda na sexta-feira (14), a Seguros Unimed anunciou na Casa do Seguro uma parceria para compensar sua pegada de carbono. Até 2026, a iniciativa vai neutralizar 500 toneladas de CO₂ ao apoiar o Programa de Patrocínio e Monitoramento de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN). 

O movimento é resultado de uma parceria com a Fundação Biodiversitas, uma das organizações mais tradicionais em conservação da biodiversidade no Brasil, e a startup 6Bios, que fornece a infraestrutura tecnológica para conectar empresas a áreas de conservação e facilitar o acesso a créditos de carbono.

Na prática, isso significa que a seguradora vai patrocinar e monitorar áreas privadas de conservação ambiental (as RPPNs), fortalecendo a proteção de biomas brasileiros. Em troca, a empresa recebe benefícios institucionais e acesso aos créditos de carbono gerados nessas áreas.

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