Dia 1: Seguro como oportunidade, e não apenas risco

Nesta segunda-feira (10), primeiro dia da Casa do Seguro na COP30, as discussões colocaram em evidência o papel dos seguros como um dos motores da transição para uma economia mais justa e sustentável. Além de indenizar perdas após desastres, o setor tem capacidade de direcionar fluxos de investimento e acelerar a transição para uma economia de baixo carbono e para aumentar a proteção de comunidades vulneráveis. O encontro reuniu representantes de seguradoras, governo e organismos internacionais para debater desafios e soluções de proteção social, financiamento climático e inovação.

Saúde e adaptação: No período da manhã, o empoderador Bradesco Seguros comandou a programação. Foram dois painéis, o primeiro sobre saúde e o segundo sobre adaptação às mudanças climáticas. A seguradora lançou um guia sobre prevenção aos males que podem ser agravados por desastres climáticos e novos hábitos para evitá-los.

O aquecimento global representa uma ameaça crescente à saúde pública, com o aumento de doenças respiratórias, ondas de calor, enchentes e novos vetores de infecção. Especialistas defenderam que o enfrentamento desse cenário depende da integração entre ciência, comunicação preventiva e produtos de seguros voltados às populações vulneráveis. A colaboração entre setor privado, governo e sociedade civil é vista como essencial para desenvolver soluções que combinem prevenção e adaptação.

Estevão Scripilliti, diretor da Bradesco Vida e Previdência, apontou que é preciso ampliar o acesso à proteção por meio de produtos de seguros ainda mais simplificados.

Capital é fundamental

Além da indenização: A sustentabilidade é um motor para desenvolvimento da economia, defende Franck Baron, presidente das International Federation of Risk & Insurance Management Associations (IFRIMA). “Ao incorporar a sustentabilidade em nossos processos centrais, podemos influenciar fluxos de investimento, incentivar tecnologias verdes e acelerar a transição para uma economia de baixo carbono”, disse Baron em participação online, no painel “Do Rio a Belém: Principais Marcos desde o Lançamento dos Princípios da ONU para Seguros Sustentáveis durante a Conferência Rio+20 de 2012”.

Economia real: Para que a transição para uma economia mais justa e sustentável seja possível, o setor de seguros desempenha um papel triplo: gestor de riscos, tomador de riscos e investidor. Além dos resgates pós-desastres, os seguros podem influenciar o fluxo de investimento em diferentes setores da economia.

Integração de políticas: De 2013 a 2024, desastres ambientais custaram R$ 732 bilhões ao Brasil – R$ 232 bilhões deste total foram cobertos pelos cofres públicos. Nesse cenário, a construção da resiliência exige a alfabetização em riscos entre autoridades públicas, compartilhamento de dados e cooperação entre seguradoras e governos. “Isso não é apenas uma questão econômica, mas também social e democrática. Sem a liderança do setor de seguros, os governos ficarão cegos diante do risco climático”, disse a economista francesa Laurence Tubiana (na foto acima, à direita), uma das principais arquitetas do Acordo de Paris. Tubiana é presidente da Fundação Europeia para o Clima (ECF) e enviada especial da Europa para a COP30.

Desigualdade: As mudanças climáticas intensificam desigualdades e escancaram o chamado gap de proteção. Os mais vulneráveis têm menos acesso a seguros e são os mais afetados por desastres. Na América Latina, 87% das perdas econômicas em 2024 não estavam seguradas. No Brasil, o índice chega a 90%–95%, contra 40% nos Estados Unidos. O desafio é criar modelos de seguros sustentáveis e inclusivos, que considerem critérios sociais, econômicos e territoriais.

Passaporte para o clima: Tubiana propõe que seguros, governos e bancos se unam para coordenar ações e trocar informações sobre mudanças do clima. A ideia é mapear riscos e aumentar a transparência.

Multiplicador de investimento: O setor mudou de quem paga o prejuízo para quem previne o risco. Hassan El-Shabrawishi, CEO da AXA International Markets, afirmou que cada dólar gasto em proteção pode gerar até quatro vezes mais investimento e que “o preço da inação é muito maior que o da coragem”.

Palavra do empoderador

O mutualismo continua sendo a essência do setor de seguros: cada um contribui proporcionalmente ao seu risco, tornando a sociedade mais resiliente. O desafio agora é ampliar o acesso e mostrar que seguro é, antes de tudo, investimento em futuro

Ney Ferraz Dias, diretor-presidente da Bradesco Auto/RE

Florestas e soluções baseadas na natureza

Desafios: Para o CEO da Bradesco Seguros, Ivan Luiz Gontijo Junior, o grande desafio do setor segurador é equilibrar riscos cada vez mais abrangentes com soluções que garantam proteção real à sociedade. “É necessário ter um olhar mais digno para as pessoas, os acessos, os produtos e o atendimento”, disse.

Resiliência climática: O setor precisa recompensar a prevenção e a resiliência, adotar financiamento pré-arranjado para desastres, promover soluções baseadas na natureza e desenvolver produtos para diferentes tipos de risco, evitando que regiões se tornem “inseguráveis”.

Soluções baseadas na natureza: Segundo Butch Bacani (na foto, à esquerda), head de seguros da Iniciativa de Finança do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP-FI), a transição sustentável depende de uma ação conjunta entre finanças e natureza para garantir condições de vida às futuras gerações. Um exemplo são os chamados “sumidouros de carbono”, como as florestas.

Lançamento na COP30: Bacani falou ao Reset sobre o lançamento, na próxima sexta-feira (14), do terceiro volume do guia do Forum for Insurance Transition to Net Zero (FIT). O primeiro, lançado em abril de 2024, e o segundo, em julho deste ano, foram as publicações mais baixadas da UNEP-FI nos últimos 12 meses. “Isso mostra que construímos um guia que é prático e útil, especialmente para pequenas e médias seguradoras espalhadas pelo mundo, que não sabem por onde começar a transição”, disse Bacani. Dyogo Oliveira (na foto, ao meio) lembrou que a CNseg foi a primeira entidade a aderir ao FIT.

Imagens do dia


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