Notas de Dubai: Crescem as chances de menção aos fósseis

Movimento por decisão que aponte saída dos combustíveis sujos ganha força; restam quatro dias de negociações

Pilha de barris de petróleo com um deles manchado em primeiro plano
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O PÂNTANO DO PETRÓLEO

Um caminho pantanoso de petróleo separa a COP28 de um final bem-sucedido. Restam quatro dias de negociações. O sucesso do encontro depende do Global Stocktake, ou Balanço Geral. Oito anos depois do Acordo de Paris, os países vão oficializar o que todos já sabem –precisamos fazer mais e mais rápido. Mais importante que isso, o documento vai dar as diretrizes para a próxima rodada de compromissos nacionais de descarbonização. Crucialmente, isso pode incluir menções à necessidade de parar de produzir e usar combustíveis fósseis.

DOWN OR OUT?

Nas 27 edições da conferência do clima, o termo “combustíveis fósseis” nunca apareceu nas decisões oficiais. Em Glasgow, dois anos atrás, a intenção era incluir um “phase out” (eliminação gradual) do carvão, especificamente. Momentos antes da plenária final, China, Índia e outros países em desenvolvimento ameaçaram melar as coisas, pois suas economias dependem da eletricidade gerada em térmicas a carvão. Um intenso vaivém de ministros resultou na versão aprovada: um “phase down” (redução gradual) do carvão “unabated”, ou seja, cujas emissões não foram capturadas na fonte.

OR NOTHING AT ALL?

Em Dubai, a dinâmica está se repetindo, mas desta vez em torno de todos os combustíveis fósseis, ou seja, incluindo petróleo e gás natural. O “phase down” e o “phase out” estão na mesa. O termo “unabated” parece ter sido substituído por “emissões”: em vez de focar na produção e queima dos fósseis, alguns países querem se falar em emissões (no fundo a ideia é a mesma). Também existe a chance de que o texto do Global Stocktake simplesmente não toque no assunto. Mas cresce a sensação de que haverá algum tipo de referência aos fósseis. Mesmo com ressalvas, seria uma decisão histórica.

A OPEP SE MANIFESTA

O cartel do petróleo se manifestou sobre a COP. Em carta aos seus 13 integrantes, o presidente da Opep disse que eles devem “proativamente rejeitar qualquer texto ou formulação alvejando energia em vez de emissões”. Pelas regras da Convenção do Clima, todas as decisões têm de ser unânimes. Um único país pode exercer seu poder de veto. A Opep, claro, é a organização da qual o Brasil se aproximou com a intenção de “influenciar a descarbonização” dos grandes produtores, segundo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

CELEBRIDADE

Na manhã deste sábado, Sultan Al Jaber atendia com paciência e sorrisos quem o parava a caminho de sua sala para pedir uma selfie. Como talvez nenhum outro presidente de COP em 28 anos, Al Jaber é um dos grandes pontos focais da conferência. Toda a atenção recebida por ele desde março, quando foi indicado para liderar as negociações. vai atingir o ápice nos próximos dias.

CONTAGEM REGRESSIVA

Presidente da Adnoc, a estatal do petróleo dos Emirados Árabes, Al Jaber parece tentar impor uma disciplina de executivo ao trabalho dos diplomatas. Ele afirmou que espera bater o martelo da COP28 até as 11h da terça (4h de Brasília). Alguns reagiram com desdém: as conferências raramente terminam no prazo previsto. Por outro lado, a decisão sobre o fundo de perdas e danos, um dos temas essenciais em Dubai, foi adotada logo nas primeiras horas da COP28.

MAIS ÓLEO E GÁS – 1

Depois de meses de incerteza, foi decidida a sede da próxima COP. O encontro acontece no Azerbaijão, mais um país integrante da Opep cuja economia se baseia na exportação de petróleo e gás. Pelas regras da Convenção do Clima, há um revezamento regional entre os países anfitriões. A COP de 2024 deveria acontecer no Leste Europeu, mas países da UE ou alinhados com a Ucrânia foram vetados pela Rússia.

MAIS ÓLEO E GÁS – 2

A ex-república soviética do Azerbaijão fechou um acordo com a Armênia, com quem trava uma disputa territorial há três décadas, para receber a conferência do clima. A COP29 deve acontecer na capital do país, Baku. Em 2025, a COP será realizada em Belém, no Pará.