COP

ETF 'de baixo carbono' da BlackRock bate recorde de captação na estreia

Novo fundo que ranqueia empresas pela 'prontidão para a transição de baixo carbono' capta US$ 1,25 bi na largada — marcando o maior lançamento de um ETF na história

ETF 'de baixo carbono' da BlackRock bate recorde de captação na estreia

Um fundo de índice que ranqueia as empresas pela sua capacidade de prosperar na transição para uma economia de baixo carbono, que acaba de ser lançado pela BlackRock, bateu o recorde como o ETF (ESG ou não ESG) que mais captou recursos na estreia.

O BlackRock U.S. Carbon Transition Readiness, lançado na quinta-feira sob o ticker LCTU, captou US$ 1,25 bilhão na listagem, em mais um sinal do apelo do tema da sustentabilidade e da transição energética como tese de investimento. 

Investidores institucionais como o California State Teachers Retirement System (Calstrs), o Temasek, de Cingapura, e a resseguradora ReinaissanceRe, ancoraram o lançamento. 

O recorde anterior também era de uma estratégia com viés socioambiental, o iShares ESG MSCI USA Leaders Fund, que estreou com US$ 850 milhões sob gestão em maio de 2019. 

O novo ETF da BlackRock pondera um índice acionário mais amplo — no caso, o Russell 1000, que une as mil maiores empresas por valor de mercado dos Estados Unidos — de acordo com um score proprietário de “prontidão para a transição de baixo carbono”. 

Se a projeção é que a companhia está bem posicionada nesse quesito, ela tem um peso maior no ETF do que no índice original — e vice-versa. A metodologia desenvolvida pela BlackRock leva em conta fatores como pegada de carbono,  uso de energia,  desenvolvimento de tecnologias limpas, gestão de resíduos e uso de água. 

Os dados são gerados internamente pela BlackRock e parte deles vem de outros provedores de informações ESG, como MSCI, Sustainalytics e Refinitiv. 

O que tem dentro 

Produtos financeiros desse tipo visam canalizar mais recursos para empresas que estão se adaptando em direção ao mundo de baixo carbono e são uma oportunidade para aumentar a exposição a empresas que estão à frente na transformação — e que, ao menos em tese, devem ser mais resilientes e capturar oportunidades no cenário de mudanças climáticas.

Mas, na prática, não costumam fugir muito da composição do índice de referência, o que faz alguns investidores mais céticos questionarem sua efetividade.  

É o caso do novo ETF. A Apple é a maior posição no novo produto, com peso de 5,20%, contra 5,39% no índice de referência, seguida por Microsoft, Google e Facebook, também com pequenas alterações. 

A Tesla, que fabrica carros elétricos, tem peso de 1,43% no ETF, contra 1,33% no Russell.  A Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, que investe em petroleiras como a Chevron e vem lutando contra representações de acionistas por maior transparência climática, tem pesos iguais e figura entre as dez principais posições em ambos os índices. 

É o mesmo caso do JP Morgan, que não emite muito carbono diretamente nas suas operações, mas é um dos maiores financiadores da indústria de petróleo. 

O ETF que investe em companhias americanas foi lançado em paralelo a um “irmão”, com a mesma estratégia, mas que investe em companhias fora dos Estados Unidos. Negociado com sob o ticker LCTD, o produto parte do índice MSCI All World ex-US Index e também teve captação expressiva, de US$ 475 milhões no lançamento. 

De olho no portfólio passivo

Na sua tradicional carta aos CEOs das investidas publicada todo mês de janeiro, Larry Fink, o número um da BlackRock, já havia sinalizado que iria apostar na criação de ETFs voltados a critérios ESG como uma forma de encaminhar a questão climática no portfólio de fundos passivos, que representa dois terços dos US$ 9 trilhões sob gestão. 

Boa parte dos fundos passivos da BlackRock segue índices como o S&P 500 ou o MSCI World, compostos por empresas muito intensivas em emissões de carbono. 

Na carta, em que cobrou uma postura mais ativa das empresas em relação a seus compromissos para a transição para uma economia de baixo carbono, Fink afirmou que queria tornar o net-zero uma estratégia investível. 

A estratégia da maior gestora de recursos do mundo vem num momento conveniente: os ETFs que focam em investimentos ESG atraíram um recorde de US$ 31 bilhões em 2020, quatro vezes o captado no ano anterior, impulsionados principalmente pela “onda verde” esperada nos Estados Unidos após a eleição de Joe Biden. 

Hoje esses produtos somam US$ 74,8 bilhões, contra apenas US$ 10 bilhões dois anos atrás, de acordo com dados da Bloomberg. 

O maior ETF nesse espaço também é da BlackRock. O iShares ESG Aware MSCI USA ETF, com US$ 16,3 bilhões em ativos, está negociando no seu maior valor histórico, depois de ter se valorizado mais de 50% nos últimos 12 meses.

LEIA MAIS 

ETFs de energia limpa vão passar por ampla reforma — que pode afetar Cemig e Copel

Estratégia ESG lidera (com folga) negócios com ETFs da BlackRock na B3

Provedores de rating ESG na mira da regulação europeia