Negando o negacionismo
O presidente do Banco Mundial, David Malpass, chegou à COP27 com a missão de recuperar sua reputação e a da instituição que lidera. Em setembro, durante a Semana do Clima, em Nova York, um jornalista perguntou se ele aceitava a ciência do clima.
“Nem sei, não sou cientista e essa não é uma pergunta.”
O estrago foi grande. Indicado para o cargo por Donald Trump, Malpass foi chamado de negacionista. Ele viria a pedir desculpas pelo comentário, mas o estrago já estava feito.
Na COP27, questionado mais uma vez, ele disse não negar as conclusões científicas. Mas o problema vai além do comando da entidade.
O Banco Mundial vem sendo criticado por fazer menos do que deveria para ajudar os países mais vulneráveis a lidar com a emergência climática: juros de mais, dinheiro de menos e recursos para projetos que jogam mais carbono na atmosfera.
“Não tenho problema pessoal com ele”, disse o ex-vice-presidente americano Al Gore ao New York Times. “Mas sua abordagem deixa muito a desejar em relação ao que o mundo precisa.”
Cerco aos ativistas
Sanaa Seif, irmã do ativista pró-democracia Alaa Abdel Fattah, foi acusada de “espalhar fake news” por um advogado alinhado à ditadura militar que governa o país. O caso ainda não foi aceito oficialmente pela promotoria egípcia.
Esse foi o crime pelo qual Abdel Fattah foi condenado – em um julgamento farsesco, segundo defensores dos direitos humanos. Existe o temor de que sua irmã também seja presa.
Em greve de fome há sete meses, Abdel Fattah anunciou que deixaria de beber água no primeiro dia da conferência. A família pede informações sobre o estado de saúde do preso político e afirma que ele pode estar sendo alimentado à força por via intravenosa.
A força do lobby
Mais uma vez, a indústria dos combustíveis fósseis tem mais representantes do que qualquer delegação nacional, com exceção da representação dos Emirados Árabes Unidos, que receberá a COP do ano que vem.
São 636 lobistas representando as indústrias de óleo, gás e carvão, segundo um levantamento publicado hoje pela Global Witness.
Sanduíche ou miragem?
Dos problemas de organização da COP27, como a internet instável e a péssima sinalização, o que vem causando mais queixas é a comida. Nos primeiros dias, o nome Grab and Go nos quiosques era uma boa piada para puxar conversa com os colegas das longas filas. Mas os comentários irônicos deram lugar à frustração.
A esta altura, todos já aprenderam a lidar com o sistema. O procedimento é ir ao balcão, conferir se sobrou algo, pegar o sanduíche (ou quiche, ou croissant, as únicas três opções) e só então entrar na fila.
É normal chegar ao caixa depois de ter comido e bebido tudo.
Na manhã desta quinta-feira, surgiram os primeiros sinais de uma possível solução.
Os preços da comida, que não são muito diferentes do que se paga em cidades como Nova York ou Londres – ou seja, caríssimo para quem vem de qualquer outra parte do mundo – foram cortados.
E água e refrigerantes agora são distribuídos gratuitamente. Nos últimos dias, alguns participantes tinham decidido recorrer ao, digamos, “self-service”, pegando bebidas diretamente das caixas empilhadas que abasteceriam os pontos de venda.
“É questão de sobrevivência”, disse um rapaz que confessou o furto. “Não vim para a COP para morrer de sede.”
Esse risco ele não corre mais.
* O jornalista viaja a convite da International Chamber of Commerce