Seleção das castanhas colhidas na reserva legal comunitária do assentamento é feita na fábrica de beneficiamento da Cooperativa do Vale do Amanhecer. Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Belém – Oferecer um roteiro global para transformar ativos naturais e sociobiodiversidade em oportunidades econômicas com governança e trocas de experiências entre países. Esse é o objetivo de uma iniciativa lançada nesta segunda-feira (17) na COP30

Chamada de Bioeconomy Challenge, a iniciativa nasce com objetivos pragmáticos: criar métricas comuns, reduzir incertezas e desenvolver mecanismos financeiros capazes de destravar capital para projetos de bioeconomia em escala. Ela é liderada pelo Brasil em parceria com organismos multilaterais e a sociedade civil e está prevista para durar três anos.

Segundo a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o desafio é construir pontes entre ciência, mercado e comunidades. “Estamos unindo métricas que revelem o verdadeiro valor da natureza ao financiamento que chega a quem protege os territórios”, afirmou em reunião interministerial.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente, com isso a bioeconomia foi, pela primeira vez, reconhecida formalmente dentro do processo da COP como um caminho estratégico para o cumprimento dos compromissos climáticos dos países, as NDCs. 

Ela, porém, não faz parte das negociações oficiais da Conferência do Clima da ONU, mas sim da chamada Agenda de Ação, um instrumento do Acordo de Paris que envolve os atores que não são parte formal da COP. Em outras palavras, representa o ponto de contato das COPs com o “mundo real”. 

O Bioeconomy Challenge entrou na meta 29 da Agenda de Ação da COP30. 

A plataforma se apoia em cinco frentes: florestas, agricultura regenerativa e restauração, sociobioeconomia, bioindustrialização e inovação em financiamento. Para dar tração à agenda, quatro grupos de trabalho multilaterais vão elaborar padrões, indicadores e instrumentos financeiros até 2028. 

Do ponto de vista econômico, o gargalo é conhecido: a ausência de parâmetros claros e comparáveis reduz a confiança dos investidores e impede a formação de mercados consistentes. O desafio quer preencher exatamente essa lacuna e, com isso, tornar a bioeconomia um segmento capaz de competir por capital global.

“Para liberar o potencial da bioeconomia, precisamos torná-la mensurável e atraente para investimentos”, disse Julie McCarthy, CEO da NatureFinance e responsável pela secretaria executiva da iniciativa. 

A expectativa é que, até 2028, a plataforma entregue um kit completo de padrões, ferramentas e diretrizes para orientar governos e empresas na integração da natureza à estratégia econômica. Isso inclui desde indicadores de impacto até modelos de blended finance adaptados à sociobioeconomia.

A FAO, braço da ONU para alimentação e agricultura, vai liderar o grupo de trabalho voltado para métricas; o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), os mecanismos de financiamento; a UNCTAD, órgão da ONU que trata de comércio, o desenvolvimento de mercados. Por fim, a organização não-governamental WRI cuidará dos benefícios comunitários.

A iniciativa também busca garantir que a expansão da bioeconomia seja, de fato, inclusiva. O WRI e parceiros regionais vão trabalhar na formalização de benefícios tangíveis para povos tradicionais, comunidades locais e cadeias produtivas baseadas em florestas tropicais.

Para Kaveh Zahedi, da FAO, o alinhamento global será decisivo. “A bioeconomia só crescerá se estiver ancorada em indicadores específicos e comparáveis, para que sustentabilidade signifique a mesma coisa em todos os lugares”, afirmou.