Ana Toni: Resultado da COP acelera investimentos verdes no Brasil

Para a secretária de Mudança do Clima, definição de prazo para eliminação de fósseis abre série de oportunidades em combustíveis renováveis e soluções baseadas na natureza

Ana Toni: Resultado da COP acelera investimentos verdes no Brasil
A A
A A

O surpreendente resultado da COP28, em Dubai, tem o potencial de “destravar a porta” dos investimentos em transição para uma economia de baixo carbono no Brasil, na visão de Ana Toni, secretária de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente.

“Há 30 anos sabemos que os combustíveis fósseis estão na origem do problema do aquecimento global e pela primeira vez está no documento da conferência a transição para a sua eliminação. Sai dessa COP um resultado muito específico, apontando que o caminho do futuro é o da descarbonização e que os investimentos têm que se alinhar a isso”, disse ela ao Reset.

“Isso abre uma série de oportunidades para o Brasil, que tem uma variedade de combustíveis renováveis para oferecer. Deve acelerar também nossa capacidade de exportar hidrogênio verde.”

Segundo Toni (à direita na foto), o documento final da COP de Dubai também traz menção ao financiamento para soluções de descarbonização baseadas na natureza, algo que interessa muito ao país, por conta dos recursos naturais abundantes.

“O Brasil tem vantagens comparativas na economia de baixo carbono. Agora é focar em como transformar em vantagens competitivas”, disse ela.

Apesar do grande avanço, ela reconhece que colocar no papel o compromisso de uma transição que se afaste dos combustíveis fósseis (transition away from, no documento em inglês) para atingir o net zero até 2050 é diferente de efetivamente garantir o cumprimento da meta. 

“É só o primeiro passo, o começo, que manda sinais políticos importantes não só para os governos, mas também para os investidores do setor privado.”

Na COP de 2024, que foi confirmada no Azerbaijão, serão discutidos os meios de implementação e financiamento da meta de eliminação dos combustíveis fósseis, disse. “E na COP30 [no Brasil], é onde as novas metas nacionais de redução de gases de efeito-estufa, as NDC, terão que ser alinhadas ao resultado deste ano.”

Nesse quesito, observa, o Brasil sai na frente por já tem uma NDC “mais ambiciosa e forte” do que outros países de igual dimensão e que terão que acelerar o passo a partir de agora.

Toni disse também que o resultado da COP deverá direcionar os trabalhos do Plano Clima, que está em elaboração pelo governo e que definirá os cenários para redução das emissões por diversos setores da economia brasileira. 

“O grupo de trabalho coordenado pelo Ministério de Minas e Energia, com o fórum de transição energética, vai beber dos sinais que saíram daqui de Dubai.”

Mercado de carbono

Toni lamentou que a conferência não tenha conseguido chegar num acordo em torno da implementação do Artigo 6 do Acordo de Paris, que cria as bases uma espécie de mercado global de carbono. “Estados Unidos e Europa divergiram sobre critérios de integridade e, infelizmente, isso vai demorar.”

Mas ela espera que a aprovação do marco do mercado de carbono regulado no Brasil ganhe um impulso na Câmara dos Deputados.