
A Re.green, startup brasileira de reflorestamento, foi uma das vencedoras do Prêmio Earthshot 2025. A cerimônia de premiação aconteceu nesta quarta-feira (5), no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro.
A empresa derrotou o outro finalista brasileiro, o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), mecanismo financeiro para remunerar os países em desenvolvimento que preservam suas florestas tropicais. Os projetos concorreram na categoria “Proteger e Restaurar a Natureza” com a iniciativa sueca Tenure Facility.
Fundado em 2020, o Earthshot é um dos reconhecimentos mais prestigiados do mundo quando o assunto é impacto ambiental positivo. O vencedor de cada categoria recebe 1 milhão de libras (aproximadamente R$ 7 milhões).
O clima da cerimônia foi de celebração. A bateria da escola de samba Beija-Flor abriu a noite, seguida por apresentações de Anitta, Gilberto Gil e outros artistas. Antes do anúncio do último vencedor, Jorge Ben Jor cantou “Heroes”, de David Bowie, com a mensagem que “podemos ser heróis, só por um dia”.
“Não é exagero dizer que eles [os vencedores] são os verdadeiros heróis do nosso tempo”, disse o príncipe William, idealizador do projeto. “O impacto desse esforço já pode ser sentido nos oceanos, nos céus e na natureza ao nosso redor. Sei que, em tempos incertos, é fácil sentir desânimo, mas este não é o momento para desistir. Nossos finalistas provam que é possível construir economias mais fortes, cidades mais saudáveis e empregos melhores para as próximas gerações.”
Todos os finalistas recebem mentorias e suporte técnico por meio de um programa de bolsas do prêmio, com acesso a uma rede de empresas, investidores e especialistas em clima. Os nomeados são escolhidos por um comitê científico e técnico, que reúne especialistas em clima, lideranças indígenas e celebridades. Todo ano, aproximadamente duas mil soluções são indicadas por instituições credenciadas ao Earthshot para que sejam avaliadas.
Restaurando florestas
A Re.green foi fundada em 2021 com o objetivo de restaurar grandes áreas de florestas tropicais, especialmente na Amazônia e na Mata Atlântica. Ela tem como meta recuperar 1 milhão de hectares de áreas degradadas.
“A Re.green nasceu com um sonho ambicioso: provar que é possível gerar riqueza não destruindo a natureza, como fizemos por milhares de anos, mas restaurando-a”, disse Bernardo Strassburg, fundador da startup, ao receber o prêmio das mãos da ginasta e medalhista olímpica Rebeca Andrade.
Entre os sócios da empresa estão o family office dos Moreira Salles, a Gávea Investimentos, de Armínio Fraga, e Guilherme Leal, um dos co-fundadores da Natura. Atualmente, a Re.green conduz a restauração e conservação de mais de 36 mil hectares na Amazônia e Mata Atlântica.
Para Thiago Picolo, CEO da Re.green, o reconhecimento internacional do Earthshot tem potencial de gerar mais negócios e ajuda a consolidar o setor de restauração florestal.
“Nós ficamos muito felizes com o reconhecimento do Earthshot Prize, e de estarmos juntos de um grupo tão qualificado de finalistas. É uma validação para nossa empresa, e um apoio para o desenvolvimento do setor de restauração ecológica”, disse Picolo ao Reset.
Entre os clientes da startup, estão Microsoft e Nestlé, com quase 7,4 milhões de créditos já negociados. Em maio deste ano, a companhia conseguiu a liberação de R$ 80 milhões pelo Fundo Clima, administrado pelo BNDES, após o Bradesco oferecer uma carta fiança como garantia.
Revitalizar os oceanos
A segunda categoria, que trata sobre proteção dos oceanos, foi apresentada pelo craque Cafu. O prêmio foi para “The High Seas Treaty”, a primeira estrutura jurídica global para Áreas Marinhas Protegidas em Alto Mar, que estabelece medidas para evitar a pesca excessiva, conservar a vida marinha e promover a participação justa dos países em desenvolvimento.
A iniciativa começou a ser articulada em 2011, quando países e organizações da sociedade civil se mobilizaram para preencher uma lacuna na proteção das áreas além da jurisdição nacional.
Após quase duas décadas de trabalho e cinco anos de negociações formais, os governos chegaram, em março de 2023, a um tratado histórico que estabelece mecanismos para preservar a biodiversidade em águas internacionais e contribui para a meta global de proteger 30% dos oceanos até 2030.
Impacto na moda
A vencedora da categoria “Construir um Mundo Sem Resíduos” foi a Lagos Fashion Week, o maior evento de moda da África. Criada em 2011, a iniciativa reúne estilistas que adotam práticas sustentáveis em toda a cadeia de produção – da escolha dos tecidos ao transporte das peças.
Além dos desfiles, a Lagos Fashion Week promove programas voltados ao fortalecimento de cadeias locais, à valorização do artesanato e ao reaproveitamento de materiais. O setor da moda é um dos mais poluentes do mundo: menos de 1% dos têxteis é reciclado e transformado em novas peças de vestuário.
Diante desse cenário, Omoyemi Akerele, fundadora e CEO da Lagos Fashion Week, faz um apelo: “Precisamos sustentar a criatividade global e garantir que a moda, por meio dessa transformação, preserve a cultura e reduza seu impacto ambiental. Convidamos as semanas de moda e nossos parceiros do Sul Global a se unirem a nós nessa jornada.”
Linha de frente
Na categoria “Combater a Crise Climática”, o prêmio foi para a Friendship, organização fundada em 2002 por Runa Khan em Bangladesh, país altamente vulnerável às mudanças do clima. O projeto começou com um hospital flutuante e hoje atende mais de 7,5 milhões de pessoas por ano.
Com soluções como escolas desmontáveis e assentamentos elevados para resistir a inundações, a Friendship tornou-se referência em adaptação climática e resiliência comunitária em uma das regiões mais vulneráveis do planeta.
“Obrigada por reconhecerem que os pobres não podem ter soluções pobres”, disse Runa Khan. “O prêmio Earthshot nos permite fazer com que o nosso trabalho cresça e inspire outros nacionalmente e internacionalmente”.
A organização também lidera ações de restauração de manguezais, com mais de 650 mil árvores plantadas em 200 hectares, criando barreiras naturais contra ciclones e reduzindo emissões de carbono.
Cidade sem poluição
A vencedora da categoria “Purificando o Ar” foi a cidade de Bogotá, reconhecida por sua transformação em direção a uma mobilidade mais limpa e saudável. Após enfrentar níveis críticos de poluição atmosférica nas últimas décadas, a capital colombiana implementou uma série de políticas voltadas à qualidade do ar e à sustentabilidade urbana.
Entre as medidas, estão a ampliação da rede de ciclovias, a adoção de uma das maiores frotas de ônibus elétricos do mundo, a criação de áreas verdes e o lançamento da Zona Urbana para o Ar Limpo (ZUMA), em um dos bairros mais vulneráveis da cidade. Desde 2018, Bogotá reduziu em quase 24% os níveis de poluição.
Lista dos vencedores
Categoria “Proteger e Restaurar a Natureza”
Re.green (Brasil)
Categoria “Purificar o Ar”
Cidade de Bogotá (Colômbia)
Categoria “Revitalizar os Nossos Oceanos”
The High Seas Treaty (Global)
Categoria “Construir um Mundo Sem Resíduos”
Lagos Fashion Week (Nigéria)
Categoria “Combater a Crise Climática”
Friendship (Bangladesh)