A Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) e a Reservas Votorantim estão começando a vender os primeiros créditos de carbono de conservação de vegetação nativa no Cerrado.
No Brasil, os créditos de desmatamento evitado e manejo florestal, chamados de REDD+, eram até agora praticamente uma exclusividade da Amazônia.
Os créditos serão viabilizados por meio do Legado Verdes do Cerrado, uma reserva privada de desenvolvimento sustentável localizada em Niquelândia, em Goiás, que pertence à CBA e é gerida pela Reservas Votorantim, empresa criada para monetizar os ativos ambientais do grupo de mesmo nome.
Foi aberto um leilão para receber proposta pela primeira leva, de 316 mil créditos de carbono referentes ao período de 2017 e 2021. Ao todo, a área certificada tem 11,5 mil hectares e capacidade de emissões médias anuais de 50 mil créditos de carbono, segundo as companhias.
Em linhas gerais, esses créditos representam o dióxido de carbono que deixou de ir para atmosfera caso a floresta fosse derrubada para dar lugar a outras atividades – como o plantio de soja e outros grãos, que dominam a região. (Entenda como funcionam os mercado de créditos de carbono.)
Os projetos de REDD foram feitos em área de excedente florestal conservado, com produção agropecuária adjacente. Pela legislação, os produtores rurais precisam manter 20% da área de vegetação nativa como reserva legal. O que excede isso, em teoria, pode ser dedicado a projetos de carbono.
“Após mais de dois anos de estudos, conseguimos adaptar para o Cerrado uma das metodologias mais respeitadas do mundo, que antes só era aplicada na Amazônia”, afirma David Canassa, diretor da Reservas Votorantim.
A iniciativa contou com as consultorias ERA (Ecosystem Regeneration Associates) e a Eccon Soluções Ambientais no desenvolvimento e implementação do projeto.
Desafios do REDD no Cerrado
Em teoria, as metodologias de desmatamento evitado são aplicáveis a quaisquer regiões. Mas, além de particularidades técnicas que envolvem a diferença entre as vegetações nativas de cada região, o REDD no Cerrado tem outros desafios mais práticos.
Primeiro, porque os custos de transação são mais caros.
“Fazer a certificação de um projeto é muito caro. Na Amazônia, esses custos se diluem porque os territórios são gigantescos”, disse Canassa, em entrevista recente ao Reset.
Além disso, os volumes de créditos gerados por hectare na floresta são muito maiores: 350 toneladas de carbono por hectare, o dobro da produtividade do Cerrado.
Segundo porque, para que a solução efetivamente vingue, o preço do crédito de carbono tem de ser bem mais alto do que os atuais preços praticados no mercado para compensar os retornos expressivos com a soja.
Para isso será preciso encontrar compradores dispostos a pagar o prêmio pelo crédito.
“Nas nossas contas, para que o Cerrado fique em pé contra trocar por soja, esse crédito precisaria valer US$ 40. Vamos conseguir esse preço? Não sei. Mas vamos tentar”, disse Canassa ao Reset.
Os preços variam muito, mas, a título de comparação, hoje um crédito REDD+ da Amazônia com benefícios sociais e ambientais são vendidos a cerca de US$ 15.
Nesse sentido, as cotações que a CBA e a Votorantim conseguirem nesse primeiro projeto podem sinalizar até que ponto o crédito de carbono do Cerrado pode ganhar escala como solução para manter a vegetação em pé.
“O preço não será o único critério na escolha das propostas, pois queremos fidelizar empresas que pretendem usá-los em suas estratégias de descarbonização”, afirmou João Daniel de Carvalho, diretor da ERA, que é responsável pelo leilão dos créditos, em nota.
Os créditos do Legado Verdes do Cerrado estão registrados e foram auditados pela Verra e contam com o selo Climate, Community & Biodiversity Standards, que atesta que há co-benefícios associados à manutenção da vegetação.