CARBONO

Mombak consegue fiança para acessar recurso do Fundo Clima

Startup precisou apresentar garantia para o  BNDES, gestor do fundo; recursos são para projetos de restauração florestal que vão gerar créditos de carbono

Mombak consegue fiança para acessar recurso do Fundo Clima

A Mombak finalmente vai acessar parte do financiamento de R$ 160 milhões aprovado pelo BNDES no ano passado. A startup de créditos de carbono de reflorestamento conseguiu uma fiança bancária do Santander para sacar R$ 100 milhões para seus projetos de restauração florestal.  

O desembolso virá de duas frentes: R$ 80 milhões do Fundo Clima, com taxa de 1,5% ao ano e prazo de 25 anos, e R$ 20 milhões do BNDES Finem, linha de financiamento para inovação, com taxa próxima de 12,5% ao ano e prazo de 15 anos. 

A aprovação do empréstimo foi anunciada em agosto do ano passado, mas o banco de desenvolvimento pediu uma garantia para o empréstimo por se tratar de uma startup e de um negócio ainda em desenvolvimento. 

A Mombak usará o dinheiro para expandir seus projetos de reflorestamento com uso de espécies nativas no Pará, onde concentra suas operações, e impulsionar a cadeia produtiva do setor, ainda embrionária. 

A startup já tem contratos de venda de créditos de carbono com grandes clientes, como Microsoft e Google. Fundada em 2021, a empresa captou US$ 200 milhões (mais de R$ 1,15 bilhão, na cotação atual) para projetos de remoção de carbono na Amazônia.

“Esse financiamento é um marco para o setor de remoção de carbono no Brasil. Reforça que o reflorestamento não é apenas uma prioridade ambiental, mas também um negócio escalável com forte demanda de mercado”, disse Peter Fernandez, CEO e cofundador da Mombak, em nota. 

Este é o primeiro desembolso do Fundo Clima para restauração florestal desde que foi relançado, em 2023.  

Em janeiro de 2024, a Re.green também teve recursos para restauração aprovados pelo BNDES, mas o desembolso ainda não foi feito. A startup tem como objetivo a recuperação de 1 milhão de hectares e carrega entre seus sócios o family office dos Moreira Salles, a Gávea Investimentos, de Armínio Fraga, e Guilherme Leal, um dos controladores da Natura.

Os negócios de reflorestamento são responsáveis pela geração de créditos de remoção de carbono, vistos com maior credibilidade pelo mercado que os de conservação florestal, os REDD+, mais populares no Brasil. 

Restaurar custa caro, com valores que variam de R$ 20 mil a R$ 50 mil por hectare. Novas formas de financiamento são demandadas pelos desenvolvedores de projetos, e garantias pelos financiadores. 

Na nova iniciativa da Petrobras com o BNDES para incentivar a restauração, por exemplo, o plano é que contratos de 25 anos e preços pré-estabelecidos sejam usados como garantia da operação. O modelo ainda não está fechado, e a minuta do contrato está em consulta pública.

Novo Fundo Clima

O Fundo Clima foi lançado em 2009 e reformulado em março de 2023 para facilitar o acesso a capital por projetos de iniciativas que fortaleçam a transição para uma economia verde. 

Os recursos podem ser não-reembolsáveis, administrados pelo Ministério do Meio Ambiente, ou reembolsáveis, geridos pelo BNDES. A segunda modalidade tem taxas que variam de 1% a 8% para projetos de florestas nativas à geração de energia eólica e solar – o que permitiu a taxa baixa para a Mombak na maior parte do crédito concedido.

“A primeira operação do Novo Fundo Clima para restauro florestal é simbólica como marco da atuação do governo federal no reflorestamento da Amazônia e da atuação do BNDES como impulsionador de um novo mercado, de um novo caminho para o desenvolvimento do Brasil”, disse o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, em nota.

As soluções baseadas na natureza têm um enorme potencial no Brasil, mas precisam de soluções inovadoras de financiamento para que possam decolar, pontua Leonardo Fleck, head sênior de sustentabilidade do Santander Brasil. 

Em 2024, o BNDES aprovou R$ 10,4 bilhões em financiamentos pelo Fundo Clima – o quanto foi desembolsado não foi informado. A maior parte dos recursos foi disponibilizada pela emissão de títulos soberanos sustentáveis pelo Tesouro Nacional.