Como parte de seu compromisso de se tornar neutra em carbono até 2050, a BP se comprometeu no ano passado a cortar sua produção de combustíveis fósseis em 40% até o fim da década, numa decisão que foi aprovada por 88% de seus acionistas.
Em fevereiro deste ano, após divulgar um lucro recorde de US$ 27 bilhões com a disparada dos preços em meio a guerra da Ucrânia, a petroleira mudou de direção e revisou o corte para 25% – sem levar o assunto à assembleia.
Às vésperas da reunião anual prevista para a próxima quinta-feira, cinco dos maiores fundos de pensão do Reino Unido estão fazendo forte pressão sobre a companhia e pretendem votar contra a reeleição do presidente do conselho Helge Lund.
“É frustrante ver a BP voltar atrás em seus compromissos climáticos e particularmente preocupante que a companhia não tenha nos dado a chance de votar numa decisão tão significativa”, disse ao Financial Times Diandra Soobiah, head de investimento responsável da Nest, fundo que administra os planos de previdência de mais de 11 milhões de britânicos.
O Brunel Pension Partnership, o Border to Coast e o LGPS Central, que gerem as aposentadorias dos funcionários de universidades no Reino Unido, também já anunciaram que votarão contra Lund. Juntos, os fundos têm £ 224 bilhões sob gestão.
Quando anunciou a suavização da meta climática, o CEO da BP atribuiu o movimento como uma resposta às preocupações crescente com segurança energética trazidas pela guerra com a Ucrânia, mas disse que a companhia continua comprometida em atingir o net zero até 2050.
Os investidores questionam a meta de neutralidade. “Temos sérias preocupações sobre o sucesso de longo prazo da companhia se ela continuar neste caminho”, acrescentou Soobiah, para quem a empresa deveria usar o lucro recorde para investir mais em tecnologias de baixo carbono e energias renováveis.
A nova meta de BP implica uma redução de 20% a 30% nas emissões até 2030, comparado com o objetivo anterior de 35% a 40%.
O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) da ONU já estabeleceu que, para limitar o aquecimento global em 1,5ºC em relação aos níveis pré-industriais, o mundo precisa atingir a neutralidade de carbono até 2050. Para isso, será necessário cortar quase pela metade as emissões até 2030.
Os fundos de pensão já anunciaram que pretendem apoiar também uma resolução a ser apresentada pela rede ativista Follow This, que exige que a BP alinhe seus planos ao que estabelece o Acordo de Paris.
A Reclaim Finance, outra rede ativista que faz lobby para o setor financeiro se alinhar com os compromisso climáticos, também está angariando votos de investidores contra o pano de remuneração do CEO Bernard Looney e do CFO Murray Auchincloss. Segundo eles, a política de remuneração contempla de maneira apropriada as responsabilidades climáticas.
Separadamente, a Glass Lewis, uma das principais firmas a aconselhar investidores sobre votos em assembleias, recomendou que os acionistas votem contra o pacote de remuneração de £ 10 milhões de Looney, por conta da morte de dois trabalhadores da BP numa refinaria nos Estados Unidos. Investigações mostraram falhas nos processo de treinamento e de segurança na unidade de Ohio.