O BNDES anunciou sua primeira compra de créditos de carbono, parte de um programa que pode destinar até R$ 300 milhões nos próximos dois anos para ajudar a desenvolver o mercado nacional de compensações voluntárias de emissões.
Nesta chamada inaugural, foram adquiridos R$ 8,7 milhões em créditos de cinco companhias desenvolvedoras: Biofílica Ambipar, Solví, Sustainable Carbon, Carbonext e Tembici.
Os créditos foram comprados a termo, ou seja, as atividades de redução ou remoção de CO2 (ou outros gases de efeito estufa) geradoras dos ativos ainda serão realizadas.
Os dois maiores volumes adquiridos nessa primeira experiência envolvem projetos de conservação de florestas. Conhecida pela sigla REDD+, essa modalidade é a principal fonte de créditos de carbono no Brasil hoje.
Um deles, da Biofílica Ambipar, envolve a preservação de quase 95 mil hectares da selva amazônica em dois municípios de Rondônia. Outro, da Carbonext, vai manter 20,5 mil hectares de mata em pé na região de Bujari, no Acre.
Mas uma das preocupações do banco foi incentivar formas mais variadas para sua geração e também alcançar outras regiões além da Amazônia, afirma Bruno Laskowsky, diretor de participações, mercados de capitais e crédito indireto do BNDES.
O projeto tocado pela Solví envolve a geração de energia via a queima do metano liberado em um aterro sanitário na cidade paulista de Quatá. A Tembici, que opera sistemas de bicicletas compartilhadas em São Paulo e no Rio de Janeiro, leva em conta a mudança da matriz de transporte.
“Atingimos nossa intenção de ter uma diversidade de características de projeto e de diversidade geográfica”, diz o diretor.
Crescendo o bolo
O objetivo principal, porém, é crescer o mercado como um todo, diz Laskowsky. A demanda de grandes empresas por compensações já existe e é crescente, mas o diretor faz uma ressalva.
“Você pode dizer: ‘Tem gente interessada no meu apartamento’. Mas o mercado só vai existir quando você vender sua casa. Muita gente interessada é uma coisa. Uma transação efetiva é outra.”
Segundo Laskowsky, a chancela do BNDES pode induzir mais negócios e criar mais demanda. Isso pode acontecer na forma de chamadas para compra (que devem ser realizadas anualmente, talvez até mais de uma vez por ano) ou também por meio de investimentos em fundos de créditos de CO2 que venham a ser criados.
Para atingir a expectativa de R$ 300 milhões, o BNDES está criando uma área especializada para lidar exclusivamente com os créditos de carbono. “A caixa de ferramentas é ampla.”
Outro contribuição esperada da iniciativa é o que Laskowsky chama de “taxonomia” dos projetos geradores de créditos. Uma condição imposta para a compra dos ativos foi o carimbo da americana Verra ou da suíça Gold Standard, as duas entidades líderes mundiais na certificação de créditos de carbono.
Além dessa exigência mínima, o BNDES vai “in loco confirmar o que foi apresentado nas propostas”, afirma o diretor. “Queremos saber como ele se reflete em biodiversidade, em melhoria de condições hídricas, na transição energética etc.” A ideia é que esse programa piloto ajude a criar uma diferenciação de qualidade.
Segurar ou vender?
Ainda não há uma definição do que será feito dos créditos uma vez que eles estejam no portfólio do banco. Uma possibilidade é segurá-los. Outra é negociá-los para “começar a formar uma cultura de trading e de investimento nesse mercado”, diz.
Mas a instituição também considera aposentá-los. Este é o procedimento adotado pelas companhias que adquirem créditos para compensar suas emissões voluntariamente: depois de comprados, eles são tirados de circulação.
Laskowsky afirma que o banco está levantando seu inventário completo de emissões de gases de efeito-estufa, um passo anterior ao offsetting.
De qualquer modo, se o banco quisesse compensar suas emissões comprando créditos, precisaria de um volume algumas ordens de grandeza superior ao adquirido nesta primeira rodada, pois sua conta completa de emissões envolve seu portfólio de crédito e também suas participações acionárias (o chamado escopo 3).