O BNDES está abrindo hoje uma chamada pública para a compra de até R$ 100 milhões em créditos de carbono no país.
É a primeira iniciativa de grande escala do tipo por parte do banco, que pretende investir até R$ 300 milhões na aquisição desses títulos nos próximos três anos.
A ideia é atuar como fomentador do mercado, garantindo não só capital para tirar projetos do papel, mas também dando chancela a padrões de qualidade para condução de iniciativas de redução de emissões de gases de efeito estufa.
“Nos colocamos numa posição de sermos catalisadores, articuladores desse processo, entendendo que o Brasil tem papel de protagonismo na agenda mundial da economia verde”, afirma Bruno Laskowsky, diretor de participações, mercado de capitais e crédito indireto do BNDES.
Serão elegíveis projetos com foco em reflorestamento, desmatamento evitado (que apoiam a conservação das florestas), energia de biomassa ou metano, e também do setor de agricultura sustentável. (Quer entender como funcionam os mercados de créditos de carbono? Clique aqui.)
O banco vai comprar tanto créditos já emitidos, quanto no chamado ‘mercado a termo’, que engloba projetos que já estão validados ou em processo de validação, mas que ainda não geraram os créditos. Na prática, esses últimos contratos funcionam como uma espécie de garantia de compra, que dá segurança para tirar os projetos do papel.
Saindo da prancheta
Em maio, o BNDES já fez uma operação-piloto de compra de R$ 10 milhões em créditos de carbono de cinco projetos, desenvolvidos por Biofílica, Solví, Sustainable Carbon, Carbonext e Tembici.
Agora, está aumentando o cheque máximo por projeto, de R$ 2 milhões para R$ 25 milhões.
E vai permitir a entrada de estruturadores financeiros de projetos, o que inclui fundos de investimento, além dos desenvolvedores e proprietários das terras.
A chamada para compra faz parte de um trabalho que vem sendo desenvolvido há cerca de dois anos pelo banco de fomento para mapear e entender o mercado de créditos de carbono, seu potencial e seus gargalos no Brasil.
O banco estruturou uma nova área de 10 pessoas integralmente dedicada a projetos de carbono, liderada por Fabio Ribeiro, que até então tocava a área de private equity.
“Estamos participando de grupos de trabalho, com órgãos reguladores e empresas privadas para criar uma taxonomia de mercado, contratos padrão e outras iniciativas que possam de fato escalar esse mercado”, diz Ribeiro.
Os critérios para seleção na chamada pública envolvem a avaliação do proponente, do projeto e do preço. O resultado está previsto para o início de novembro.
Carbono como moeda
Uma vez comprados os créditos, o banco pode utilizá-los tanto para compensar a pegada de carbono da sua carteira financiada, como para venda futura.
“Podemos deixar numa carteira de ‘buy and hold’ como fazemos com renda variável ou renda fixa e ir a mercado vender num momento em que entendermos que, com isso, estamos estimulando novos entrantes”, diz Laskowsky.
Outra possibilidade é construir produtos financeiros envolvendo créditos de carbono.
“Ainda é algo muito incipiente e em estudo, mas é possível que a gente utilize parte desses créditos como produtos financeiros a serem oferecidos aos nossos clientes e até aceite pagamentos na forma de créditos de carbono”, diz o diretor.