Cali – Entender os impactos causados pela perda de recursos naturais e a dependência que a economia tem deles é um dos passos cruciais para que os negócios avaliem os riscos financeiros e as oportunidades ligadas à biodiversidade.
Mais de 502 instituições, entre financeiras e corporativas, estão comprometidas a reportar de modo voluntário sobre parâmetros recomendados pela Taskforce on Nature-related Financial Disclosures (TNFD). A lista teve um aumento de 57% em comparação ao primeiro anúncio oficial, feito em janeiro.
Na prática, a natureza vai passar a entrar nos balanços financeiros dessas empresas.
O anúncio foi feito durante a COP16 da Biodiversidade, que ocorre em Cali, na Colômbia. A forte representação do setor privado tem sido um dos pontos de destaque da conferência, que tradicionalmente é bem menor que COPs do clima.
Juntas, as centenas de organizações somam mais de US$ 6,5 trilhões em valor de mercado. As 129 instituições financeiras, como a Manulife Investment Management e a gestora global Abrdn, têm mais de US$ 17,7 trilhões sob gestão.
Elas estão distribuídas em 54 jurisdições, incluindo 25 mercados emergentes, e integram 62 dos 77 setores contabilizados. As empresas Mitsubishi e EDP, a consultora KPMG, a mineradora Freeport-McMoRan e a companhia aérea Qantas são alguns dos novos nomes na lista.
No Brasil, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Boticário, Iguá Saneamento, Citrosuco Agroindústria, Eletrobras, a prestadora de serviços GSS e a consultoria I Care & Consult passaram a integrar a lista.
Elas sinalizaram a intenção de adotar as recomendações feitas pelo TNFD como parte de seus relatórios do ano fiscal de 2024 ou de 2025, e se unem às pioneiras Natura, Suzano, Telefônica e Vale, o banco BTG Pactual e a gestora JGP, e as fornecedoras de informações de mercado Green Initiative International e Rever Consulting.
“A velocidade da adoção voluntária do mercado no último ano desde o lançamento das recomendações do TNFD destaca a crescente apreciação entre empresas e instituições financeiras em todos os setores e geografias de que a natureza é uma questão de risco material para seus negócios e uma nova fonte de oportunidade e potencial vantagem competitiva”, disse David Craig, um dos líderes da iniciativa, em nota.
Houve um aumento de aceitação em todos os setores, mas principalmente entre gestores de ativos, à medida que riscos climáticos e naturais são mais críticos em sua tomada de decisão, segundo Craig.
Os reportes do capital natural seguem um caminho semelhante ao das divulgações climáticas. A TNFD foi inspirada na Task Force on Climate-related Financial (TCFD), lançada há uma década. O trabalho já feito para fatores climáticos deve servir como base para as divulgações ligadas à natureza.
Mas o tema da biodiversidade apresenta um outro grau de complexidade. Quando se fala de mudança do clima, o impacto é sintetizado em um único indicador: as emissões de CO2 ou o equivalente em outros gases de efeito estufa. No caso da natureza, ainda se buscam métricas universais.
A ideia central da TNFD é entender para onde vão os investimentos e assim redirecioná-los, quando necessário, para atividades que preservem ou ajudem a restaurar os recursos naturais.
Ao longo da conferência, diferentes atores notam que o uso de reportes, como o proposto pela TNFD, é apenas um esforço inicial na ação necessária pelo empresariado para a ação e conservação da biodiversidade.