A presença de um hub de hidrogênio verde a ser instalado no porto de Pecém, no Ceará, foi apontada como uma das razões por trás da compra da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), anunciada ontem pela ArcelorMittal, por R$ 11,4 bilhões.
Uma das principais transações da siderurgia brasileira nos últimos anos, o negócio consolida a liderança da Arcelor em aços planos do Brasil – e mostra como o acesso à energia limpa e fontes de baixo carbono está entrando no mapa estratégico das companhias.
“Existe um potencial significativo para descarbonizar o ativo, dada a ambição do estado do Ceará de desenvolver um hub de hidrogênio verde de baixo custo e o enorme potencial que a região tem para a geração de energia solar e eólica”, afirmou Aditya Mittal, CEO da ArcelorMittal, em nota à imprensa.
A CSP era uma joint venture composta pela brasileira Vale (50%) e as sul-coreanas Dongkuk (30%) e Posco (20%) e a Arcelor comprou a participação da Vale. A aquisição ainda será analisada pelo Cade até o final de 2022.
Hidrogênio verde no nordeste
O nordeste brasileiro está na rota global do hidrogênio verde por causa do seu sol abundante e bons ventos. O Porto do Pecém, no Ceará, possui um dos projetos mais adiantados na produção da commodity e estima que deve começar a fabricar produto no final de 2025, mas ainda não há previsão de início de obras.
Além do Porto do Pecém, há projetos em estudo nos portos de Suape, em Pernambuco, e do Açu, no Rio de Janeiro, mas eles ainda estão no papel.
Até agora, a Unigel, que fica no polo petroquímico de Camaçari (BA), é a única empresa que deu o pontapé inicial na construção de uma usina de hidrogênio verde. Com investimento previsto de US$ 120 milhões, a fábrica da Unigel vai começar a produzir em 2023. A capacidade de produção será de 10 mil toneladas anuais de hidrogênio verde.
Como o hidrogênio é utilizado na siderurgia
Na siderurgia, o hidrogênio verde pode ser usado para substituir parte do carvão queimado (coque) usado como combustível nos alto-fornos de produção de aço. Essa é uma das estratégias estudadas pela ArcelorMittal em usinas na Espanha e na Alemanha.
Já no Canadá, a siderúrgica conseguiu substituir o gás natural pelo hidrogênio verde numa etapa do processo chamada de redução do ferro, que gera 75% do carbono emitido no processo industrial.
Todas estas iniciativas fazem parte da meta da ArcelorMittal de diminuir em 25% a intensidade de CO2 em seus produtos até 2030 e atingir a neutralidade de carbono em 2050.