Vox Capital lança Fiagro para recuperar pastagens degradadas

Meta é captar R$ 500 milhões para fundo que vai comprar fazendas e implementar integração lavoura-pecuária-floresta

Gado em pastagem degradada no Cerrado
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A Vox Capital, gestora referência em capital de risco de impacto no país, anunciou a criação de um novo fundo com um modelo inovador: remunerar os cotistas com a valorização de terras rurais degradadas.

Trata-se de um Fiagro, um tipo de veículo dedicado ao agronegócio, que será negociado na B3. Mas ele tem duas diferenças importantes em relação ao que se encontra no mercado hoje.

A primeira é a tese. Tradicionalmente, os Fiagros se concentram em crédito. A Vox vai buscar rentabilidade transformando fazendas de pecuária pouco produtivas do Cerrado em propriedades que integram a criação de gado a lavoura e floresta.

O fundo, batizado de FIP Vox Regai 15.3 Regenerativo, tem o objetivo de captar R$ 500 milhões, com a possibilidade de atingir R$ 625 milhões com um lote adicional. A duração é de dez anos.

É mais um movimento da gestora para tentar ampliar o alcance dos investimentos de impacto, diz Daniel Brandão, responsável pela área de impacto da Vox.

Agricultura regenerativa

A ideia de um FIP dedicado à recuperação de pastagens partiu da Regai, uma startup especializada em agricultura regenerativa que vai cuidar da parte técnica dos projetos.

A empresa foi idealizada por Pedro Maeda, sócio do grupo Maeda, que atua há 80 anos no agronegócio, principalmente no cultivo de algodão.

Com o cofundador Vitor Aronis, que tem experiência no mercado financeiro, eles percorreram a Faria Lima até encontrar o parceiro que procuravam.

“A gente sabia que precisaria de uma gestora para fazer o que queria”, diz Aronis. Mesmo que a Vox seja o nome registrado na CVM, o sucesso depende em igual medida dos dois sócios.

“É execução. Não é só papel”, diz Aronis. “Ninguém vai ficar sentado no escritório esperando as coisas acontecerem.”

O primeiro passo é a seleção das propriedades. Depois de uma filtragem inicial, o fundo está olhando mais atentamente para cerca de 40 mil hectares.

O plano é adquirir uma área total de cerca de 20 mil hectares. Serão de duas a dez fazendas consideradas de porte médio no Mato Grosso do Sul, onde serão concentrados os investimentos.

A análise inclui o potencial do solo para a implantação da lavoura e também o nível de degradação das pastagens. A abordagem é a mesma da construção de um portfólio equilibrado, segundo Brandão.

Aronis estima que 80% do capital do fundo seja destinado à compra de terras, 10% sejam usados para subsidiar insumos e outros 10% para investimentos eventuais, como a construção de galpões necessários para a atividade agrícola.

O trabalho do dia-a-dia será executado por cooperados da Cocamar, fundada há 60 anos no Paraná e uma das criadoras da Associação Rede IPLF, que atua em todo o país disseminando técnicas de sustentabilidade.  

“As fazendas já nascem arrendadas para a cooperativa”, diz Aronis. Os cooperados vão implementar a rotação entre pecuária e três cultivos: soja, milho e milheto.

O objetivo é tanto aumentar a produtividade da operação de corte quanto gerar nova renda com as colheitas. A transformação deve demorar de cinco a seis anos, segundo Brandão. A partir deste momento, o fundo começar a procurar compradores para as terras.

“O retorno financeiro vai vir da disparidade que existe hoje entre o preço das propriedades degradadas e o preço das altamente produtivas com grãos”, afirma Aronis. Queremos fazer esse reposicionamento imobiliário.

O impacto ambiental

Vox e Regai dividirão a taxa de administração do fundo e também o bônus por performance de 20% do que superar o benchmark IPCA + 6%.

Mas o pagamento só vem caso seja atingida a meta de impacto do fundo: a implementação das técnicas integradas em pelo menos 70% das áreas produtivas das propriedades.

Este será o indicador chave para a remuneração dos sócios, mas vários outros serão acompanhados, afirma Brandão.

“O fundo declara no seu nome a meta dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU [ODS] em que ele pretende atuar diretamente”, afirma o executivo em relação ao número 15.3, que indica o ODS de restauração de terras e solos degradados.

Além de medir as características físicas, químicas e biológicas do solo, um dos planos é acompanhar o balanço de carbono das terras. Em princípio não há planos de monetização por meio de créditos de carbono, mas isso pode ser possível mais adiante, diz Brandão.

Outro dimensão do impacto, essa não diretamente ligada ao fundo, é a disseminação das técnicas de agricultura regenerativa.

O plano é adquirir propriedades em áreas diferentes do Estado, para mitigar eventuais riscos de eventos climáticos adversos e também para ampliar o alcance dessas técnicas, afirma Aronis.