Diante do risco de perderem relevância conforme cresce a demanda dos consumidores por fontes alternativas de proteína que causem menos danos ambientais, os frigoríficos têm feito suas apostas.
A BRF apertou o passo nessa corrida ao anunciar hoje uma parceria com a foodtech israelense Aleph Farms.
Enquanto a maioria das iniciativas dos frigoríficos até agora segue na linha de produtos à base de plantas, a dona das marcas Sadia e Perdigão quer trazer bifes de proteína animal produzida em laboratório à mesa dos brasileiros — um segmento ainda nascente.
O memorando de entendimentos assinado prevê que BRF e Aleph irão desenvolver e produzir conjuntamente carnes utilizando a tecnologia patenteada pela israelense. A BRF também terá exclusividade na distribuição de outros produtos da Aleph no país.
A startup utiliza células extraídas de animais por meio de biópsia e as cultiva fora de seu corpo com uma tecnologia de agricultura celular batizada de BioFarm.
No início de fevereiro, a empresa anunciou ter conseguido produzir o “primeiro bife de lombo sem abate do mundo”, em parceria com a faculdade de engenharia biomédica do Instituto de Tecnologia Technion-Israel. O bife utilizou as células produzidas em laboratório e saiu diretamente de uma impressora 3D.
Em 2019, a foodtech recebeu um aporte de US$ 12 milhões em rodada que contou com participação a da gigante Cargill, demonstrando que os players estratégicos tentam se posicionar para ter acesso prioritário a inovações na área de alimentos.
O acordo com a BRF é o segundo grande assinado pela Aleph, que recentemente fechou parceria semelhante com a japonesa Mitsubishi para fornecer seus produtos aos consumidores do Japão. Em ambos os casos, a empresa fala na necessidade de adaptar seu produto ao paladar local.
Além de ajudar a suprir a demanda, a empresa diz que a tecnologia empregada no cultivo da carne de laboratório garante economia de 70% do volume de água gasto na produção de carne bovina, que, segundo a BRF, é de 15 mil litros para cada quilo de carne. A Aleph Farms também tem o compromisso de zerar as emissões de carbono de sua produção até 2025.
A indústria de carnes cultivadas pode movimentar US$ 140 bilhões na próxima década, segundo projeções da Blue Horizon, que no mês passado liderou um investimento de US$ 10 milhões na Mosa Meat, uma startup da Holanda que também produz carne com tecnologia similar.
Mesmo com cifras altas sendo discutidas no setor, a aposta da BRF pode demorar para vingar, já que os produtos de carne artificial ainda estão em fase de testes e não devem chegar ao mercado até 2024.
Outras 60 startups no mundo estão em corrida semelhante para entregar uma carne que fuja do abate de animais e a própria Aleph já disse que não deverá ser a primeira a chegar ao mercado. Os governos também começam a se mexer e em dezembro Cingapura foi a primeira nação a aprovar a comercialização de carne cultivada.
Todo o movimento reflete os sinais de que a indústria de carnes deve passar por uma grande transformação. Por ora, o foco de tal transformação ainda está em outro lugar.
Plant-based na frente
Enquanto as carnes cultivadas ainda devem levar algum tempo para serem amplamente produzidas, alternativas plant-based já se tornaram uma realidade mais palpável.
A própria BRF já vende hambúrgueres e nuggets à base de vegetais em sua linha Veg&Tal, enquanto suas rivais também aceleram o ritmo na corrida dos substitutos de carne.
A Marfrig fornece produtos plant-based por meio da linha Revolution, que atende tanto o varejo, quanto redes de restaurantes, como Outback. A Seara comercializa sua linha Incrível desde o final de 2019, com sua controladora, a JBS. planejando criar uma marca separada para competir com empresas que operam exclusivamente no setor de plant-based, como Impossible Foods e Beyond Meat.
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