Marfrig levanta US$ 30 milhões em empréstimo com metas associadas à rastreabilidade da cadeia

Em transação com europeu &Green, juros caem se companhia cumprir meta de controle de origem sobre toda cadeia de gado até 2025

Marfrig levanta US$ 30 milhões em empréstimo com metas associadas à rastreabilidade da cadeia
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A Marfrig tomou um empréstimo de US$ 30 milhões com o fundo europeu &Green cujas taxas estão atreladas à meta de garantir a rastreabilidade total na cadeia de fornecimento de gado, incluindo os fornecedores indiretos, até 2025. 

A operação transforma em compromisso financeiro as metas estabelecidas em seu Plano Verde+, anunciado em julho do ano passado, e faz parte dos R$ 500 milhões em investimentos previstos para viabilizá-lo. 

Apesar do valor relativamente pequeno para uma empresa do porte da Marfrig, o empréstimo dá acesso a capital de longo prazo, com vencimento de dez anos e carência de oito anos — além de reforçar o compromisso em direção ao desmatamento zero, num momento em que o agronegócio tem sofrido com a reputação internacional do Brasil.

O &Green não especificou a taxa do financiamento, afirmando apenas que ela está “em linha com o praticado com o mercado”.  A diferença é que, se a Marfrig cumprir as metas de rastreabilidade, os juros podem cair em até 100 pontos-base.

O contrato tem uma série de covenants ambientais, que podem causar a antecipação do vencimento em caso de não cumprimento, afirma Gustavo Oubinha, diretor de investimentos da &Green para o Brasil. 

“Nosso foco é financiar projetos que servem como referência para que o setor se torne mais eficiente e sustentável do que é atualmente”, disse ele. “A Marfrig é o segundo maior frigorífico do Brasil e um dos maiores do mundo e é fundamental para influenciar a indústria.” 

As metas

A falta de controle de origem sobre a cadeia indireta de fornecimento é um dos principais problemas do desmatamento ligado à pecuária. 

Hoje, a Marfrig tem visibilidade completa apenas sobre os fornecedores diretos e no bioma amazônico. Mas tem baixa visibilidade na cadeia de cria de bezerros e do boi magro, que vende para esses fornecedores.

No contrato firmado com o &Green, o frigorífico se compromete a fechar o gap na cadeia direta no Cerrado, com controle de origem em áreas consideradas de alto risco de desmatamento até o fim deste ano, e nas demais áreas até 2023. Para a cadeia indireta, o deadline é 2025 nos dois biomas. 

Com a rastreabilidade, o compromisso é atingir o desmatamento zero em toda a cadeia de fornecimento na Amazônia até 2028 e no Cerrado até 2030. 

A Marfrig atingiu um nível de rastreabilidade no volume de gado abatido na Amazônia de 62% em 2020, de acordo com o diretor de sustentabilidade, Paulo Pianez. 

“Há um ano e meio esse número estava em 48% e, ao longo do ano passado, e especialmente com os esforços dos últimos três meses, a gente conseguiu elevar esse nível de identificação”, disse ele, acrescentando que, no Cerrado, esse número ainda está em 47%. 

No plano anunciado no ano passado, a companhia mudou a abordagem, da exclusão para a inclusão de fornecedores em desconformidade — no caso dos indiretos, muitas vezes pequenos produtores com pouco acesso a crédito e assistência técnica.

O plano parte ainda da elaboração de mapas de risco, com monitoramento e ação prioritárias em regiões mais expostas ao desmatamento. 

De acordo com Pianez, hoje são cerca de 43 iniciativas que correm em paralelo para entregar o compromisso de desmatamento zero em toda cadeia até 2030.

Financiamento para cadeias tropicais

Lançado há três anos, o &Green é um fundo de US$ 150 milhões sediado na Holanda que financia projetos para alavancar a sustentabilidade da produção de commodities em áreas tropicais.

Com a maior parte do capital vindo do governo da Noruega, o fundo conta também com investimentos privados, de seguradoras e de empresas como a gigante de bens de consumo Unilever. 

O financiamento da Marfrig, cujas negociações duraram mais de doze meses, é o segundo fechado no Brasil. 

Por aqui, a &Green concedeu um empréstimo de US$ 10 milhões para o Grupo Roncador, um dos maiores do Brasil, para a produção de soja no modelo de integração-lavoura-pecuária, que reduz as emissões de carbono, numa operação associada a um financiamento do Bradesco.

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