Afinal, o que esse ano – 2025 – tem a ver com o desmatamento no Cerrado, a trágica enchente no Paquistão em 2022 e os R$ 5,4 bilhões em indenizações do seguro rural no Brasil em 2021? Para as evidências científicas sobre o clima, tudo.
A resposta pode até caber em uma única palavra, mas o desafio por trás dela é complexo. Para a humanidade parar o carro desgovernado do aquecimento global abaixo de 1,5°C, devemos zerar o desmatamento na agropecuária nesses próximos anos.
E isso implicará, entre outros desafios, uma transformação profunda no uso da terra para a produção de alimentos.
O último alerta veio das Nações Unidas, durante a New York Climate Week, em setembro — e não deixou dúvidas de que agricultores em países em desenvolvimento já estão entre os mais prejudicados pelas mudanças climáticas.
Segundo estimativas da organização, os desastres ambientais geraram um prejuízo US$ 108 bilhões para o setor rural entre 2008 e 2018.
E o pior ainda pode estar a caminho: o documento revela que empresas agroindustriais poderão perder 26% de seus valores de mercado até 2030. Se esse cenário se confirmar, os prejuízos aos investidores poderão acumular US$ 150 bilhões nesse período.
Na prática, a pancada na economia mundial seria similar à da crise financeira de 2008. Mas com uma diferença: poderá ser permanente.
A ONU não foi a única organização a chamar a atenção para a urgência de eliminarmos o desmatamento das cadeias globais de valor até 2025.
Também fundamentado em evidências científicas, relatório recente do Accountability Framework Initiative (AFi) reiterou esse prazo para o setor agroindustrial. O fato é que o combate ao desmatamento é um dos pilares que sustentam o Acordo de Paris em pé.
Na mira dos governos
A corrida do 1,5°C contra a mudança do clima ainda não está perdida. Mas, se quisermos vencê-la, precisamos evoluir da caminhada para o recorde dos 100 metros rasos até 2025. O tempo joga contra nós.
A região dos trópicos perdeu 11,1 milhões de hectares de cobertura florestal em todo o mundo no ano passado, segundo estudo da Universidade de Maryland e do World Resources Institute.
Há bons sinais de esperança de que essa transição será possível. Na Conferência do Clima de Glasgow (COP-26), 150 países assinaram o compromisso de acelerar a restauração de florestas e de outros ecossistemas — o Brasil, entre eles.
A União Europeia avança a passos largos para aprovar regulamento que proibirá a importação de commodities agrícolas associadas a desmatamento. Soja, carne bovina e café, por exemplo, estão na lista de Bruxelas. O Reino Unido discute regulamento similar.
As duas maiores economias do planeta também pressionam pela redução do desmatamento nas cadeias globais de commodities agrícolas. Os governos da China e dos Estados Unidos assumiram o compromisso de intensificarem a fiscalização contra a importação de produtos associados a desmatamento ilegal. O anúncio bilateral também aconteceu na COP de Glasgow.
Cooperação
O setor financeiro deverá ser outro parceiro fundamental nessa transição para modelos sustentáveis de produção. Há outros bons exemplos de iniciativas verdes nesse segmento.
Esse é o caso do IFACC (Inovação Financeira para a Amazônia, Cerrado e Chaco). Lançada durante a COP-26, essa parceria da The Nature Conservancy (TNC), Tropical Forest Alliance (TFA) e da United Nations Environment Programme (UNEP) vai incentivar a captação de US$ 10 bilhões até 2025.
Os recursos financiarão a pecuária e o cultivo de soja livres de desmatamento nesses três biomas da América do Sul.
O fato é que a cooperação entre governos nacionais, subnacionais e o setor privado será indispensável para equilibrarmos a produção agropecuária com a proteção da vegetação nativa e da biodiversidade mundo afora.
Dos CEOs na agroindústria aos formuladores de políticas públicas, devemos ter em mente os incentivos econômicos necessários para produção sustentável de alimentos e a manutenção da floresta nativa em pé. O pagamento por serviços ambientais, a expansão do crédito para práticas de agricultura regenerativa e o desenvolvimento do mercado regulado de carbono são partes dessa solução.
É por isso que precisamos falar sobre 2025.
Ainda dá tempo.
*Thiago Masson é coordenador de soja sustentável na The Nature Conservancy (TNC) Brasil