Pioneira nas chamadas ‘fazendas verticais urbanas’, a americana AeroFarms vai listar suas ações na Nasdaq, trazendo para a bolsa mais uma opção entre as startups de food e agtech, que se propõem a usar tecnologia intensiva para a produção de alimentos.
Nesse modelo, que vem ganhando tração em todo o mundo, vegetais — especialmente folhosos — são cultivados em galpões próximos a grandes centros consumidores, sob luz artificial, num processo com pouco uso de água e sem pesticidas.
O negócio ocorrerá por meio de uma fusão com o SPAC Spring Valley, da gestora texana Pearl Energy Investment Management, criado para perseguir aquisições em empresas com forte apelo sustentável.
O negócio deve avaliar a AeroFarms, que fatura apenas US$ 4 milhões, em US$ 1,2 bilhão — mais que o dobro dos US$ 500 milhões pelos quais foi avaliada em 2019, numa rodada privada em que levantou US$ 100 milhões.
A expectativa da Aerofarms é superlativa: quer chegar a um faturamento de US$ 330 milhões em 2025. Hoje, a companhia produz em galpões em Nova Jersey e vende para varejistas como a Whole Foods, por meio de uma marca chamada Dream Greens.
Com os US$ 350 milhões a serem captados na listagem, a ideia é expandir suas operações para a Virginia, nos Estados Unidos, e para Abu Dhabi, onde já tem uma unidade em construção.
Além disso, a companhia quer investir em pesquisa e desenvolvimento para criar sementes e variedades que possam ser adotadas por outras fazendas verticais, abrindo uma nova linha de receita.
Copo meio cheio
Na Aerofarms, o processo de cultivo é altamente tecnológico.
Em ambientes fechados, a empresa planta seus vegetais — normalmente folhas, como couve e rúcula — em uma série de prateleiras empilhadas, com controle absoluto de todos os aspectos do processo.
Cada verdura é artificialmente iluminada por lâmpadas de LEDs ligadas exatamente na intensidade, no espectro e frequência que ela precisa para realizar a fotossíntese da maneira mais eficiente possível.
A tecnologia dispensa o uso do solo. A Aerofarms utiliza um método ‘aeropônico’ de plantação: inicialmente, as sementes são plantadas em um tecido de tecnologia proprietária, desenvolvido pela empresa e produzido com material reutilizável.
Após a germinação, as raízes das plantas no sobre o ar sobre um sistema que as pulveriza com água e nutrientes, sem a necessidade de pesticidas.
Isso faz com que as colheitas utilizem até 95% menos água do que na agricultura convencional. Segundo a empresa, suas instalações são cerca de 400 vezes mais produtivas, considerando a quantidade de vegetais cultivados por metro quadrado.
Ao lado das alternativas de carne à base de plantas, as fazendas verticais vêm ganhando apelo entre investidores num momento em que há preocupação com as mudanças climáticas e com os impactos ambientais da cadeia de produção de alimentos. No processo tradicional de cultivo, boa parte dos alimentos se perde no processo de transporte do campo à cidade.
Nos últimos cinco anos, foram investidos mais de US$ 1,5 bilhão em startups do tipo no mundo, segundo o think tank Agfunder.
O braço de venture capital do Google, GV, e o ex-CEO da UBer Dara Khosrowshahi estão entre os investidores da Bowery, também de Nova Jersey. Na Califórnia, o Softbank e o fundador da Amazon, Jeff Bezos, já investiram na Plenty. Do outro lado do oceano, o destaque fica para a InFarm, de Berlim.
No Brasil, startups como a Pink Farms, que tem um galpão na Vila Leopoldina, na região Oeste da capital paulista, e a Be Green, que produz em estacionamentos de shoppings, beliscam o mercado.
Copo meio vazio
Mas, apesar do hype, o setor tem seus desafios, especialmente com os altos custos envolvidos nas unidades, bem como os custos operacionais, que incluem os gastos elevados com energia para abastecer os LEDs e a ventilação, bem como a mão-de-obra, bem mais cara na cidade do que no campo.
No fim das contas, ainda que haja um prêmio para o produto ‘verde’, as fazendas verticais precisam ser competitivas para atrair os compradores nos supermercados.
Há quem argumente que o modelo faz mais sentido em lugares com pouca disponibilidade de terra para cultivo, como no Oriente Médio (o fundo de investimento estatal de Abu Dhabi é um dos investidores da AeroFarms).
Nos Estados Unidos, a AppHarvest optou por um modelo intermediário, com grandes estufas high-tech no interior do país — onde os custos de obra são mais baratos. A companhia veio a público por meio da fusão com um SPAC no fim do ano passado.
Mas, após o fim do período de lock up, suas ações já caíram pela metade do preço desde o pico atingido em fevereiro.
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