Na esteira de todo o barulho que se criou em torno da destruição da Amazônia e da necessidade de se desenhar um modelo econômico para manter a floresta em pé, os três maiores bancos privados do Brasil anunciaram hoje um plano conjunto para apoiar o desenvolvimento sustentável da região.
A ideia foi apresentada nesta tarde ao vice-presidente da República, Hamilton Mourão, que se tornou os ouvidos do governo para reclamações e sugestões de empresários e investidores sobre a Amazônia.
Octavio de Lazari Junior, CEO do Bradesco, Sergio Rial, CEO do Santander, e Claudia Politanski, vice-presidente do Itaú, voaram a Brasília para discutir o assunto pessoalmente (o CEO do Itaú, Candido Bracher, está em férias).
Por enquanto, o plano pode ser entendido como uma carta de boas intenções dos bancos em relação à Amazônia. Não muito mais que isso. Ainda falta detalhar como vai funcionar na prática para se entender qual o alcance real dos compromissos assumidos.
As diretrizes gerais divulgadas são:
- Estímulo às cadeias sustentáveis na região (ex: cacau, açaí e castanha) por meio de linhas de financiamento diferenciadas e/ou ferramentas financeiras e não financeiras
- Viabilização de investimentos em infraestrutura básica para o desenvolvimento social (ex: energia, internet, moradia e saneamento) e ambiental (ex: transporte hidroviário)
- Fomento de um mercado de ativos e instrumentos financeiros de lastro verde
- Atração de investimentos e promoção de parcerias para o desenvolvimento de tecnologias que impulsionem a bioeconomia
- Apoio para atores e lideranças locais que trabalhem em projetos de desenvolvimento socioeconômico na região
No comunicado divulgado após o encontro com Mourão, os próprios bancos informam que a partir de agora é que o plano começará a ser detalhado.
Será formado um conselho de especialistas com “diferentes experiências e conhecimentos sobre as questões sociais e ambientais envolvendo a Amazônia.” Esse grupo ajudará a desenhar o plano propriamente, com a “criação de métricas e objetivos alinhados aos desafios locais.”
E depois?
Assumir o compromisso público, de qualquer forma, é um passo importante. Desde que seja o primeiro.
Os bancos, no papel de financiadores de negócios e projetos, podem ser alavancas ou obstáculos a um modelo de desenvolvimento econômico sustentável ou socialmente inclusivo. Tudo depende dos filtros que adotarem para emprestar dinheiro.
O que move a agulha não são iniciativas pontuais e linhas de financiamento específicas, mas como — e se — sua política geral de concessão de crédito incentiva atividades com os sinais ambientais e sociais corretos.
Em outras palavras: não adianta ter uma linha verde voltada para projetos na Amazônia e a financiar atividades que contribuem — direta ou indiretamente — para o desmatamento.
Hoje, os bancos de forma geral, inclusive os brasileiros, excluem alguns projetos e setores muito controversos do ponto de vista ambiental e social. Mas é uma ação tímida, com muito espaço para avançar.
No mundo todo, as iniciativas ainda são bem incipientes.
Alguns começam a adotar agendas mais arrojadas para ocupar esse lugar de alavanca de uma economia mais sustentável.
O Morgan Stanley, por exemplo, anunciou nesta semana que começará a medir e divulgar as emissões de gases de efeito estufa do seu portfólio de empréstimos, se tornando o primeiro grande banco americano a dar transparência para o impacto de seus negócios principais sobre a mudança climática.
O banco está aderindo ao Partnership for Carbon Accounting Financials (PCAF), um grupo que já reúne 66 empresas financeiras que administram US$ 5,3 trilhões em ativos e que pretende contabilizar as emissões de gases de efeito estufa de projetos e investimentos financiados por gestores de fundos, bancos e outras instituições. A ideia é fornecer uma metodologia ainda este ano. Entre os brasileiros, apenas o Bradesco já aderiu ao PCAF, em junho.