Navegar é preciso — e fazer isso sem emitir milhões de toneladas de carbono para levar contêineres de um lado ao outro do planeta é crucial para um futuro mais sustentável.
Maior transportadora marítima de cargas do mundo, a Maersk decidiu apostar grande na transição de baixo carbono, passando um sinal de demanda forte para os fabricantes de biocombustíveis para navegação, hoje um segmento que ainda engatinha.
A companhia está investindo US$ 1,4 bilhão em oito navios que poderão ser abastecidos por metanol verde, em vez dos combustíveis de navegação derivados de petróleo.
Na sua forma tradicional, o metanol é produzido a partir da reforma a vapor de gás natural. Para torná-lo verde, é preciso substituir os combustíveis fósseis da cadeia com uso de biomassa (como cana de açúcar, por exemplo) e outras fontes de energia renovável, como solar e eólica.
“Não acreditamos em mais combustíveis fósseis”, disse Morten Bo Christiansen, vice-presidente e chefe de descarbonização da Maersk, em uma entrevista coletiva nesta terça-feira. “E muitos de nossos clientes são muito, muito favoráveis a esse posicionamento.”
Ao custo de US$ 175 milhões e capacidade para transportar 16 mil contêineres cada um, os novos navios serão entregues a partir de 2024 para substituir os transportadores mais antigos. Somadas, as embarcações respondem por 3% da capacidade total da Maersk. Caso necessite, a companhia poderá solicitar a entrega de outros quatro navios em 2025.
Desenvolvendo a oferta
A Maersk reconhece que encontrar metanol neutro em carbono será um desafio. Segundo a empresa, hoje o metanol limpo usado pelos navios é pelo menos duas vezes mais caro do que o combustível fóssil utilizado atualmente. O aumento no preço do combustível poderá gerar uma alta de 15% no custo.
Quando estiverem em operação, cada navio vai consumir 35 mil e 45 mil de toneladas de metanol verde por ano. Nas contas de Christiansen, seria necessário produzir 20 milhões de toneladas de metanol verde por ano para abastecer toda a frota de navios da Maersk.
“Este é um sinal firme para os produtores de combustível de que a grande demanda do mercado por combustíveis verdes do futuro está surgindo rapidamente”, disse o diretor executivo da Maersk, Soren Skou.
Na semana passada, a companhia firmou um acordo com as empresas REIntegrate e European Energy para estabelecer uma planta na Dinamarca com capacidade de produzir 10 mil de toneladas de metanol verde por ano. Foi a primeira ação neste sentido. Mas, com o déficit atual, a tendência é de que esta não seja a única.
Os novos navios somados farão com que a Maersk deixe de emitir 1 milhão de toneladas de dióxido de carbono por ano. No total, a companhia emite 33 milhões de toneladas anualmente.
Demanda dos clientes
A declaração segue o plano traçado em fevereiro, quando a companhia informou que todos seus novos navios precisariam ser compatíveis com tecnologias de mais baixo carbono. Na época, a empresa também programou o lançamento de um pequeno cargueiro movido por metanol e com capacidade para pouco mais de 2 mil contêineres para 2023.
A Maersk não é a única a apostar na transição energética na navegação. A trading de commodities Cargill está apostando no uso de velas na sua frota, enquanto a petroleira Euronav NV encomendou navios que um dia serão abastecidos com amônia ou gás natural liquefeito.
Não se trata de altruísmo ambiental, mas de se manter na dianteira de um setor que vem passando por fortes transformações. Cada vez mais empresas têm metas de descarbonização não só nas operações próprias, mas também em toda sua cadeia de valor — o que inclui transporte e logística.
Segundo a Maersk, mais de metade dos seus 200 maiores clientes têm metas de redução de emissões para a cadeia de fornecedores.
Segundo a ONU, o transporte marítimo é responsável por 3% das emissões de dióxido de carbono causadas pelo homem, algo em torno de 940 milhões de toneladas de CO2.
Para honrar o Acordo de Paris, a Organização Marítima Internacional estabeleceu que o setor precisa reduzir suas emissões de gases do efeito estufa pelo menos pela metade até 2050 ante o nível de 2008.