Do glitter às fraldas, o que pensa o brasileiro sobre consumo sustentável

Estudo da startup Orbit concluiu que boa parte dos brasileiros já assume práticas mais ecológicas e responsabiliza empresas

Do glitter às fraldas, o que pensa o brasileiro sobre consumo sustentável
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Quando chega o Carnaval, basta abrir qualquer rede social e você irá se deparar com dezenas de conteúdos alertando para a quantidade de microplásticos presentes no glitter tradicional. O glitter biodegradável aparece como alternativa – assim como fraldas ecológicas, ecobags e carros elétricos para outras situações. 

Em meio ao sentimento generalizado de responsabilidade para com o planeta, o que o brasileiro quer é sentir-se útil ao adotar práticas mais sustentáveis. 

A conclusão é de um estudo recém-publicado pela Orbit Data Science, uma startup fundada há quatro anos que combina análise humana e inteligência artificial para mapear tendências de consumo e opinião pública. 

A Orbit coletou 44,7 mil comentários no TikTok, X (ex-Twitter), YouTube, Instagram e Facebook, de 11 de abril de 2023 a 15 de abril de 2024, para entender quais os principais hábitos e comportamentos no país quando se trata de sustentabilidade e da relação entre consumidores e marcas neste tema. 

A busca foi feita com palavras como “marcas sustentáveis”, “marca ecológica” e “eco friendly”.

Entre tweets e comentários nas publicações, a equipe leu 13.250 comentários e considerou 1.080 para compor o estudo, com base na qualidade das opiniões, na identificação do contexto que levou à opinião expressa e na representatividade da rede social em relação a toda base de dados. 

A maioria das conversas girou em torno da conscientização e hábitos (57%). Indústria da moda (15%), percepção sobre as marcas (15%), produtos (9%) e embalagens (4%) vêm na sequência. 

Os comentários foram classificados em 91 categorias criadas pela equipe de pesquisa. A que mais se repetiu foi a de adoção de práticas ecológicas na rotina, que se mostra uma preocupação em 16% das opiniões coletadas. 

“Essa metodologia de pesquisa é muito interessante para departamentos de marketing definirem estratégias e sinalizarem repercussões. Ela também serve para avançar com pontos de discussão, que não necessariamente tem um cliente por trás”, diz Fernando Hargreaves, sócio e diretor de operações da Orbit Data Science.

A confiabilidade é de 95%, com margem de erro de 3%, segundo a empresa.

Sem luz no fim do túnel

Com base na análise, a Orbit concluiu que a parcela de consumidores engajados com compras sustentáveis e monitoramento de ações e posições de marcas supera a de quem não se mobiliza.

Ou seja: não basta levar em conta a sustentabilidade no ato de consumir, é importante também mostrá-la ao mundo.

No outro extremo, os pesquisadores detectaram pessoas que não acreditam no poder das ações individuais. A culpa pelas crises ambientais e climática seria das empresas. 

“Nós consideramos que as marcas devem ter atenção às pessoas desacreditadas [quanto à relevância de suas ações], que acham que a mudança individual é pequena em relação ao todo”, afirma Kaio Sobreira, diretor de pesquisas da Orbit.

A startup também encontrou perfis que se mostraram engajados com consumo sustentável, fiscalizando e cobrando empresas na internet. 

A maioria das conversas (58%) foram consideradas pelos analistas com um tom positivo, que difundem pequenas atitudes que podem ser adotadas na rotina, alternativas caseiras para determinados produtos e o apoio a marcas que se declaram mais sustentáveis. 

Por outro lado, 39% assumiram um tom negativo. Um dos principais motivadores foram o alto custo associado a um estilo de vida mais sustentável. A falta de comprovação da efetividade de práticas ditas sustentáveis e críticas sobre o modelo de produção desenfreado também influenciaram negativamente os comentários analisados. 

Com relação aos altos preços, o mundo da moda foi o mais mencionado: 27% dos comentários apontavam ser difícil não comprar fast fashion. Outros 19% diziam que o cliente das redes de fast fashion não podem ser “demonizados”. 

O fast fashion é alvo de críticas constantes por consumidores e ativistas pelo incentivo ao consumo desenfreado, uso de agrotóxicos na produção da matéria-prima, geração de lixo sem descarte apropriado e acusações frequentes de uso de mão de obra em condições análogas à escravidão.

Geração TikToker

Nas cinco plataformas analisadas, o TikTok foi a plataforma onde 46% das conversas sobre sustentabilidade aconteceram – bem acima do X (25%), Instagram (16%), YouTube (10%) e Facebook (4%). 

“O TikTok lidera bastante esse tipo de discussão, não só falando sobre a pauta ou as marcas, mas principalmente gerando insumo para que as pessoas consigam se tornar mais sustentáveis com pequenas atitudes”, afirma Sobreira.

Na plataforma, amplamente usada por jovens, o estudo observa que usuários confiam na opinião de criadores de conteúdos e recebem de forma positiva as recomendações. Ao mesmo tempo, o preço dos produtos considerados mais sustentáveis geram discussões sobre a acessibilidade a todas as classes sociais. 

O que busca o consumidor?

Quando buscam produtos que tenham uma pegada ecológica e climática menor em relação aos tradicionais e já estabelecidos, os consumidores tendem a olhar quatro aspectos: preço, efetividade, confiança e qualidade. 

Ter acesso ao produto que causa menos impacto ambiental negativo é uma preocupação onipresente nas redes sociais, de acordo com o estudo. 

Também é preciso deixar explícito de que forma a substituição do produto contribui para uma diferença – não apenas comunicando a quantidade de emissão de carbono evitada, mas contextualizando qual resultado diverso terá aquela decisão. 

Os consumidores também servem como fiscais de posicionamentos e ações de empresas, analisam composições de produtos e observam se há práticas para além de discursos. 

A qualidade dos produtos mais sustentáveis também se mostra como um fator que pode levar os consumidores a se desengajar com a causa. Maquiagem ecológica, carros elétricos e couro ecológico estiveram entre os produtos mais citados com comentários negativos, enquanto o glitter biodegradável, fraldas ecológicas e ecobags tiveram uma melhor avaliação dos consumidores. 

*Atualização às 14h05: a Orbit Data Science foi fundada em 2020, não 2022, como constava. A informação foi corrigida.