COLUNA - ESG VEM DE BERÇO

Em livro infantil, Araquém Alcântara traz as diversas infâncias na Amazônia

Garotas e garotos narram suas histórias no maior bioma do mundo, sob a influência das lendas da floresta e da cultura contemporânea

Fotografia de Araquém Alcântara do livro Amazônia das Crianças
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Acaba de nascer um livro emblemático. Potente. Amazônia das Crianças idealizado e editado pelo fotógrafo Araquém Alcântara, convida o leitor a percorrer a maior floresta tropical do mundo por meio das infâncias vividas por 15 crianças em território brasileiro. 

O cotidiano dessas crianças, todas da mesma região, é das mais bonitas representações de diversidade. Mostra como a imensidão da Amazônia se transforma em palco para que se possa ser criança de muitos jeitos diferentes. Isso vale para o que se come, onde se mora, que tradições se vive, que histórias se escutam, que dificuldades se enfrentam. 

E é bonito poder contrapor essas infâncias com tantas outras possíveis no Brasil. Desafiar brasileirinhas e brasileirinhos a imaginar e a descobrir quantos jeitos de ser criança existem. Provocar neles a vontade de ver, ouvir, visitar e, sobretudo, cuidar para que toda essa multiplicidade continue sendo possível.

A poesia começa com o nome do autor. Araquém significa “passarinho” na língua indígena tupi. Ele, que é um dos mais renomados fotógrafos de natureza do Brasil, voou por três meses pela região na companhia do jornalista Morris Kachani, que também é diretor executivo do Instituto Brasil-Israel. Coletaram histórias e fizeram o primeiro livro, de uma vasta coleção publicada por Alcântara, dedicado às crianças. 

Alcântara produziu cerca de 10 mil imagens, das quais 300 foram utilizadas no projeto. As ilustrações, produzidas com colagem e cheias de texturas, ficaram a cargo do artista Angelo Abu.

As crianças selecionadas contam suas histórias em primeira pessoa, favorecendo uma conexão direta com os leitores. Elas representam comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas, rurais, beiradeiras (as que vivem na beiras das estradas) e gente da cidade.

Raoni, de 8 anos, mora na aldeia Kamayurá, no Parque Indígena do Xingu, Mato Grosso. Seu super-herói favorito é o Homem de Ferro. Ele não tem cama e mora em uma oca feita de galhos de madeira, coberta de palha. Seu pai é o cacique. Ele adora futebol e joga no Barcelona Kamayurá! Na escola, além de Kamayurá e português, ele aprende matemática, ciências, canto, artesanato e também a plantar. A lição de casa favorita é quando a professora pede para gravar conversas com os mais velhos. Para isso, ele usa o celular do pai e diz que esquece da vida ouvindo as histórias. 

Um trechinho do seu relato: “A lagoa Ipavu é a nossa lagoa sagrada, protegida pelos deuses. É lá que todo mundo toma banho. Esse é um dos momentos de que mais gosto na vida, sabe? Olhar pro céu todo vermelho, com os peixes pulando aqui e ali. É bonito…”

Assim como na vida de Raoni, nas histórias das outras crianças, diversos elementos culturais ancestrais, saberes populares e aspectos da cultura contemporânea se misturam, tecendo uma vida amazônica conectada ao que acontece fora da região e também fora do Brasil. 

Esse diálogo entre o que está dentro e o que vem de fora, entre os que vieram antes e os que estão aqui agora vão compondo uma infância rica, onde imaginação, ancestralidade, vida real, sonhos e a força do território convivem harmoniosamente.

Para acompanhar o livro, foi editado também o Amazônia das Crianças – Guia de Navegação, coordenado e escrito pelo acadêmico Zysman Neiman, pesquisador e professor adjunto da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). 

A obra foi concebida para apoiar professores e educadores na mediação do livro principal com as crianças. Para isso, na primeira parte, contextualiza o projeto em relação aos objetivos pedagógicos do ensino fundamental, principalmente, e recupera a história da região, também ao lado das fotos (de tirar o fôlego) de Araquém Alcântara. 

Num segundo momento, transforma as experiências de cada criança em conceitos históricos, sociais, econômicos e ecológicos para serem transmitidos em sala de aula, sempre com propostas de debate e de levantamento de ideias, explorando a diversidade, o conhecimento sobre a região e maneiras de preservá-la. 

Os dois livros têm versões em português e em inglês.

O projeto foi financiado pelo C6 Bank, banco digital criado em 2018, e que hoje tem como sócio o J.P. Morgan Chase, e pela Mastercard, empresa de meios de pagamento. Ambos firmaram uma parceria com a Associação Vaga Lume, que desde 2001 promove a leitura e a gestão de bibliotecas comunitárias na Amazônia. 

A Vaga Lume formará aproximadamente 70 educadores para a mediação do Amazônia das Crianças nas comunidades. As escolas das 15 crianças que narram suas histórias no livro receberam as duas publicações e um acervo de 120 livros com a curadoria da Vaga Lume. 

No total, as instituições vão distribuir cerca de três mil livros em papel para as bibliotecas comunitárias geridas pela Vaga Lume, as escolas das comunidades das crianças do livro e escolas públicas e particulares que poderão fazer seus pedidos pelo site. 

“As crianças da Amazônia devem ser vistas como guardiões da floresta. Investimos na sua educação para que tenham o máximo potencial para preservá-la”,  completa Lia Jamra, diretora executiva da Vaga Lume. 

Os dois volumes podem ser baixados gratuitamente pelo site do C6 Bank em três formatos: EPub para Kindle, Google Play e PDF. “Nossa expectativa é que o livro chegue para crianças do Brasil e do mundo, por isso o download gratuito, em português e em inglês”, diz Marina Mancini, gerente de ESG do C6 Bank. 

O livro foi lançado no final de novembro durante o evento Virada Sustentável, que em 2023 pela primeira vez teve uma edição em Belém, no Pará.