O projeto de R$ 12 bi do Mubadala para biocombustível de macaúba

Plano envolve biorrefinaria na Bahia e plantação da palmeira em 200 mil hectares de áreas degradadas; decisão de investimento sai em meses

O fundo de Abu Dhabi Mubadala é dono da Acelen, refinaria na Bahia que planeja projeto de biocombustível de macaúba
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DUBAI – A Acelen, empresa controlada pelo fundo Mubadala Capital, de Abu Dhabi, planeja produzir 1 bilhão de litros de diesel verde e combustível sustentável de aviação por ano na Bahia, usando como matéria-prima o fruto da macaúba, uma palmeira nativa do Brasil. O investimento é estimado em R$ 12 bilhões.

A expectativa é bater o martelo sobre o investimento no primeiro semestre do ano que vem, disse ao Reset Luiz de Mendonça, o CEO da empresa. 

O projeto foi anunciado no Museu do Futuro, uma estrutura que parece um donut deformado e que em um ano e meio de funcionamento já se tornou um dos ícones da arquitetura de Dubai, onde acontece a COP28.

A ideia é construir uma biorrefinaria na mesma área onde fica a refinaria de Mataripe, na Bahia, também operada pela Acelen. O projeto de engenharia já está quase pronto.

O plano envolve ainda o plantio da macaúba em 200 mil hectares de áreas degradadas na Bahia e no norte de Minas Gerais.

As duas frentes correm em paralelo, diz Mendonça. De um lado, a companhia vai atuar no desenvolvimento da cadeia da macaúba. Um centro de tecnologia agronômica será instalado em Montes Claros (MG), junto com um banco de sementes e viveiros.

O fruto da palmeira macaúba, cujo óleo pode substituir o de palma e ser a base de biocombusíveis
O fruto da palmeira macaúba, cujo óleo pode substituir o de palma e ser a base de biocombustíveis

O passo seguinte é iniciar a plantação em fazendas-piloto. A Acelen quer privilegiar o pequeno agricultor, diz Mendonça, mas precisa dar o impulso inicial.

“Na minha experiência no agronegócio, quando você chega com uma cultura nova, numa região nova, tem que colocar o capital e mostrar que funciona”, afirma Mendonça. “O agricultor quer aprender com o erro dos outros.”

Em paralelo, será construída a unidade produtiva na Bahia, que vai transformar o óleo da macaúba em combustíveis renováveis. Tanto o diesel verde quanto o SAF podem substituir os equivalentes de origem fóssil sem necessidade de adaptação de motores, com apenas 20% da pegada de carbono.

“A biorrefinaria será nova, mas vou aproveitar o porto, dutos, tanques, eletricidade, vapor, manutenção, equipe experiente… Nosso investimento fica mais rápido e mais barato usando o que já temos.”

Pelo cronograma da empresa, a parte industrial começa a produzir no final de 2026 – inicialmente com óleo de soja como insumo. Como a macaúba demora cerca de cinco anos para dar frutos, o plano é fazer uma substituição gradual.

A expectativa é que a produção seja voltada ao mercado internacional. A aviação, responsável por cerca de 2% das emissões globais de gases de efeito estufa, é um setor de difícil descarbonização.

A Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) estima que os vários tipos de SAF em desenvolvimento, tanto de base vegetal quando formulações sintéticas, respondam por dois terços das reduções de emissões do setor

Os compradores

Mendonça diz que a Acelen ainda não tem acordos fechados para a venda. “O interesse é tão grande que, se a gente quisesse, já teria [contratos]. Mercado tem um monte. Hoje estamos preocupados em assegurar a competitividade da matéria-prima.”

Comprometimentos antecipados não serão necessários para fechar o financiamento do projeto, segundo o CEO. A estrutura do capital está sendo definida, com um misto de equity e dívida.

Em setembro, a Petrobras assinou um memorando de entendimento com o Mubadala visando uma possível participação no projeto. A refinaria de Mataripe pertencia à estatal e foi privatizada em 2019.

O desenho financeiro também não inclui eventual venda de créditos de carbono nem possíveis incentivos fiscais do governo para negócios que ajudem a recuperar áreas degradadas.

“Mas tanto os créditos de carbono quanto programas oficiais serão importantes quando o projeto ganhar mais escala”, disse Oscar Fahlgren, diretor de investimentos do Mubadala Capital e responsável pelas operações do fundo no Brasil.

Com a competitividade do país na agricultura e a expectativa de crescimento do mercado de combustíveis limpos, Fahlgren afirma que o empreendimento pode vir a ter quatro fases adicionais, do mesmo tamanho. “A demanda por SAF e diesel renovável é quase ilimitada.”