Dia 9: Nova ferramenta antecipa risco de enchente a partir do CEP

A CNseg lançou nesta quarta-feira (19), na Casa do Seguro na COP30, uma ferramenta digital de avaliação de riscos climáticos capaz de, pelo CEP, indicar as probabilidades de alagamentos em determinada região. Ainda disponível apenas para seguradoras, ela será aberta ao público em geral e deverá apontar também riscos de secas, incêndios, vendavais e outros desastres climáticos.

“Ela cruza bases de dados de diversos órgãos e gera um score”, explicou Dyogo Oliveira, presidente da CNseg. “Conhecer os riscos é o primeiro passo para tomarmos ações preventivas.”

Resiliência das cidades e infraestrutura foram temas do dia, tanto nos painéis da manhã, promovidos pelo empoderador Marsh McLennan, quanto à tarde, no Fórum Cidades Resilientes na COP30, realizado em parceria pela CNseg e pela Confederação Nacional de Municípios (CNM). “Essa é a COP da implementação, e eu não consigo imaginar como ela pode acontecer se não tivermos do lado os prefeitos, os vereadores, os líderes comunitários locais”, disse Jader Barbalho Filho (foto), ministro das Cidades, lembrando que 80% das emissões globais partem das cidades. “Eventos climáticos extremos vão seguir acontecendo se não cuidarmos das nossas florestas, diminuindo o desmatamento, e se não reduzirmos essas emissões que partem das cidades.”

Palavra de empoderador

Se você investe em nova infraestrutura sem considerar como o clima vai evoluir nos próximos 10 ou 20 anos, está desperdiçando dinheiro e potencial. O que realmente precisa acontecer é que essas ferramentas [desenvolvidas por seguradoras] sejam usadas não só por seguradoras, mas por empresas, cidades e governos

Swenja Surminski, diretora-geral de clima e sustentabilidade da Marsh McLennan

Seguros para combater desigualdades

Contexto: No Brasil, 87% da população vive em cidades. Ainda assim, o país tem déficit de infraestrutura básica – 59 milhões de brasileiros vivem sem água tratada e coleta de esgoto. Sem seguros, as desigualdades podem ficar ainda maiores com as mudanças do clima. Sem a proteção e transferência de risco que o setor oferece, projetos que não são “seguráveis” geralmente não são financiáveis, o que é crucial dado o grande volume de investimentos em Parcerias Público-Privadas (PPPs) no país. 

Desafio climático: A infraestrutura, além de vulnerável, muitas vezes não atende às necessidades básicas da população. O crescimento urbano desordenado gera impactos ambientais drásticos. O seguro fornece a liquidez de emergência (fundos) de que o setor público e privado necessitam para responder a momentos críticos. O seguro paramétrico, por exemplo, permite a liberação rápida de recursos.

Proteção de infraestrutura pública: Existe uma janela de oportunidade para proteger infraestruturas públicas, como escolas e hospitais, que atendem a população em momentos extremos. Foi o que defendeu Karla França, analista em planejamento territorial e habitação da Confederação Nacional de Municípios (CNM). Sem seguro, a reconstrução desses ativos recai sobre o investimento público, gerando um déficit secundário devido à perda de arrecadação do Estado e comprometendo o ativo. Investir em resiliência ajuda a evitar que o governo perca receita quando desastres paralisam a economia local.

Corresponsabilidade: A implementação da agenda de resiliência exige um esforço de coletividade entre poder público, setor privado e sociedade para atuarem de maneira corresponsável. 

Ferramenta para secas: A Marsh McLennan desenvolveu modelos de risco para eventos extremos e trabalha com 20 cidades da América Latina na análise de vulnerabilidades de infraestrutura. As ferramentas ajudam a identificar onde estão os pontos mais críticos de chuvas e secas para orientar medidas de resiliência.

Compartilhamento de dados: É crucial que essas ferramentas sejam utilizadas não apenas pelo setor de seguros, mas também pela indústria, empresas, cidades e governos. Para Surminski, da Marsh McLennan, levar esses dados geoespaciais e modelos de risco para o ambiente local é o ponto de partida para a adaptação.

Cidades resilientes já!

O futuro das cidades depende de planejamento que considere soluções que vão além do concreto. Os painéis da tarde na Casa do Seguro trouxeram vários cases que já vêm acontecendo, com bons resultados, para adaptar centros urbanos à nova realidade climática. E apontaram o papel do setor de seguros para destravar investimentos e atuar como fiscalizador indireto. 

Soluções baseadas na natureza: Entre as ações apresentadas está a integração de soluções baseadas na natureza em edificações. Seguradoras e órgãos de controle, junto com a academia, buscam construções de infraestruturas cada vez mais resilientes. Paris foi citada como um modelo de cidade “caminhável”, que deixou de priorizar carros a fim de diminuir emissões, aumentar mobilidade e ampliar soluções climáticas.

Parques urbanos: Em Fortaleza (CE) foram contruídos microparques em terrenos subutilizados para criar áreas de brincar e de resfriamento, com cerca de 160 mil pessoas beneficiadas.

Olhar local para desafios do clima

Nos últimos dez anos, 97% dos municípios já decretaram situação de emergência ou estado de calamidade pública ao menos uma vez, devido a desastres climáticos. “Muitas políticas públicas dão errado porque não consideram as características locais”, disse Cláudia Lins, gerente de sustentabilidade e resiliência da CNM.

Pequeno porte: 90% dos municípios brasileiros têm até 50 mil habitantes, 45% até 10 mil habitantes. Dados da CNM indicam que apenas dois em cada dez municípios estão preparados para enfrentar eventos extremos. E especialmente os de pequeno e médio porte enfrentam barreiras significativas para incorporar a resiliência em seu desenvolvimento. Entre elas, a falta de planejamento estratégico e financiamento. 

Integração: A CNM desenvolve um Consórcio de Gestão Climática e Prevenção de Desastres com coordenadorias regionais para pensar planos de adaptação. Nele, vários municípios de uma mesma coordenadoria regional que tenham similaridades podem trabalhar lado a lado.

Aceleração da resiliência: A aproximação entre o setor de seguros e as associações e redes regionais de municípios é vista como um caminho para destravar gargalos institucionais e técnicos no nível local, permitindo que soluções de adaptação cheguem às cidades de forma mais rápida e em maior escala.

Exemplos locais na Amazônia: Os prefeitos Luiz Carlos de Aguiar Leite (Anapu-PA) e Elisângela Paiva Celestino (Concórdia do Pará-PA) mostraram como as especificidades territoriais moldam desafios e soluções. Embora associada à floresta contínua, a Amazônia é majoritariamente urbana – 80% da população vive em cidades – e enfrenta extremos como secas severas seguidas de enchentes históricas. As respostas passam por gestão de risco, infraestrutura mais resiliente e planejamento urbano, apoiados por ferramentas de modelagem que identificam áreas vulneráveis e orientam intervenções como redesenho da drenagem e definição de zonas de risco.

Imagens do dia


Acompanhe a transmissão ao vivo dos painéis no canal da CNseg


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