
Belém – O economista brasileiro José Alexandre Scheinkman foi encarregado de montar um time para colaborar com o Roadmap Baku to Belém, documento apresentado nesta quarta-feira (5).
A equipe de economistas reunida por ele tem quatro vencedores do Prêmio Nobel e pode ser descrita sem exageros como estelar.
Apesar disso, a versão final do relatório não incorporou muitos detalhes da entrega do grupo, e Scheinkman diz que, se a opção fosse sua, o ponto de partida não teria sido um valor – US$ 1,3 trilhão –, mas sim metas como um alvo de temperatura ou um objetivo quantitativo de redução de emissões de gases estufa.
Mas esses são pontos menores diante da importância de contribuir com ideias para a conversa global sobre financiamento climático, disse ele ao Reset do Rio de Janeiro, por videoconferência.
“O documento tinha de contemplar as visões do Brasil e do Azerbaijão [como presidentes da COP29 e COP30, respectivamente]. Não são países com visões parecidas na questão climática, e os azerbaijanos são muito alinhados à Arábia Saudita”, afirma Scheinkman.
Ele relata que durante o processo não interagiu com os anfitriões da COP do ano passado. “Todas as minhas conversas foram com autoridades brasileiras.”
A impressão de que a maior parte do trabalho foi realizada pela presidência brasileira foi confirmada por outra pessoa envolvida na elaboração do roadmap ouvida pelo Reset. Houve um delicado jogo diplomático para respeitar a co-autoria definida na decisão da COP29.
Scheinkman tampouco dá importância para o fato de as contribuições terem sido mencionadas somente de passagem no documento.
Os papers completos produzidos pelo time de economistas serão publicados no site da UNFCCC (a Convenção do Clima da ONU) e apresentados durante a COP30, nos dias temáticos de finanças (15 e 16 de novembro).
“É um local de muita visibilidade, onde as pessoas se encontram. É a oportunidade de mostrar as ideias para o resto do mundo.” Acima de tudo, afirma ele, a prioridade é que elas sejam aprofundadas ao longo do próximo ano, sob a presidência brasileira. “É ali que o impacto vem.”
Teoria x prática
Scheinkman, que é professor em Columbia e professor emérito de Princeton, duas das mais respeitadas universidades dos Estados Unidos, discorda do comentário de que o roadmap olha para o assunto de forma genérica ou “acadêmica”.
“Não gosto de usar a palavra dessa maneira. Existe uma boa literatura acadêmica, baseada em métodos, observação e estudos cuidadosos. A gente precisa de coisas mais acadêmicas.”
E também implementadas, diz Scheinkman, o que está além do job description dos acadêmicos.
Algumas das ideias apresentadas pelo time de economistas que ele montou vão passar pelo teste da realidade. A chamada coalizão de carbono é uma delas.
A pedido do Ministério da Fazenda, duas economistas prepararam um paper que propõe um alinhamento dos mercados regulados de carbono, com vistas a uma eventual integração global.
O Brasil deve apresentar a ideia formalmente durante a COP30. Não se sabe se haverá adesão de algum país, mas a intenção é que seja uma iniciativa voluntária e fora da agenda formal da conferência – ou seja, não é algo sujeito à negociação diplomática nem ao consenso de quase 200 países.
“Se a coalizão envolver alguns nomes importantes, como a China, a União Europeia, a Indonésia. Ou Japão, Coreia do Sul, Noruega… Temos uma chance agora.”
O grande número
E o valor de US$ 1,3 trilhão? “É a manchete, e entendo que ele tenha um valor simbólico importante”, diz ele. “Mas não sei se serão US$ 700 bilhões ou US$ 2 trilhões.”
Scheinkman afirma que um bom começo, e algo que o próprio roadmap reconhece, é saber como contar esses dólares. Não existem definições universalmente aceitas sobre o que é um investimento climático.
De qualquer modo, a magnitude do desafio chama a atenção para as medidas que são propostas. Ele menciona a taxação de viagens aéreas, especificamente as passagens executivas e de primeira classe, em voos comerciais, e o uso de aviões particulares.
“É uma coisa importante. Tem um número que estima [uma arrecadação de] US$ 80 bilhões por ano. Pode ser mais ou menos que isso. O importante é pegar esse dinheiro e dedicar ao combate ao aquecimento global. Este é o perigo: não ter clareza para onde ele vai.”