COLUNA - NATALIE UNTERSTELL

A Semana do Clima que realmente entrega investimentos

Fórum global na Jamaica mostra que há vida saudável e promissora fora dos tradicionais – e já sem fôlego – investimentos climáticos de Nova York

A Semana do Clima que realmente entrega investimentos

A Semana do Clima de NYC não será mais a mesma. Teve seu papel, claro, porque colocou milhares de pessoas em marcha em 2019 e impulsionou agendas desde então. Mas perdeu o fôlego. Virou uma maratona de anúncios sem graça e encontros em série. Tudo agora em um ambiente cada vez mais hostil: com um Trump à espreita e um sistema migratório que barra, na porta, boa parte de quem mais tem a contribuir.

Enquanto isso, algo muito mais promissor está nascendo, e com os pés na areia. Há algumas semanas, participei do primeiro Global Climate Finance Forum, em Montego Bay, na Jamaica, e saí de lá com a sensação de que há um novo eixo se formando. Um fórum que não queria imitar Nova York, mas começar a criar, desde já, as instituições e estruturas que faltam para mobilizar capital de verdade, com foco em quem está fazendo.

Nada de conversa sobre bancos multilaterais, nada de foco em capital público. Era uma conversa intensa de 50 pessoas selecionadas a dedo. O foco era claro: capital privado voltado para negócios climáticos de pequenas e médias empresas. 

Nenhuma caridade envolvida: elas representam mais de 90% dos negócios no mundo e mais de 50% do emprego mundial. Ainda assim, seguem com acesso limitado a financiamento, especialmente se tiverem passaporte “do sul global”. Enquanto multinacionais já têm caminho aberto, essas PMEs estão descoladas dos fluxos e são elas que podem acelerar a transição, se houver ponte.

E ali não houve só papo, nem painéis genéricos. Investidores à caça de oportunidades robustas saíram contentes. Empreendedores foram selecionados para apresentar seus negócios. Muitos voltados à energia solar, com arranjos inovadores em contextos de vulnerabilidade. Teve gente do Brasil também: a Courageous Land, com uma proposta consistente de regeneração via agroflorestas. Negócios reais, vivos, escaláveis.

O mais interessante é que o fórum não terminou em si mesmo. Ele faz parte de uma visão maior: a de criar uma nova plataforma, com novas regras e novas instituições. Já tem gente construindo bancos privados com tese de regeneração desde o nascimento. Isso muda tudo. Porque não se trata mais de adaptar o que existe, mas de fundar o que falta.

Os números mostram o tamanho da oportunidade: o mundo tem mais de US$ 450 trilhões em capital privado. Mas só US$ 0,15 de cada dólar climático cruza fronteiras. Apenas 13% dos financiamentos vão para países de baixa e média renda. 

A Jamaica está mostrando outro caminho. Já lançou um climate disaster bond (título de catástrofes, que transfere o risco financeiro de desastres naturais para investidores), criou fundos de venture capital com teses climáticas e bancos locais oferecem capital para PMEs instalarem energia solar. Nada disso é acidental. É construção institucional, com foco, ambição e conexão local.

A menos que você tenha algo a fazer na Assembleia Geral da ONU em setembro próximo, eu recomendo repensar seu itinerário. Porque no mesmo embalo do GCFF de Montego Bay, as semanas locais começam a ganhar tração. Londres, apesar dos vícios de origem, esquentou e está acontecendo neste até o dia 29. O Rio de Janeiro organiza sua própria semana do clima para agosto. O Encontro B, com todas as empresas B da América Latina, acontecerá em Belém, em setembro. O PRI in Person será em São Paulo, em novembro. E Manaus tem o espetacular FIINSA (Fórum de Investimentos de Impacto da Amazônia), a cada dois anos (a próxima edição está programada para outubro de 2026).  

O sinal está claro: o centro de gravidade da conversa climática está mudando. Isso é bom, bom, porque não dá para esperarmos mais. E, como mostrou a Jamaica, também não precisamos.