
A startup Re.green conseguiu a liberação de R$ 80 milhões pelo Fundo Clima do BNDES após o Bradesco oferecer uma carta fiança como garantia. Os recursos vão viabilizar os investimentos necessários para entregar 3 milhões de créditos de carbono à Microsoft.
Serão recuperados 16 mil hectares na Amazônia e na Mata Atlântica num projeto estabelecido ainda no primeiro contrato entre a Re.green e a big tech. Recentemente, a Microsoft expandiu o interesse na startup e anunciou a compra de outro lote de créditos.
Segundo a empresa, este é o primeiro projeto de recuperação no Brasil com uma classificação de impacto positivo na biodiversidade alinhado ao Guia de Finanças para a Biodiversidade da IFC, braço de investimentos privados do Banco Mundial.
Com os R$ 80 milhões em crédito do BNDES, a Re.green vai financiar principalmente atividades operacionais como preparo do solo, plantio e manutenção. Apesar do bom retorno financeiro, a atividade de reflorestamento demanda altos investimentos. Além disso, os créditos só vêm depois de alguns anos.
Os recursos fazem parte de um financiamento de R$ 187 milhões obtido junto ao BNDES no começo de 2024. Os recursos, porém, só são liberados conforme as exigências para diluição do risco são atendidas.
Em abril, a concorrente Mombak conseguiu uma fiança bancária do Santander e destravou parte dos R$ 160 milhões aprovados pelo banco de desenvolvimento no ano passado.
Garantia
Segundo Thiago Picolo, CEO da Re.green, a liberação do crédito após a fiança do Bradesco representa mais do que um avanço financeiro.
“Estamos diante de um marco duplo: o uso de garantias privadas para destravar capital público e o reconhecimento técnico da restauração florestal como uma solução concreta”, afirma em nota.
Enquanto a fiança ficou sob responsabilidade do Bradesco, a estruturação da operação ficou com o braço de investimentos do banco, o Bradesco BBI.
O Fundo Clima já aprovou financiamentos de R$ 395 milhões em projetos de reflorestamento, segundo o BNDES. Com a distribuição do risco, a ideia é contribuir para tornar a restauração ecológica mais atraente para investidores.
Em paralelo, o banco público está trabalhando em um projeto para que a Petrobras possa se comprometer a comprar créditos de reflorestamento com preços pré-definidos. A ideia é que esse tipo de contrato sirva de garantia financeira para os desenvolvedores das atividades de restauração.
‘Verde escuro’
A S&P Global Ratings não só atestou que o projeto da Re.green segue o Guia de Finanças para a Biodiversidade da IFC, mas também deu ao projeto um selo “Verde Escuro”. A cor é a mais bem posicionada na escala de impacto ambiental “Shades of Green”, metodologia da agência de risco que avalia empreendimentos com uma escala de sete cores.
Reflorestamento e instalação de painéis solares, por exemplo, costumam receber o selo “Verde Escuro”, enquanto novas explorações de petróleo são classificadas na cor vermelha.
Segundo a Re.green, algumas práticas contribuíram para a avaliação favorável. Há uso de espécies nativas com alto grau de diversidade, e de corredores ecológicos que conectam fragmentos de florestas. A capacitação das comunidades locais também contou a favor.
A estruturação de novos ativos relacionados à biodiversidade tem recebido atenção desde a aprovação de um marco global sobre o tema em 2022. Há, porém, ideias conflitantes sobre a viabilidade desses créditos de biodiversidade, chamados também de biocréditos.
Enquanto a discussão não avança, a aposta desse novo mercado de reflorestamento está na valorização do tradicional crédito de carbono. Projetos do tipo têm sido negociados a preços mais altos no mercado voluntário em comparação com os que garantem a conservação.
Segundo o jornal britânico Financial Times, a Microsoft tem pagado mais de US$ 50 (R$ 298,5) por tonelada de carbono para garantir sua meta de carbono negativo até 2030.
A Re.green tem a meta de recuperar 1 milhão de hectares. Entre seus sócios estão o family office dos Moreira Salles, a Gávea Investimentos, de Armínio Fraga, e Guilherme Leal, um dos controladores da Natura. Atualmente, a Re.green conduz a restauração e conservação de mais de 26 mil hectares na Amazônia e Mata Atlântica.