Apesar das críticas cada vez mais frequentes à burocracia e lentidão da cooperação global e da falta de resultados práticos das COPs, o chefe climático da ONU, Simon Stiell, fez uma defesa do processo multilateral e apontou progressos “impressionantes” na descarbonização da economia real.
“Olhe o que a China está fazendo com a transição energética, o que a Índia está fazendo”, afirmou Stiell, o secretário-executivo da Convenção do Clima (UNFCCC), a uma plateia de alunos do Instituto Rio Branco, a escola que forma os diplomatas brasileiros.
Acompanhado do embaixador André Corrêa do Lago, que vai presidir a COP30, Stiell tentou oferecer uma avaliação mais abrangente do esforço de enfretamento da mudança climática, especialmente com a mudança de humor que se seguiu à eleição de Donald Trump.
“O Acordo de Paris tem todos os mecanismos para incentivar ambição [por parte dos governos nacionais] e mais reduções de emissões [de gases de efeito estufa]. O que faz falta são maneiras de fazer cumpri-lo”, disse o político da pequena ilha caribenha de Granada.
A conferência que acontece em Belém entre 10 e 21 de novembro será a trigésima desde o estabelecimento da UNFCCC, na Rio-92. Obter o consenso de quase 200 países é demorado mesmo, afirmou Stiell, mas os avanços acontecem além das salas de negociações e apesar de “ventos contrários da geopolítica”.
A COP30 marca os dez anos de Paris e terá como um de seus principais resultados uma visão abrangente dos novos planos nacionais de descarbonização que os países devem apresentar.
“Precisamos de uma resposta que seja robusta o suficiente e reflita a urgência de ação. Isso é o que importa este ano.” Oficialmente o prazo se esgota este mês, mas até agora somente 13 países depositaram suas NDCs, como são chamadas as estratégias.
Dentre os grandes emissores, somente Brasil, Reino Unido e Estados Unidos fizeram suas submissões. Com a saída dos americanos de Paris, trata-se de um documento sem valor, pelo menos durante os próximos quatro anos.
Corrêa do Lago também tentou oferecer um olhar mais amplo sobre o desafio representado pela emergência planetária: “Política climática não é só coisa dos países, mas sim de vários outros atores”, em referência a sociedade civil, empresas, cientistas e governos subnacionais.
As partes da Convenção do Clima que se reúnem nas COPs são os governos nacionais. Todas essas outras não são formalmente parte do processo.
O envolvimento desses outros atores “é mais urgente que nunca, porque países importantes estão saindo do processo ou não se envolvem com entusiasmo”, disse o presidente da COP30, sem mencionar nominalmente os Estados Unidos.
“Hoje, o processo não é mais tanto ‘top down’”, segundo Corrêa do Lago. “Temos que estimular muito mais o ‘bottom up’.”
O Acordo de Paris instituiu a figura dos chamados campeões climáticos para aproximar as decisões de alto nível das COPs do mundo real. O país anfitrião da conferência sempre indica um nome para a posição. Ainda não se sabe quem será o campeão (ou a campeã) da COP30.