A um mês de deixar a Casa Branca, Biden anuncia meta climática dos EUA

Plano de descarbonização apresentado à ONU deve ser ignorado por Trump; Estados e setor privado prometem seguir com os esforços

A um mês de deixar a Casa Branca, Biden anuncia meta climática dos EUA
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A um mês e um dia de passar o cargo para Donald Trump, Joe Biden anunciou novos compromissos climáticos dos Estados Unidos. O país vai buscar uma meta de redução de emissões de carbono entre 61% e 66% em 2035, na comparação com 2005.

Mas o objetivo de descarbonização perante a Convenção do Clima não é vinculante, e a expectativa é que Trump saia do Acordo de Paris.

No anúncio da nova NDC, como são conhecidas as estratégias nacionais de descarbonização, Biden sinalizou que “governos estaduais, locais e tribais continuarão dando suas contribuições”. A indústria americana, disse o presidente, “vai continuar inventando e investindo”.

É um reconhecimento claro de que seu sucessor vai ignorar o assunto da mudança do clima – uma “farsa”, segundo Trump.

O novo alvo dos Estados Unidos aponta para um aumento significativo das ambições climáticas do país. A meta atual prevê uma redução de 50% a 52% das emissões em 2030.

Essa sinalização do segundo maior emissor do mundo – depois da China – era aguardada. Os quase 200 países que fazem parte do tratado climático da ONU são obrigados a apresentar até fevereiro seus novos objetivos.

A COP30, que acontece em novembro em Belém do Pará, marca 10 anos do Acordo de Paris e servirá como um balanço da cooperação coletiva para estabilizar o aquecimento global em 1,5°C acima da média pré-industrial.

Mas a única obrigação dos países é apresentar NDCs a cada cinco anos. Não há penalidades caso as promessas não sejam cumpridas. E os sinais indicam que os Estados Unidos precisarão ir além do que fazem hoje – e do bilionário pacote verde de Biden – para atingir seus objetivos.

Um estudo realizado pela consultoria especializada Rhodium Group aponta que, na trajetória atual, o país deve chegar a uma redução de 32% a 43% em 2030, muito aquém do que diz sua NDC.

E esses números estão sujeitos a mudanças drásticas caso a agência ambiental americana derrube requisitos de controle de poluição de veículos e indústrias e se Trump acabar com alguns programas do Inflation Reduction Act, como é conhecido o pacote de subsídios para a transição energética do governo Biden.

O comportamento dos chamados atores não-nacionais, aqueles que não são representados oficialmente na Convenção do Clima, será decisivo para que os Estados Unidos continuem fazendo parte do esforço global.

Uma coalizão bipartidária de 24 governadores anunciou nesta quinta-feira que “esse novo objetivo coletivo [de reduções] será nossa estrela guia”. Os 24 Estados que fazem parte da iniciativa representam 54% da população e 57% da economia.

Embora não sejam vinculantes e precisem sem traduzidas em ações e planos na economia real, as NDCs são um sinal político importante. Uma das missões autodeclaradas da presidência brasileira da COP é “liderar pelo exemplo” e levar os outros países a apresentar compromissos em linha com o 1,5°C.

Em seu novo plano, o Brasil se comprometeu a cortar suas emissões entre 59% e 67% até 2035, na comparação com os níveis de 2005. O Reino Unido também já divulgou sua NDC, prometendo uma redução de 81% na comparação com 1990.

Um dos números mais esperados é o da China, de longe o maior emissor do mundo hoje e o segundo maior em termos históricos, atrás somente dos Estados Unidos.