Cerca de 70% dos micro e pequenos empreendedores brasileiros estão dispostos a investir em práticas mais sustentáveis para seus negócios. O dado é de um estudo divulgado esta semana pelo fundo de investimento Estímulo, realizado em parceria com a consultoria Roda Ambiental.
Nascido no primeiro ano da pandemia para prestar auxílio financeiro e evitar fechamentos e demissões em micro e pequenas empresas (MPEs), o Estímulo migrou para um modelo de blended finance e hoje une doações e investimentos de impacto.
Nestes quatro anos de atividade, o fundo aportou mais de R$ 232 milhões em apoio financeiro a cerca de 3,9 mil empreendedores. Inicialmente de perfil emergencial, ele agora parte para uma nova atuação, com um recém-criado braço batizado de Estímulo Verde.
Seu objetivo é proporcionar às MPEs a oportunidade de iniciar uma jornada ESG. “Oferecemos redução na taxa de juros – que atualmente parte de 1,39% ao mês – para negócios que aderem a alguma das ações que priorizamos, comprovando seus resultados positivos”, diz Vinicius Poit, CEO do fundo. O desconto inicial sobre a taxa é de 10%.
As ações são divididas em cinco áreas: energia verde, reciclagem, combate ao desperdício, embalagens sustentáveis e neutralização de carbono.
Segundo o estudo, as principais barreiras que distanciam micro e pequenos empreendedores de soluções mais sustentáveis são:
- Ausência de linhas de crédito especiais para ESG;
- Falta de conhecimento para mapear, implantar e monitorar essas estratégias;
- Poucos exemplos de ESG na prática;
- Dificuldade de encontrar soluções voltadas à realidade do pequeno negócio.
“Eles enfrentam um cenário muito diferente do das grandes corporações e precisam de um pacote simplificado e completo, que traga benefícios financeiros de curto prazo além do impacto positivo para o meio ambiente”, diz Poit.
A oferta desenhada pela Estímulo abrange, além do crédito facilitado e mais barato, educação personalizada, acesso a uma rede de investidores e a uma comunidade de outros pequenos empreendedores que também decidiram trilhar a jornada ESG.
As empresas podem usar ferramentas online disponíveis no site da Estímulo. Mas um dos hits entre os empreendedores é – adivinhe – o WhatsApp.
“Criamos um grande grupo para trocar informação e experiências. É o melhor lugar para tirar dúvidas com agilidade, e também enviamos por lá diversos conteúdos produzidos em parceria com Sebrae, Google, Meta e Fundação Roberto Marinho.”
Sede de renováveis
A pesquisa da Estímulo foi realizada com 530 negócios dos 137 mil inscritos em sua base. Ela identifica em que estágio as companhias estão em relação às estratégias ESG e em quais ações topariam investir para gerar impactos positivos.
O levantamento apontou algumas atividades que as MPEs já realizam: 56% tomam alguma medida para combater o desperdício; 50% fazem algum tipo de reciclagem e 8%, de compostagem de resíduos; 39% usam embalagens e 31% selecionam fornecedores mais sustentáveis; 18% utilizam energia de fonte renovável e 7% neutralizam sua emissão de CO2.
Quando questionadas quais ações gostariam de promover, a mais citada foi o uso de energia de fontes renováveis (45%). Cerca de 18% ainda não utilizam nenhuma medida sustentável.
A partir dos resultados, o fundo foi em busca de parceiros capazes de oferecer aos negócios soluções de baixo custo, escaláveis e de fácil adoção e execução.
“Outro fator importante na escolha dos parceiros foi a necessidade de auditá-los, para que o impacto dos negócios pudesse ser mensurado com transparência”, explica Lucas Conrado, Head Jurídico e de Relações Institucionais do fundo.
Base da pirâmide
A ideia da criação do braço Estímulo Verde nasceu da negociação do fundo com alguns novos investidores. “Queríamos partir para a agenda ESG e, quando pensamos em soluções verdes, de início imaginamos atuar na Amazônia”, diz Poit.
“Em um papo com Marco Kelson [diretor do ICCI, Instituto Cultura, Comunicação e Incidência, e investidor de ativos alinhados à questão climática], ele nos alertou sobre as especificidades do mercado de investimento na região amazônica, e deu a ideia de seguirmos no nicho que já conhecíamos bem, de micro e pequenos negócios.”
“Ali começamos a estudar o desconto na taxa de juros para o empreendedor que cumprisse algum compromisso ambiental”, conta Conrado. “Percebemos a importância de atuar na base da pirâmide.”
Até aqui, o principal interesse dos negócios que procuram a Estímulo Verde é em energia solar. “Certamente porque contratar energia renovável traz resultado rápido e direto, é revertido imediatamente em um valor mais baixo de conta de luz.”
As parceiras do fundo nesta ação são a Genial, a Serena e a Lemon – as três oferecem energia renovável por meio de assinatura simplificada e prometem economia de 15% a 40% nas contas. “Elas nos fornecem relatórios mensais com todos os indicadores de consumo e economia energética das empresas que fecharam contrato via Estimulo”, explica Poit. “E a partir desses números calculamos os descontos nas taxas de juros.”
O processo é bastante simples. O empreendedor fornece sua conta de luz, e então o fundo e a empresa parceira de energia solar assumem toda a implementação. “O seu Eufrásio de Souza, da Espetinhos SP, por exemplo, toca a cozinha, emite notas fiscais e faz compras. Ele não pode parar o trabalho para pensar em sustentabilidade, para fazer acontecer”, diz o CEO.
Para Poit, se por um lado os pequenos negócios têm uma agenda e uma cultura ESG menos consolidadas, por outro têm uma vantagem importante sobre as grandes empresas: agilidade nas decisões.
“Há um grande trabalho ainda para conscientizar esses empreendedores, mas o potencial de gerar e pulverizar impactos é enorme”, diz ele. “Segundo dados do Sebrae, MPEs são os maiores geradores de empregos do país. Se essa turma tiver consciência e oportunidades, a mudança virá. Para os negócios e para o planeta.”