Duas das casas mais vocais no mercado de investimentos sustentáveis no Brasil, a Fama, de Fabio Alperowitch, e a Gaia, de João Paulo Pacífico, estão fazendo uma parceria para atrair capital em direção a soluções climáticas no país. O foco é principalmente o investidor de varejo.
Uma iniciativa lançada hoje, chamada de Movimento Clima 2030, quer conectar investidores que querem aplicar seu dinheiro de forma alinhada a seus propósitos com projetos que demandam recursos, mas que hoje não são atendidos pelo sistema financeiro tradicional.
“Queremos fazer o dinheiro chegar na ponta, para as pessoas que realmente se importam e lutam pela conservação e preservação”, diz Pacífico, fundador da Gaia.
Mais do que financiar climate techs ou grandes iniciativas tecnológicas, o plano é direcionar recursos para comunidades indígenas, quilombolas, catadores de lixo, cooperativas agrícolas e agricultura familiar. Iniciativas de agrofloresta, restauração e bioeconomia também estão no radar.
“Estamos em estado de emergência quando falamos de mudanças climáticas e são essas comunidades que realmente cuidam do planeta”, diz Alperowitch, sócio da gestora de recursos Fama.
As duas instituições devem lançar produtos financeiros específicos, mas ainda não dão detalhes sobre os planos.
Num primeiro momento, a ideia é, por meio do site e das redes sociais — onde Alperowitch e Pacífico são bastante ativos —, sensibilizar o público para a necessidade de avaliar melhor o impacto gerado pelo seu dinheiro.
“O investidor de varejo é mais sensível sobre o impacto do seu dinheiro do que boa parte dos grandes gestores de recursos”, diz Pacífico. Segundo ele, no banco de dados da Gaia, há mais de 9 mil pessoas cadastradas para entender melhor sobre investimentos de impacto.
Outro foco é dar voz a projetos e comunidades que hoje são pouco ouvidos no debate climático, trazendo diversidade e representatividade para a pauta. “Só quem está na ponta sabe quais são os desafios, e precisamos ouvi-los e fazer essas vozes chegarem ao potencial investidor, de uma forma clara e didática”, diz Alperowitch.
Segundo eles, já está mais que provado que é possível fazer produtos financeiros de impacto com retorno “decente” quando comparados a alternativas de renda fixa tradicional dos bancos, como CDBs – que não raro rendem menos que o CDI.
Complementariedade
O movimento une duas instituições com competências complementares.
Fundada há 14 anos, a Gaia já estruturou mais de R$ 20 bilhões em operações no mercado financeiro brasileiro. Há um ano, Pacífico vendeu o braço de operações tradicionais e passou a atuar apenas com investimentos de impacto social e ambiental.
Entre elas, fez um CRA emblemático, para cooperativas agrícolas associadas ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Entre os exemplos da sua atuação, está uma operação voltada a financiar pequenos produtores de cacau na Bahia e outra, que incentiva bioeconomia e restauração florestal, subscrita na sua maior parte pelo banco Santander.
Já a Fama não origina operações, mas tem a expertise de gestora de fundos. O carro-chefe sempre foi um fundo de ações voltado para grandes empresas listadas, que busca teses de alta qualidade para investimento de longo prazo – e que, ao longo dos últimos anos, refinou bastante sua tese em ESG.
A parceria com a Gaia vem num momento em que a Fama está reformulando sua estratégia e ampliando o leque para novos produtos, incluindo um fundo de ativismo climático para investir em empresas “ofensoras do clima” e pressioná-las por mudanças, além da entrada em renda fixa.