Centenas de novas licenças para a exploração de petróleo e gás no Mar do Norte serão emitidas pelo Reino Unido, anunciou o governo britânico nesta segunda-feira. Ao menos cem delas devem ser alocadas já no próximo outono, entre setembro e dezembro.
O premiê Rishi Sunak defende que a exploração é “vital” para fortalecer a segurança energética do país.
Entidades ambientalistas afirmam que a decisão representa a “demolição” dos compromissos climáticos do país. Desde a COP26, conferência do clima realizada em 2021 em Glasgow, o país vinha tentando se posicionar como um dos líderes da transição para uma economia de baixo carbono.
Sunak afirmou não haver contradição entre mais produção de petróleo e a meta de descarbonização do país. “Mesmo quando chegarmos ao net zero em 2050, um quarto de toda a nossa energia precisará vir de petróleo e gás. Mas há quem prefira que venha de Estados hostis aos suprimentos que temos em casa”, disse o premiê em comunicado.
O comentário foi uma referência à dependência da importação de combustíveis fósseis da Rússia. A guerra na Ucrânia obrigou o governo do país a lançar um programa bilionário de subsídios para as contas de energia dos britânicos.
A decisão de Sunak desagradou a alguns de seus aliados conservadores, que temem repercussões políticas negativas caso o partido seja responsabilizado por eventuais retrocessos na agenda do clima.
A situação tem semelhanças com a disputa política em torno da exploração de petróleo na foz do Amazonas. A decisão do Ibama de negar à Petrobras em maio a autorização para estudos exploratórios desagradou a uma parte dos apoiadores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A Petrobras já recorreu da decisão junto ao órgão ambiental, e informações de bastidores publicadas desde então indicam que o Ministério das Minas e Energia não desistiu do projeto e segue fazendo pressão para que ele seja aprovado.
Captura de carbono
Uma das justificativas apresentadas pelo governo britânico para liberar mais produção no Mar do Norte é que a bacia já ultrapassou seu pico e está ficando sem hidrocarbonetos, disse o ministro de Energia, Grant Shapps, ao jornal britânico Financial Times semana passada.
Sunak também anunciou financiamento público para dois novos projetos de captura, armazenamento e utilização de carbono (CCUS) e comprometeu-se a fornecer £ 20 bilhões para desenvolver a tecnologia, que ainda não é aplicada em grande escala em nenhuma parte do mundo.
Capturar na fonte as emissões de CO2, seja de indústrias ou de atividades como o refino de petróleo, é um dos pontos centrais da estratégia net zero do Reino Unido.
Mas executivos dessa nascente indústria afirmam que é preciso fazer mais e mais rápido, ou o país não vai atingir a meta anunciada de capturar anualmente entre 20 milhões e 30 milhões de toneladas de CO2 até o fim da década.