A Alemanha anunciou hoje uma revisão de sua política nacional de hidrogênio. A meta de produção interna dobrou, mas ainda assim o país terá de importar cerca de dois terços do combustível até o fim da década para manter seus objetivos de descarbonização, o que pode gerar grandes oportunidades para o Brasil.
Uma estratégia dedicada à importação “para diversificar os canais e evitar dependências” está em desenvolvimento.
Em visita ao Brasil em janeiro, o primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz, discutiu o fornecimento de hidrogênio verde com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O Brasil tem mais de 20 projetos em estudo para produção de hidrogênio voltado ao mercado externo, mas até aqui nenhum de grande escala recebeu decisão final de investimento.
A Alemanha incentiva com recursos financeiros e técnicos projetos de produção de hidrogênio em países como Noruega, Emirados Árabes Unidos e Canadá, além de várias iniciativas na África. A primeira planta de grande escala do continente está em construção no Marrocos.
Setores importantes da economia alemã, como siderurgia e indústria química, dependem do hidrogênio para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa. O país se comprometeu a atingir o net zero em 2045.
A rota tecnológica mais promissora para obter grandes volumes de hidrogênio de baixas emissões é a eletrólise da molécula da água. Para isso são necessárias enormes quantidades de energia renovável.
A Alemanha não tem nem as áreas livres nem o sol ou o vento necessários para suprir com energia limpa os eletrolisadores, como são chamados os equipamentos que separam os átomos de água e hidrogênio da água.
A expectativa é que o país precise de 30 GW de renováveis para dar conta da demanda por hidrogênio no fim da década. Isso é mais que o dobro do aumento da capacidade instalada brasileira entre 2021 e 2022 (de 161 GW para 175 GW).
Cadeia completa
Para garantir esse fornecimento, a Alemanha vai se posicionar não só como compradora. “O desenvolvimento do mercado do hidrogênio, seus derivados e das tecnologias para sua aplicação serão acelerados de forma significativa e ao longo de toda a cadeia”, afirmou o governo alemão em comunicado.
O objetivo é tornar o país o líder em tecnologias ligadas à fonte energética, incluindo células de combustível para veículos e redes de abastecimento.
Além de vender produtos e serviços made in Germany, o plano também leva em conta necessidades do Sul Global, disse Svenja Schulze, ministra de Cooperação e Desenvolvimento Econômico.
“A mensagem para nossos países parceiros é: não queremos só uma oferta confiável, também queremos que as cadeias produtivas do hidrogênio gerem desenvolvimento sustentável”, afirmou Schulze
A estratégia também prevê um papel para o chamado hidrogênio azul, nome dado ao gás produzido a partir do gás natural e cujo CO2 é capturado.